Comentário à missa deste domingo XX do Tempo Comum, 17 agosto de 2014
A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum
reflecte sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e
a todos convida para o banquete do Reino. Até podemos a partir daqui definir
com toda a verdade que «cada pessoa é sacramento de Deus» independentemente da
sua cor de pele, da sua cultura e extracto social. Toda a criatura humana é
criada à imagem e semelhança de Deus. É Seu sacramento. E não há outro
sacramento que possa ser mais importante do que este e que supere este.
Na primeira leitura, Jahwéh garante ao
seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a
salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel,
destina-se a toda a humanidade que aceitar o convite para integrar a comunidade
do Povo de Deus. Por aqui o Papa Francisco apresenta-nos qual é a vontade de
Deus. Reparemos: «Tenho uma certeza dogmática: Deus está na vida de cada
pessoa. Deus está na vida de cada um. Mesmo se a vida de uma pessoa foi um
desastre, se se encontra destruída pelos vícios, pela droga ou por qualquer
outra coisa, Deus está na sua vida. Pode-se e deve-se procurar na vida humana.
Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas,
há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus».
O Evangelho apresenta a realização da
profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus,
depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua
proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos
de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus
oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e
mulheres, sem excepção. Num primeiro momento parece-nos que Jesus revela alguma
dureza contra a mulher que lhe pede ajuda, porém, mesmo que o pão dos filhos
não seja para os cães, perante o coração que se abre à grandeza do amor de Deus
mediante o dom da fé, nada pode travar a gratuidade da salvação de Deus. Os judeus
do tempo de Jesus consideravam os cananeus como reles cães. A lição de Jesus
parece ter em linha de conta esse pressuposto para o rebater e levar a pensar
que o desejo da salvação de Deus é universal.
Na segunda leitura temos mais uma
sugestão de universalidade, a misericórdia de Deus derrama-se sobre todos sem excepção,
mesmo sobre aqueles que, tantas vezes rejeitam as suas propostas. Melhor do que
ninguém Deus respeita sempre as opções de cada pessoa, que as deve fazer
mediante a sua liberdade e responsabilidade. Deus não interfere naquilo que cada
um escolhe para si em cada momento da vida. Porém, nunca desiste de propor, em
todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas para o
acolhimento da salvação que Ele quer oferecer.
Em conclusão, esta liturgia vem
dizer-nos que tantas vezes deixamos que nos domine o narcisismo e a mania de
que a verdade está só e apenas em nós. Nada disso. Há verdade e erro na verdade
que anda em todas as pessoas. Nada e sempre totalmente verdade e nada é também
sempre totalmente errado. É preciso sabermos fazer o devido discernimento, para
que não nos domine a soberba e a arrogância. Devemos sim respeitarmo-nos na
diversidade e nunca permitir que Deus seja apropriado por nenhuma tendência,
por nenhum grupo, por nenhuma ideologia, por nenhuma corrente mais
tradicionalista ou mais progressista… Deus é e ponto final está com todos e para
todos em todos os tempos.
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