Há uma fome que me consome a alma. Uma fome de ouvir
discursos com gente dentro, com carne deste tempo que é o nosso tempo.
Obviamente, que escapam alguns discursos que me oferecem um prato ou outro bem
recheado de mensagem e de verdadeira comunicação.
Não sei o que pensa a maioria das pessoas que estão
a ler este meu escrito em forma de desabafo.
Há uma coisa curiosa. Dos discursos políticos dos
últimos dias, alguns que apreciei na apresentação dos respectivos executivos
vencedores das últimas eleições autárquicas, reparei com agrado, que metem
gente, que têm carne, resumindo-os a uma legítima reivindicação, o cumprimento das
promessas. Todos têm este mote quanto ao reivindicam, o bem do povo e a
melhoria das suas condições de vida no espaço geográfico das competências dos
executivos apresentados para governar. Fiquei agrado, embora não me iluda muito
quanto ao futuro, e tenho já a certeza, que muita coisa vai ser feita, mas
outra grande parte cairá no rol do esquecimento. Tudo normal. Importa agora
relevar que todos encheram os seus textos com gente, com povo, com carne humana
viva.
Noutro âmbito, no geral os discursos que se ouvem de
teor religioso, deixam-nos cheios de fome. Não há carne dentro, não têm povo e
muito menos dão uma linha que seja estratégica de acção que desperte para a
criatividade, a ousadia e a livre expressão das capacidades de cada pessoa. É uma
dor de alma ouvir discursos vazios, herméticos e recheados de conceitos
anacrónicos desfasados da realidade. Uma fome que gera ainda mais fome. Nisto
vivemos numa pobreza tremenda e não parece haver maneira de dar a volta a isto
nos próximos tempos.
Este é o tempo que exige mensagens claras. Não deviam
faltar palavras ousadas de apoio, de incentivo, de denúncia corajosa, de
verdade, de alegria, de esperança… Palavras da vida que fossem geradoras de
mais vida.
Tenho fome de uma comunicação acutilante, concreta,
proclamada com entusiasmo que fizesse vibrar as pedras das paredes dos
edifícios centenários e que nos enchessem o espírito de verdadeiro alimento
para continuar a existência com o ânimo carregado, para vencer a depressão
desta fome que nos consome a alma.
Os pratos da comunicação hoje, na generalidade,
trazem-nos ingredientes com os mesmos temperos, com os tamanhos estandardizados
e estereotipados. Estamos dominados de discursos cheios de ambiguidades, que
parecem afirmar muita coisa, mas no fundo dizem nada, são portas que dão para
paredes emparelhadas umas atrás das outras, totalmente opacas, dentro de espaços
completamente manipulados e blindados.
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