O trabalho não pode ser apenas uma ocupação ou um simples emprego para ocupar tempo e ganhar dinheiro. E ainda não se pode reduzir o trabalho à frase redutora que muitos frequentemente utilizam: «procuro um emprego, mas não procuro trabalho». Nesta frase está contido um negativismo atroz e ela encerra o tipo de sociedade que os homens actuais teimam em construir. A sociedade do lucro fácil sobre a baixa produtividade.
Por um lado, a frase em causa contém dois aspectos terríveis sobre a forma como muitos dos nossos semelhantes vêem o trabalho humano. Em primeiro lugar, nela está contida a ideia de que com o emprego consigo dinheiro para gastar o quanto a sociedade materialista e capitalista me pedir. Em segundo lugar, recuso o trabalho, porque não quero fazer nada de produtivo em favor da sociedade nem estou para me gastar com essas babuseiras de realização pessoal. Esta é morte fatal do verdadeiro sentido do trabalho humano.
Por outro, é preciso antes pensar de forma mais positiva. Não podemos ficar com esta perspectiva redutora sobre o trabalho humano. O trabalho visto num sentido positivo, que é a única forma como devia ser sempre encarado, é o caminho mais autêntico de realização humana. A vida de cada pessoa não se realiza com plena dignidade se o trabalho não existir.
A sociedade portuguesa está a ser confrontada com a proposta do governo que visa alterar o tempo de trabalho diário com mais meia hora e com o fim de quatro feriados, dois civis e dois religiosos. Por isso, está em curso entre nós um debate sem precedentes sobre esta matéria. Ainda bem que assim é. No entanto, seria útil que sobressaísse o verdadeiro debate e que os simples slogans, os interesses partidários, as investidas pelo poder e os interesses instalados não sejam pretexto para reduzir a reflexão a estridente ruído.
O trabalho realiza a pessoa humana e confere-lhe uma utilidade inalienável. Assim, preciso lembrar novamente o princípio de que a economia está ao serviço do homem e não o homem ao serviço da economia, como parecem entender algumas empresas, os governos e as multinacionais cujo o horizonte radica exclusivamente no lucro. A necessidade de produzir cada vez mais e melhor, não pode subjugar a pessoa humana a uma simples força de trabalho, tão bem ilustrada por Charlie Chaplim, no seu magnífico «Tempos Modernos».
A competitividade (a produção ou rendimento), condição essencial do progresso e do desenvolvimento, deve ser respeitadora da dignidade humana a todos os níveis. Para que tal diálogo se estabeleça com rentabilidade para todos, deve a lei prever mecanismos de interacção entre todos os interessados no trabalho humano. As empresas não podem desejar a produtividade se não estão em diálogo permanente com os seus trabalhadores nem podem somar a sua produtividade se não fomentam o real e efectivo cumprimento dos direitos e dos deveres.
JLR
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