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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A universalidade da salvação de Deus

Comentário à missa deste domingo XX do Tempo Comum, 17 agosto de 2014
A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflecte sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino. Até podemos a partir daqui definir com toda a verdade que «cada pessoa é sacramento de Deus» independentemente da sua cor de pele, da sua cultura e extracto social. Toda a criatura humana é criada à imagem e semelhança de Deus. É Seu sacramento. E não há outro sacramento que possa ser mais importante do que este e que supere este.
Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel, destina-se a toda a humanidade que aceitar o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus. Por aqui o Papa Francisco apresenta-nos qual é a vontade de Deus. Reparemos: «Tenho uma certeza dogmática: Deus está na vida de cada pessoa. Deus está na vida de cada um. Mesmo se a vida de uma pessoa foi um desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela droga ou por qualquer outra coisa, Deus está na sua vida. Pode-se e deve-se procurar na vida humana. Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus».
O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem excepção. Num primeiro momento parece-nos que Jesus revela alguma dureza contra a mulher que lhe pede ajuda, porém, mesmo que o pão dos filhos não seja para os cães, perante o coração que se abre à grandeza do amor de Deus mediante o dom da fé, nada pode travar a gratuidade da salvação de Deus. Os judeus do tempo de Jesus consideravam os cananeus como reles cães. A lição de Jesus parece ter em linha de conta esse pressuposto para o rebater e levar a pensar que o desejo da salvação de Deus é universal.
Na segunda leitura temos mais uma sugestão de universalidade, a misericórdia de Deus derrama-se sobre todos sem excepção, mesmo sobre aqueles que, tantas vezes rejeitam as suas propostas. Melhor do que ninguém Deus respeita sempre as opções de cada pessoa, que as deve fazer mediante a sua liberdade e responsabilidade. Deus não interfere naquilo que cada um escolhe para si em cada momento da vida. Porém, nunca desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas para o acolhimento da salvação que Ele quer oferecer.
Em conclusão, esta liturgia vem dizer-nos que tantas vezes deixamos que nos domine o narcisismo e a mania de que a verdade está só e apenas em nós. Nada disso. Há verdade e erro na verdade que anda em todas as pessoas. Nada e sempre totalmente verdade e nada é também sempre totalmente errado. É preciso sabermos fazer o devido discernimento, para que não nos domine a soberba e a arrogância. Devemos sim respeitarmo-nos na diversidade e nunca permitir que Deus seja apropriado por nenhuma tendência, por nenhum grupo, por nenhuma ideologia, por nenhuma corrente mais tradicionalista ou mais progressista… Deus é e ponto final está com todos e para todos em todos os tempos.

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