Domingo II Tempo do Advento
4 de Dezembro de 2011
João Baptista, é uma figura do Advento, que considero muito interessante. Pois, a ele cabe anunciar o que há-de vir, «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas». Neste sentido, apresenta-se despojado das coisas deste mundo, para melhor proclamar nos desertos da injustiça a verdade da salvação e anunciar profeticamente a realidade que porá fim ao domínio dos poderosos sobre os mais fracos deste mundo. A sua acção reveste-se de uma actualidade impressionante.
Assim, somos levados a pensar deste modo. Não vale ser muito religioso dentro da Igreja e quando se reza, e na vida concreta ser irresponsável e indiferente às circunstâncias que nos rodeiam. Uma pessoa que procura ser praticante da sua religião, mas que é incapaz de ser sério no seu trabalho, incapaz de assumir a sua vida familiar, incapaz de se manter fiel aos compromissos, incapaz de ajudar um irmão, incapaz de viver o sentido da justiça fraterna, incapaz de promover a paz à sua volta… não podemos dizer que esta pessoa vive com verdade a sua religiosidade. Quem não for capaz de mediante a sua escolha religiosa manter e fazer surgir a paz, o amor e a partilha onde quer que haja deserto de egoísmo e injustiça, não vive de acordo com a religião encarnada na vida concreta que Jesus nos propõe. Por isso, «Não se pode ser cristão ao domingo e político pagão à semana. A relação activa da Igreja com a Política joga-se à semana e ao domingo na prática diária dos cristãos». - Frei Bento Domingues, in Púlico, 27/11/2011.
Mas para ajudar a compreender melhor a mensagem, Lucas apresenta-nos esta pessoa, figura essencial do Advento, João Baptista: «A palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto». São as mesmas palavras com que no Antigo Testamento é apresentada a vocação dos grandes profetas (Cf. Jer 1, 1.4).
João Baptista é um sinal muito forte de que Deus nunca se esquece dos homens e que apenas aguarda por uma ocasião propícia para fazer acontecer a sua vontade. João é aquele que vem à frente proclamar a chegada do Messias. Este é aquele de quem diz o profeta Isaías o seguinte: «Uma voz clama no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus» (Cf. Isaías 40, 1-5.9-11).
Tudo começa no deserto, esse lugar sem sentido, porque faz abundar a fome e a sede, mas também pode ser um lugar de discernimento da luz de Deus, que convida para a acção e nos revela caminhos para a vida. Os desertos actuais, são os lugares da doença, do egoísmo, do ódio, da guerra, dos vícios, que provocam sofrimento, dor e abandono. Estas são as farturas geradas pela frieza do coração humano. Mas nesses momentos de deserto, que ninguém está livre de atravessar, pode em qualquer momento descobrir a presença afectiva de Deus que propõe outro modo de vida e outros caminhos que nos conduzam à felicidade. É este abraço que João Baptista proclama e que Deus se converterá de forma afectiva no «abraço de Deus à História» (expressão do grande Teólogo Urs Von Balthasar). E como anuncia lucidamente São Pedro na sua Epístola, sejamos, então, «carne» desperta para este «abraço» para que sejamos capazes de criar «os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça».
JLR
2 comentários:
Padre José Luís que lindo texto que a todos nos interpela e nos interroga PERANTE ESTE MUNDO DE TAMANHAS INJUSTIÇAS E DESIGUALDADES. Jesus veio nesse tal Advento de esperas e de vigilâncias contínuas. O cristão é,por excelência, o homem e mulher que aguarda sp o Melhor e desafia o pior dos pessimismos, muitas vezes com as fragilidades provenientes de doenças incuráveis. Já assisti a pessoas minhas amigas, contaminadas por cancrose, que quem os visitava nos seus leitos de dor, elas ostentavam sp uma alegria, uma eesperança inexorável de viver. À mínima picada somos tardos a aceitar uma fé que não nos vacila e rápidos em desesperos que não nos levam a nada. Caimos muitas vezes num niilismo totalmente vazio e oco. Ora, João Baptista, apesar de rude e austero, foi inegavelmente o que apontou-nos o "Caminho, a Verdade e a Vida" que é Cristo, Senhor Nosso e nosso Unico Salvador e Redentor. Nestes tempos conturbados de incertezas saibamos interpretar a grande personalidade de Homem valente , audaz , destemido , sempre pronto a enfrentar a Verdade e a defendê-la mesmo quando Herodes mandou-o decapitar.Desafiou sp o poder em nome de DEUS, da Metanóia e da conversão. Ser cristão não é fácil.Não é pertencer a uma associação de caridades que esmolando os pobres temos o "ceu garantido". Ser cristão tal como nos fala o Baptista é acreditar que o Reino está próximo na implantação da justiça e do amor com base no perdão. Foram os santos e santas os nossos e nossas testemunhas dessas Verdades Eternas. Vem, Senhor e dai-nos esperança num mundo melhor.
Muito belo o seu comentário amigo e irmão Ângelo. Um abraço fraterno.
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