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terça-feira, 22 de junho de 2021

O sonho que é pesadelo

Há um Funchal de flores nos jardins, árvores frondosas, pássaros com cantos agradáveis aos ouvidos da alma, patos nas ribeiras que não deixam de procriar mesmo que ameaçados pelas investidas das ratazanas. Há um Funchal imparável, que segui o rumo dos ritmos da natureza e cumpre o seu dever consoante o ribombar das estações do ano.

Porém, há um Funchal do desleixo e dos desleixados. Um Funchal conspurcado nos cantos das ruas e dos passeios por onde deambulam os carros e os peões. As ribeiras estão um desmazelo impressionante, correm águas às cores e não passa nada, porque o elemento que lhes deu cor veio do céu ou germinou das profundezas da terra, é «inócuo para o ambiente» (bela expressão que não lembraria ao requintado vocabulário queirosiano e muito menos ao de Camilo Castelo Branco, que é vocabulário impróprio para consumo de iletrados).

Para quem habitualmente faz da cidade o seu terreiro, bem vê como está votado ao desleixo o Funchal e como o abuso toma conta dos espaços comuns da cidade. As esplanadas só não sobem paredes porque vai ser difícil sentar-se numa cadeira a meio das paredes exteriores dos prédios. Os jardins andavam selvagens, mas já passamos a ver alguns jardineiros todos os dias a aparar as plantas, a picar a terra e a retirar ervas daninhas, as mangueiras vertem água para ver se ressuscitam quem andava meio morto. Há algo no horizonte que se advinha o que seja, que parece provocar estes cirúrgicos cuidados.

A zona do Jardim do Almirante Reis está feia, relvados descuidados, lixo por todo o lado, por vezes cheiro nauseabundo da estação de tratamento de resíduos, ali plantada para oferecer um autêntico mamarracho à frente de um Jardim e de um hotel. Os passeios estão cheios de lixo e os corredores circundantes ao calhau da beira mar, são uma vergonha, eles são sacos de plástico, eles são garrafas de vidro e de plástico, eles são copos espalhados e papéis por todo o lado. Apenas isto e só isto para não falar de excrementos e urina que oferecem um «bom nojo» todos os dias para bem passa por esta zona. Esta zona, muito frequentada por jovens durante o dia e durante a noite, merecia mais caixotes do lixo colocados próximos uns dos outros. Todo o corredor que circunda o Calhau à frente do jardim do Almirante Reis, não tem nenhum caixote do lixo que seja. Vigilância e pessoal de limpeza naquela zona, vai ser preciso vir o Papa à Madeira para que tal aconteça.

Vamos à cereja no topo do bolo.

O Funchal está cheio de vagabundagem, que o politicamente correto determinou que são «sem abrigos», quando toda a gente sabe que na Madeira todos têm abrigo.

O que há na nossa cidade é uma multidão de desocupados, doentes mentais e uma larga maioria destruída pelo álcool e a toxicodependência. Casas devolutas a serem ocupadas para tráfico de drogas, outras convertidas em casas de chuto e albergues de prostituição às claras diante dos olhos de toda a gente.

Temos nas ruas da nossa cidade uma série de pessoas doentes, que as autoridades estão a fazer o mais fácil, abandonar e andar como entender. Por causa da ditadura do politicamente correto, fecham os olhos e ninguém faz nada. Porém, esta mendicância oferece-nos uma cidade desordenada, sem rumo, cada um anda como quer e faz o que quer. Por isso, há consumo de álcool e drogas nos passeios e nos bancos dos jardins e zonas de lazer, facto que provoca todos os dias brigas e agressões graves de uns contra os outros, suscitando nas pessoas à volta medo e insegurança.

Este desleixo reinante não trava a mendicância, aumenta-a e, por causa, dela, temos em cada esquina um pedinte e não há esplanada nenhuma que não tenha duas ou três pessoas a estender a mão a pedir moedas. Bem observo o constrangimento dos turistas quando almoçam nas esplanadas, antes, durante e depois da refeição, aparece-lhes sempre uma mão estendida a pedir uma moeda.

Belos cartazes de turismo, temos dentro da nossa cidade e na melhor região para turismo do mundo (oi, se não fosse a melhor região de turismo, estávamos bem arranjados). Ainda me salta na cabeça a conversa que tive com uma jovem vinda de Israel passar uma semana à Madeira, quando ela me disse, «não foi isto que me venderam da Madeira».

Há uma panóplia de situações graves que fazem do nosso Funchal, um local desmazelado e pouco cuidado, mas como este texto já vai longo deixo em jeito de rol mais dois assuntos que mereciam uma reflexão bem aturada.

Um, é que vejo uma população do Funchal bastante adormecida. Vamos ver se acorda nas eleições.

Dois, a desorganização ou péssimo serviço prestado no Cemitério de São Martinho, onde se pratica taxas de luxo, mas o serviço é feio, a belo prazer são se sabe de quem, no lugar que devia ser dos lugares mais bonitos da nossa cidade. A melhor forma para atenuar a dor, sempre foi e sempre será servir a beleza. Não é o que acontece na nossa cidade neste momento.

1 comentário:

miradouro das cruzes disse...

Pois o texto parece ter saído de um qualquer jornal dos anos 20, 30, 40 do século passado. Faz pena ver que continua-se a olhar para o lado. Isso é coisa dos outros, coisas de gente sem cabeça ou cabeça fraca. Mas, não será bem assim! Pelo que me apercebi muitos são novos de idade, novos na sociedade que os continua a chutar para o lado, pois é mais fácil. Há que manter as aparências de uma sociedade que faz tudo pelos seus cidadãos. Mas as vagas continuam, as pessoas passam ao lado da vida e não vêm nada, sentem-se vazias, sem sentido para continuarem a viver e desanimam. No entanto, não se poderia fazer mais qualquer coisa de positivo? E a Igreja não poderia nas suas homilias sensibilizar os seus rebanhos? Precisamos todos de uma chamada de atenção, algo que nos "pique", nos chame à razão que não estamos sós e que podemos dar uma mãozinha indelével!