A partir do minuto 36.21 ficou este alerta....
terça-feira, 25 de maio de 2021
Luisa Paolinelli - alertas importantes
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Somos a carne dos nossos lugares
São esses tempos
que me perseguem, porque bebia água que vertia as fendas das rochas basálticas
de ambos os lados das ribeiras. Não sabia o que era «água imprópria para
beber». Mais tarde, muito mais tarde fizeram-me essa advertência e ensinaram-me
esse qualificativo para a minha saúde, mas só muito tempo depois de já ter
consumido muita água mesmo sem esse qualificativo científico tão religiosamente
venerado nos tempos de hoje.
Nesse tempo
não caía em armadilhas inesperadas como as que caio agora. Era tão puro e tão
inocente que considerava a maldade de outra ordem, não tinha tantas
consequências nocivas. Assim como antes, hoje tenho frio e calor. Tenho excesso
de fome, não a fome de pão, mas fome daquela ordem do bem, da verdade e da
justiça. E não falta a advertência, segundo dizem, os entendidos da saúde e da imagem ideal, que tenho excesso de gorduras.
Fiquem sabendo, vivo nesta
carne que somos nós, corpo que veio do pó da terra e ao pó há de voltar, é
animal, é vegetal, é banhado de mar e tão fortemente humano o lugar da minha
esperança. Tenho dito.
Uma esperança de pequenas coisas, pequenos gestos capazes de revolver os poios que abandonamos impiedosamente. Hoje eles choram saudade no coração da gente. Estão lá perdidos, sem paredes, mas com a mesma terra coberta de ervas e infestantes que vieram do mistério do mundo. Neste emaranhado de crueldade, lembro-me daqueles nomes de tantos lugares que eu pisava, mas que eu nunca mais vi nem eles me viram. Só regresso a eles pela memória. Eles são a Courela, a Courelinha, a Manga, a Manguinha, a Moita do Pestana, as Moitas da Cova, o Poio do Pestana, o Poio do Alegre, a Manga do Alegre, o Poio do Poço, a Banda do Moiro, o Poio Abaixo do Caminho, o Poio do Caminho, o Poio do Lombo, o Poio do Lombinho, o Poio da Pereira Cabaça, o Poio da Cerejeira Grande, a Terça, o Chote, os Poios do pé da Porta e etc… Foi este chão que pisei primordialmente e foi nele que saboreei o pão da esperança no sentido mais genuíno do termo.
Sem querer
contrariar nada deste agora que os entendidos me oferecem cheio de qualidades, o
mais certo é que eu ainda me vejo na mesma carne, é nela e dela que eu vivo.
Esta esperança de pequenas coisas, em pequenos gestos capazes de revolver a
terra seca e infértil em que nos tornamos, para fazer voltar carne e ternura aos
corações de pedra que construímos. Por isso, precisamos de crianças educadas,
letradas, que gostam de ler e de escrever, para que se tornem adultos honestos,
que não vivam além da ganância e da concorrência desleal ou numa competição desenfreada
sem sentido nenhum. Bate o toque da esperança no fim da produção de armamentos,
que continuam a matar pessoas e a destruir o meio ambiente que nos rodeia, este chão que
somos, e pisamos há muitos e muitos anos.
Somos
capazes de coisas boas. E ainda sobram tantas coisas boas. Penso não estar fora
do meu chão e vivendo no ar, ao sentir e anunciar isto. Eu sinto e muitos
comigo também o sentem. Esperar no chão onde parece não haver esperança é
próprio da nossa condição. Não desistir também o é. A mesma terra que rasga o
impossível esconde o possível. Bastará um querer que seja resiliente diante da
aparente infertilidade.
quarta-feira, 12 de maio de 2021
No dia do enfermeiro - olho para São Roque
Pequeno trecho da biografia romanceada que estou a
escrever sobre São Roque... Desta forma quero assinalar o Dia do Enfermeiro/a,
12 de Maio...
«A peste dos séculos XIII e XIV
chamava-se Peste Negra. A monumentalidade do sofrimento, a miséria
horripilante que as ruas das cidades medievais apresentam, é uma visão do
inferno, que nesta época era bem viva nas mentes das pessoas.
Roque, homem da misericórdia, da
ternura, qual apóstolo Tomé desta época, toca as feridas de cada pessoa que se
lhe apresenta diante de si tomada pela peste. Roque, também alimentado pelas
imagens que a catequese nas igrejas apresentavam sobre o inferno, deve ter
pensado, que este quadro infernal real, que o seu mundo apresenta superava e
muito todo o imaginário doutrinal propagandeado sobre o fogo abrasador do
inferno do além após a morte de cada pessoa.
Roque era um intrépido enfermeiro. Nunca
estava parado. A maior parte do tempo passava-o junto dos doentes. Depois de
formar um grupo de companheiros jovens, eles começaram a juntar das ruas todos
os enfermos que encontravam. Roque nunca se cansava e para todos tinha comida,
roupa e água para lavar as feridas. Não nutria qualquer receio de tocar as
chagas. Nas pouquíssimas horas vagas que lhe sobrava, passava-as nos túmulos
dos Apóstolos em oração. Aqueles momentos eram retemperadores e serviam para
ganhar o ânimo e a força sobrenatural para continuar a sua missão ao lado dos
doentes da peste».
sexta-feira, 7 de maio de 2021
Para que serve a religião em tempos de pandemia?
Não serve para nada nem em tempos de pandemia nem fora deles, se a religião
afasta, isola, julga e mata. A religião não pode servir só e apenas para
acumular fiéis, bens materiais, dinheiro e investimentos empresariais como qualquer
outra instância empresarial mundana. A religião não é uma pedra nem pode
converter-se num calhau redondo que rola sem destino ao sabor da corrente.
A religião serve para despertar para espiritualidade. Para o bem que está
no mundo em cada pessoa, mas também para o bem maior que nos transcende, que
nos torna ainda mais humanos e, por conseguinte, divinos. Porque para nada
serve Deus e todos os deuses, se na terra já existem muitas pessoas idolatradas
e coisas totalmente divinizadas, porque são vistas como objetos de alienação intimista
e de sedução última para o sentido da vida. A religião que deixa de ser ligação
e apelo à poesia da vida, não serve para nada. Está morta.
Os tempos de pandemia, que nos trouxeram um morador vizinho de todos nós,
deviam trazer também um desafio maior à religião para que volte de novo a ser (re)ligação,
a ser pão espiritual nosso de cada dia, a ser mediação de perdão/reconciliação
com a vida e com o mundo, a andar de pé sem a tentação dos egos idolatrados que
ainda estão no seu interior e que são também um vírus religioso tão perigoso e
nocivo como o Covid-19.
A religião nos tempos de
pandemia deve sentir e fazer sentir que o vírus que nos habita com muitas
facetas, faz espreitar-nos a morte, a fome e a sede do corpo e da alma. Estamos
a respirar o mesmo ar da incerteza, todas as mãos estão infestadas de medo, por
isso, não nos saudamos com apertos de mãos e abraços como antes. Os nossos
corações estão todos a bater ao mesmo ritmo que hora se chama esperança e
noutra hora grita desespero.
A religião pode ser –
melhor, não pode ser - deve ser o sangue novo que nos lembra do rumo da missão,
a missão da existência, que somos irmãos uns dos outros, semelhantes pelo mesmo
nascimento e pela mesma morte, condição que há muito tínhamos esquecido. Ninguém
foge ou está acima desta idiossincrasia. Este é o segredo que o nosso esquecimento
escondeu, à religião compete lembrar de novo que essa massa está gravada em
todas as células do nosso corpo, é a nossa tatuagem comum e perene, mesmo que efémera,
porque é só e apenas para enquanto estivermos no mundo terreno. É esta condição
que nos torna semelhantes, humanidade.
A religião deve lembrar que
somos uma palha seca frágil que uma labareda de fogo, mesmo que pequenina,
torna cinza numa fração de segundos, que se dissolve no húmus fértil da terra para
a renovação da existência com novos frutos que daí se alimentem.