Comentário à missa do domingo de
Pentecostes, 24 de maio de 2015
A
origem do Pentecostes está intimamente ligada à Páscoa, celebrando-se sete
semanas depois da Páscoa, quer dizer, no 50º dia após a Páscoa e, por isso, a
tradução grega chamou-lhe Festa do Pentecostes ou festa do Quinquagésimo Dia.
No
Antigo Testamento hebraico era designada festa das (sete) Semanas. Era a festa
da colheita do trigo, enquanto a da Páscoa era a das primícias da cevada.
"Depois, contarás sete semanas, a partir do momento em que começares a
meter a foice nas searas. Celebrarás então, a Festa das Semanas, em honra do
Senhor." (Dt 16,10-12).
Inicialmente,
tal como a Páscoa, o Pentecostes ligava-se à fertilidade dos campos. Com a
história de Israel passou a ligar-se ao dom da Lei no monte Sinai, daí os rabinos
lhe chamarem a Festa do Dom da Lei (mattan Torá).
No
tempo da primeira comunidade cristã, Jesus enviou o Seu Espírito (o Espírito
Santo) precisamente na semana em que se celebrava a festa do Pentecostes. A
descida do Espírito sobre os Apóstolos aconteceu no meio de fenómenos
semelhantes à "descida" da Lei no monte Sinai, com o ruído de
trovões, o fogo dos relâmpagos, fumo, sismo (Act. 2,1-4 e Ex 19,16-19). O
Espírito de Jesus, que desce sobre o novo povo, é a nova Lei dos cristãos, mas
este Espírito só desce depois do conhecimento da Palavra de Jesus. Concluindo,
o Pentecostes é a festa do Espírito de Jesus, que nos vem da Sua Palavra
conhecida, vivida, anunciada."
Para
nós cristãos, a vida não teria sabor se não fosse a dinâmica do Espírito Santo.
A Igreja seria uma simples organização de homens e mulheres com interesses
mundanos. As celebrações litúrgicas seriam manifestações de diversão ou para
entreter os tempos livres. Esses momentos efusivamente celebrativos aos acontecimentos e aos
santos, sem Espírito Santo, seriam apenas lembranças de memória do passado, que há tempo passaram pela
morte. Os diversos grupos que formam a Igreja seriam estruturas sem alma que
promoviam a rivalidade e a concorrência. Os membros da Igreja, seriam penas
funcionários que buscavam o poder pelo poder. A sede de protagonismo ou a fama
do mundo seriam as únicas motivações pelas quais todos corriam de forma
desmedida e sem escrúpulos. As palavras da Igreja seriam iguais a todas as
palavras pronunciadas pelas outras organizações do mundo. A caridade seria
solidariedade sem alma e sem abnegação desinteressada que só o Espírito Santo
enforma. O diálogo Igreja mundo seria pura diplomacia interesseira com vista a
ser pura propaganda.
Uma
infinidade de coisas que a Igreja é e faz que sem o dinamismo do Espírito Santo
seriam puro activismo concorrencial mais interessado na promoção de alguns e
pouco aberto ao bem comum, isto é, sem interesse nenhum pela salvação de toda a
humanidade.
Assim
sendo, no dia de Pentecostes, descobre-se a universalidade do projecto de Deus
- o milagre das línguas nos Actos dos Apóstolos e a proclamação de São Paulo
sobre a diversidade, são provas dessa pretensão de Deus.
A
mensagem da Igreja, com a força do Espírito Santo, é o eco profético atento à
realidade da vida da humanidade, que denuncia e apela para a paz e para a
libertação de tudo o que violenta a dignidade da vida. E a vivência cristã de
cada baptizado, com a força do Espírito Santo, torna-se sinal e luz para o
mundo, empenhada na construção de uma realidade cada vez mais justa e fraterna
para todos. Tudo o que não seja isto dentro da Igreja e em cada crente, peca
gravemente contra o dinamismo do Espírito Santo.
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