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terça-feira, 25 de maio de 2021

Luisa Paolinelli - alertas importantes


A partir do minuto 36.21 ficou este alerta....

«A Igreja Católica devia abrir-se mais às mulheres, eu sei que está se à abrir à parte laica, o bispo de Setúbal escolheu uma mulher para a Cúria, por isso, seria importante dar mais participação às mulheres. Eu leio o Evangelho não vejo a mulher como parte do fermento, vejo a mulher como o fermento. Ela é fermento, acho que Jesus a viu a assim. As interpretações que vieram a seguir, que colocaram a mulher num lado carnal, de tentação, do pecado… Houve aquela dicotomia muito grande do que é que é Eva e Maria. Eu acho que quando leio o Novo Testamento, eu vejo a importância que Jesus dá à mulher e há uma parte em que fala dela como fermento para puder fazer o pão, portanto, ela é essencial. Eu acho que neste momento a Igreja Católica podia fazer um passo nesse sentido, parece-me que aceita muitas coisas, mas no que toca à mulher está a fazer passos muito pesados ainda, sofridos… Face a um mundo ainda muito patriarcalista, eu acho que a Igreja podia dar um exemplo, podia estar na vanguarda. Não sei bem onde é que o Papa Francisco diz o seguinte, foram as mulheres que durante séculos sofreram mais por causa de uma certa marginalização e que a mulher deve ser integrada na igreja, deve fazer parte de uma forma laica, mas também de uma forma mais ativa na organização estruturante da igreja».

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Somos a carne dos nossos lugares

É o piso onde se segura o pé, os caminhos empoeirados, o pó que eu respirava sem forma de fugir dele quando passavam os carros vazios ou cheios de carga para a venda no Mercado dos Lavradores. Esse quadro bucólico ou romântico como alguma literatura pode fazer crer, só trazia sofrimento e angústia. Mesmo assim tantas vezes ouvia gargalhadas de prazer, mas outras vezes lamentos doridos pelo cansaço e pela doença mal tratada pelas maquinações da pobreza.

São esses tempos que me perseguem, porque bebia água que vertia as fendas das rochas basálticas de ambos os lados das ribeiras. Não sabia o que era «água imprópria para beber». Mais tarde, muito mais tarde fizeram-me essa advertência e ensinaram-me esse qualificativo para a minha saúde, mas só muito tempo depois de já ter consumido muita água mesmo sem esse qualificativo científico tão religiosamente venerado nos tempos de hoje.

Nesse tempo não caía em armadilhas inesperadas como as que caio agora. Era tão puro e tão inocente que considerava a maldade de outra ordem, não tinha tantas consequências nocivas. Assim como antes, hoje tenho frio e calor. Tenho excesso de fome, não a fome de pão, mas fome daquela ordem do bem, da verdade e da justiça. E não falta a advertência, segundo dizem, os entendidos da saúde e da imagem ideal, que tenho excesso de gorduras.

Fiquem sabendo, vivo nesta carne que somos nós, corpo que veio do pó da terra e ao pó há de voltar, é animal, é vegetal, é banhado de mar e tão fortemente humano o lugar da minha esperança. Tenho dito.

Uma esperança de pequenas coisas, pequenos gestos capazes de revolver os poios que abandonamos impiedosamente. Hoje eles choram saudade no coração da gente. Estão lá perdidos, sem paredes, mas com a mesma terra coberta de ervas e infestantes que vieram do mistério do mundo. Neste emaranhado de crueldade, lembro-me daqueles nomes de tantos lugares que eu pisava, mas que eu nunca mais vi nem eles me viram. Só regresso a eles pela memória. Eles são a Courela, a Courelinha, a Manga, a Manguinha, a Moita do Pestana, as Moitas da Cova, o Poio do Pestana, o Poio do Alegre, a Manga do Alegre, o Poio do Poço, a Banda do Moiro, o Poio Abaixo do Caminho, o Poio do Caminho, o Poio do Lombo, o Poio do Lombinho, o Poio da Pereira Cabaça, o Poio da Cerejeira Grande, a Terça, o Chote, os Poios do pé da Porta e etc… Foi este chão que pisei primordialmente e foi nele que saboreei o pão da esperança no sentido mais genuíno do termo.

Sem querer contrariar nada deste agora que os entendidos me oferecem cheio de qualidades, o mais certo é que eu ainda me vejo na mesma carne, é nela e dela que eu vivo. Esta esperança de pequenas coisas, em pequenos gestos capazes de revolver a terra seca e infértil em que nos tornamos, para fazer voltar carne e ternura aos corações de pedra que construímos. Por isso, precisamos de crianças educadas, letradas, que gostam de ler e de escrever, para que se tornem adultos honestos, que não vivam além da ganância e da concorrência desleal ou numa competição desenfreada sem sentido nenhum. Bate o toque da esperança no fim da produção de armamentos, que continuam a matar pessoas e a destruir o meio ambiente que nos rodeia, este chão que somos, e pisamos há muitos e muitos anos.

Somos capazes de coisas boas. E ainda sobram tantas coisas boas. Penso não estar fora do meu chão e vivendo no ar, ao sentir e anunciar isto. Eu sinto e muitos comigo também o sentem. Esperar no chão onde parece não haver esperança é próprio da nossa condição. Não desistir também o é. A mesma terra que rasga o impossível esconde o possível. Bastará um querer que seja resiliente diante da aparente infertilidade.  

quarta-feira, 12 de maio de 2021

No dia do enfermeiro - olho para São Roque

Pequeno trecho da biografia romanceada que estou a escrever sobre São Roque... Desta forma quero assinalar o Dia do Enfermeiro/a, 12 de Maio...


«A peste dos séculos XIII e XIV chamava-se Peste Negra. A monumentalidade do sofrimento, a miséria horripilante que as ruas das cidades medievais apresentam, é uma visão do inferno, que nesta época era bem viva nas mentes das pessoas.

Roque, homem da misericórdia, da ternura, qual apóstolo Tomé desta época, toca as feridas de cada pessoa que se lhe apresenta diante de si tomada pela peste. Roque, também alimentado pelas imagens que a catequese nas igrejas apresentavam sobre o inferno, deve ter pensado, que este quadro infernal real, que o seu mundo apresenta superava e muito todo o imaginário doutrinal propagandeado sobre o fogo abrasador do inferno do além após a morte de cada pessoa.

Roque era um intrépido enfermeiro. Nunca estava parado. A maior parte do tempo passava-o junto dos doentes. Depois de formar um grupo de companheiros jovens, eles começaram a juntar das ruas todos os enfermos que encontravam. Roque nunca se cansava e para todos tinha comida, roupa e água para lavar as feridas. Não nutria qualquer receio de tocar as chagas. Nas pouquíssimas horas vagas que lhe sobrava, passava-as nos túmulos dos Apóstolos em oração. Aqueles momentos eram retemperadores e serviam para ganhar o ânimo e a força sobrenatural para continuar a sua missão ao lado dos doentes da peste».

Conversa sem máscara

 Natércia Xavier



sexta-feira, 7 de maio de 2021

Para que serve a religião em tempos de pandemia?

Não serve para nada nem em tempos de pandemia nem fora deles, se a religião afasta, isola, julga e mata. A religião não pode servir só e apenas para acumular fiéis, bens materiais, dinheiro e investimentos empresariais como qualquer outra instância empresarial mundana. A religião não é uma pedra nem pode converter-se num calhau redondo que rola sem destino ao sabor da corrente.

A religião serve para despertar para espiritualidade. Para o bem que está no mundo em cada pessoa, mas também para o bem maior que nos transcende, que nos torna ainda mais humanos e, por conseguinte, divinos. Porque para nada serve Deus e todos os deuses, se na terra já existem muitas pessoas idolatradas e coisas totalmente divinizadas, porque são vistas como objetos de alienação intimista e de sedução última para o sentido da vida. A religião que deixa de ser ligação e apelo à poesia da vida, não serve para nada. Está morta.

Os tempos de pandemia, que nos trouxeram um morador vizinho de todos nós, deviam trazer também um desafio maior à religião para que volte de novo a ser (re)ligação, a ser pão espiritual nosso de cada dia, a ser mediação de perdão/reconciliação com a vida e com o mundo, a andar de pé sem a tentação dos egos idolatrados que ainda estão no seu interior e que são também um vírus religioso tão perigoso e nocivo como o Covid-19.   

A religião nos tempos de pandemia deve sentir e fazer sentir que o vírus que nos habita com muitas facetas, faz espreitar-nos a morte, a fome e a sede do corpo e da alma. Estamos a respirar o mesmo ar da incerteza, todas as mãos estão infestadas de medo, por isso, não nos saudamos com apertos de mãos e abraços como antes. Os nossos corações estão todos a bater ao mesmo ritmo que hora se chama esperança e noutra hora grita desespero.

A religião pode ser – melhor, não pode ser - deve ser o sangue novo que nos lembra do rumo da missão, a missão da existência, que somos irmãos uns dos outros, semelhantes pelo mesmo nascimento e pela mesma morte, condição que há muito tínhamos esquecido. Ninguém foge ou está acima desta idiossincrasia. Este é o segredo que o nosso esquecimento escondeu, à religião compete lembrar de novo que essa massa está gravada em todas as células do nosso corpo, é a nossa tatuagem comum e perene, mesmo que efémera, porque é só e apenas para enquanto estivermos no mundo terreno. É esta condição que nos torna semelhantes, humanidade.

A religião deve lembrar que somos uma palha seca frágil que uma labareda de fogo, mesmo que pequenina, torna cinza numa fração de segundos, que se dissolve no húmus fértil da terra para a renovação da existência com novos frutos que daí se alimentem.

Antes ninguém tinha medo da morte, todos conviviam com ela, por isso, todos aprendiam que o mundo não nos pertence, que nos era dado por empréstimo para algum tempo até ao momento de dar o último suspiro para o entregar aos outros que entretanto tinham chegado a esta vida. A religião deve lembrar-nos disto, porque esta é a causa urgente da salvação do nosso habitat, mas também a salvação própria da humanidade.