«Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus (…) Deus é Amor (…) No amor não há temor, antes, o perfeito amor lança fora o temor»…
I João 4. 7a,8b e 18
Há dias, ouvi um médico de renome falar dos desafios na medicina, onde é preciso estar pronto para o que for preciso fazer. E completava dizendo mais ou menos o que se segue: «a medicina é isso; peito aberto e, se Deus nos dá uma ajuda, nós damos-lhe uma ajudinha também».
Em texto anterior, eu propunha o desafio de vivermos todas as oportunidades de estarmos com o coração naquilo a que somos chamados a fazer: no ouvir, no falar, trabalhando pela justiça – juntos, quando possível, sendo reconhecidos como seguidores de Jesus Cristo pelo nosso amor… Nós, que nos chamamos irmãos…
Procurando as imagens interiores em mim -- e ao ler também os textos que me antecederam - dou comigo a pensar no amor e nos seus desafios, em ser vigilante, no sentido desse «peito aberto» para tarefas e atitudes a que somos chamados/as, agindo com o coração. E o agir com o coração, fez-me lembrar ainda da familiaridade que a palavra coragem e coração possuem, em várias línguas. Coragem, não como acto extraordinário mas como prontidão, abertura, presença de espírito. Presença do Espírito.
Procurando essas imagens interiores para uma autêntica partilha, dou-me conta de que os desafios a que respondi nos últimos tempos, levaram-me a buscar uma certa inspiração onde havia plasticidade, flexibilidade. Qualidades estas, como resposta à altura do tempo em que vivo e da dignidade das pessoas que encontro.
Dito de outro modo, busquei inspiração onde a minha «referência central, Jesus Cristo», âncora segura em mar bravio, fosse também aquele que chama amorosamente os seus para a liberdade, para uma vida com sentido, plena em sua expressão.
Este par de opostos que muitos não compreendem – a âncora segura e o chamamento à libertação –, foi-nos oferecido, e relembrámos neste Domingo de Páscoa, com renovado compromisso.
A centralidade do Amor nos gestos Jesus Cristo, capacita-nos a Ser em novidade de vida, plena em liberdade. Não é esta a tarefa do perfeito amor? Lançar fora o medo, libertar, acolher, curar, dar direcção, capacitar, propagar os seus dons, de modo a possibilitar o Reino…
Vivendo já agora como ressuscitadas e ressuscitados, que possamos atrevermo-nos a viver por amor, onde nada há a temer. Pois o Senhor em que cremos e que nos une como irmãos, Ele mesmo é Amor.
Ana Cristina Aço
Nasceu em 1961, viúva, mãe de três filhos. Metodista, mas de uma família protestante com muitos ramos, onde o trabalho missionário e pastoral, a abertura ecuménica e a preocupação com libertação de tudo o que oprime o ser humano, tem sido inspirador de sentido. Desde Janeiro de 2010, assume o trabalho pastoral em duas comunidades no centro do país.
Ilustração: The Love Embrace of the Universe, Frida Kahlo
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