Nunca se falou tanto nestes termos como agora. Vem a
propósito da campanha para eleger o futuro líder do PPD-PSD da Madeira.
Neste contexto estão na praça estes termos como
nunca se viu. Pelo meio, consequentemente, vemos e ouvimos outros termos como «traição»
e «gratidão», entre outros… Que manifestam o quanto somos pequeninos e como
estamos muito longe do que é viver numa democracia a sério.
Gosto das palavras que fazem o título deste texto e
que andam de boca em boca. Um pede apoios em nome da «fidelidade e lealdade»,
outros declaram-se apoiantes também sob a auréola destes dois termos não se
importando em trair alguma coisa ou alguém. A sacrossanta «fidelidade e
lealdade», pode muito bem com este sacrifício. Que as urtigas recebam
companheiros, alguma memória, alguma rebeldia do passado, entre outras coisas
que nem precisamos de referir neste espaço. E lá vamos todos ao som desta dança
que deram o nome de «fidelidade e lealdade».
Mas, salta-me ao pensamento que poderia ser mais
útil, que ao invés de haver tanta fidelidade e lealdade a uma pessoa ou a um
projecto pessoal, poderia ser interessante esta bendita jaculatória ser
invocada em relação ao povo. Seria tão bonito que a fidelidade e a lealdade
fossem propaladas em para o bem comum, para a justiça e para todos os valores
que viessem resolver as desgraças que algumas famílias estão a passar. Que tal
ser fiel e leal a projectos que nos façam sair da fatalidade da crise? Que tal
ser fiel e leal a projectos que ponham fim ao compadrio e à corrupção onde
estão mergulhados os poderes que nos governam ou desgovernam para se fiel e
leal à realidade? Que tal ser fiel e leal a planos que venham a por fim ao
drama do desemprego que está a condenar imensas famílias à fome e à desestruturação
porque têm que deixar a sua pátria – voltou em força a emigração?
O suicídio, que resulta do desespero, a que está votada
uma grande parte das nossas gentes, está a tornar-se insuportável e ninguém
neste momento sabe qual o número exacto de suicídios que estão acontecer entre
nós. Um drama horrível…
Esta mania que nos assiste de que devemos ser uns privilegiados
ou agraciados com todo o tipo de mordomias depois de ter sido feito o que
devíamos fazer e ainda para mais, quem se pagou e bem com os nossos impostos,
revela terceiro mundismo e roça a infantilidade patética. Neste sentido, isto
que estamos a assistir é uma vergonha. Por um lado, uns que acham que devem ganhar
porque deram muito. Então chegou o momento de receberem a devida recompensa ao
abrigo da fidelidade e da lealdade. Por outro, outros, embarcam infantilmente
neste esquema de uma forma tão passiva e tão cândida que nos faz sorrir com
elevada pena. O tacho e a segurança da carreira antes de tudo. Uma dor de alma,
esta forma tão interesseira de fazer «vida pública», sobretudo, vindo de gente
que nos habituou a uns certos laivos de independência, pensamento próprio e
vontade própria. Essa pseudo-irreverência, afinal, redundou num flop. Fogo-de-vista
como gosta a Madeira.
No fim, está como sempre o povo, que só precisa de
fidelidade e lealdade nas campanhas eleitorais para pedir-se o voto, longe de
qualquer esclarecimento e consciência, porque o voto também se deve converter
em instrumento de fidelidade e lealdade (quem não se lembra do «ajudei, ajudem-se…» e daquela outra horrível que era dita nas igrejas nos períodos de campanha: «é preciso votar naquele quem tem as setinhas voltadas para o céu»?).
As próximas eleições poderão ser, quem sabe, «estou no fim, por isso, dêem-me o
prémio», o trofeu da lealdade e da fidelidade. A tudo isto chamo de terceiro
mundismo e democracia primária, manipulada emocionalmente. O que choca não é
tanto existir esta forma de estar na sociedade, na vida e na política, parvoíces
deste género sempre existiram, pior e chocante é existir pessoas, um povo que
embarca nesta cantiga absurda.
Face a esta luta de galos, chegou o momento de
percebermos como funcionam as coisas, como andam uns senhores agarrados ao
poder como uma lapa agarrada à rocha. Chegou o tempo de não ter medo de mudar e
de se fazer opções conscientes que sejam benéfica para todos. Não devemos nada
a ninguém nem muito menos temos nada que se fiéis e leais a quem foi eleito
para cumprir o seu dever e que se pagou a peso de ouro para fazer o que fez. A
democracia é cara, por isso, o nosso trabalho convertido em impostos manifesta
a gratidão que todos aqueles que se propõem governar recebem em salários e
todas as mordomias que o poder lhes confere. Não se acheguem com essa treta da
fidelidade e da lealdade, porque, está mais que agraciado o vosso trabalho. Já
vos pagamos com impostos e todos estes apertos financeiros para que vossas excelências
se pavoneiem nos corredores do poder com toda a pompa e circunstância
Por isso, está a tornar-se insuportável a linguagem
que a luta de galos está a utilizar neste momento, só esperamos que ela depois
não seja transposta para as eleições gerais. Mas, tememos seriamente que este
seja apenas um ensaio para o que virá depois. Oxalá nos enganemos!
1 comentário:
São palavras lindas mas nem todos as conhecem, nem sabem o que significam...!
Embora seja fácil saber, basta procurar num dicionário "antigo", não sei se os modernos trazem o que significam. É natural que não.
Passaram de moda.
Triste vida!
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