mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
II.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.
III.
às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.
IV.
lê isto: mãe, amo-te.
V.
eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
2 comentários:
Olá querido Amigo!
Há um presente no meu blog que quero partilhar consigo... dessa forma quero que participe da minha alegria... se o desejar leve-o... ficaria muito feliz...!!!
Um beijo.
Alma Inquieta
Estas palavras do José Luís Peixoto são um pouco "as palavras que nunca te direi". Nem que seja no silêncio porque nem todos a temos, honremos a nossa Mãe
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