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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Em que nos tornamos por este andar?



Em 2003 lancei o meu primeiro livro de poemas, «Regresso ao Mar». Foi um primeiro sinal poético, que perpassa vários momentos de interioridade e de reflexão. Como não podia deixar de ser, ainda marcadamente imaturos alguns dos textos que então escrevi. Porém, estava despido de qualquer pretensão e não pedi nada a ninguém. Só pedi ao meu grande amigo José António Gonçalves (ele sim, um dos maiores poetas da nossa terra), que me honrou com um texto belíssimo na apresentação do livro. Ainda guardo esta reflexão tão generosa como uma das melhores recordações da minha vida.

Este livrinho inaugural foi uma pequena compilação de textos que expressam o sentir do autor, da sua visão do mundo naquele tempo, da existência que despontava cheia de sonhos e de ideais. Naturalmente, que vinha ao som do marulhar de vagas suaves, tendo em conta a condição do ser ilhéu, manifesto no apego do autor ao mar.

Enfim, haveria tanto para dizer sobre esta obra. Mas, não me interessa muito por hora dar conta do que é essa pequena obra, tão significativa para mim por ser a primeira e por ter sido apresentada pelo grande José António Gonçalves na Livraria Paulinas, sita na Rua Fernão de Ornelas, Funchal. Venho a este terreiro relevar o seguinte facto, que se prende com o destaque da comunicação social escrita dado à minha primeira obra e com a fome e desinteresse dado à última obra, o romance «A Travessia Redonda» de 2021. Não se percebe este esquecimento, porque o autor é o mesmo e as obras devem ter a mesma relevância quanto ao seu interesse cultural. 

Porque terá suscitado mais interesse uma do que a outra? - A meu ver está relacionado com o contexto social, político, cultural e a forma como anda a nossa comunicação social escrita. Algo empobreceu. No entanto, relevo a pronta disponibilidade da Marta Cília para uma pequena entrevista no seu programa diário Hora 10 na Antena 1 Madeira e outra no Madeira Viva com a Xana Abreu na RTP-Madeira e outra entrevista com a Celina Pereira para Rádio JM...  

Perante as fotos aqui apresentadas fica manifesto que o «Regresso ao Mar», mereceu grande procura da generalidade da comunicação social escrita da Madeira em 2003, antes e depois da apresentação da obra. No entanto, em 2021 com a publicação do romance «A Travessia Redonda», só o Diário de Notícias publicou uma página inteira como notícia antes da sua apresentação ao público e o JM, após o lançamento na Feira do Livro no dia 14 de Novembro, publicou uma pequena tira numa das suas páginas impressas.

O que estamos a fazer à cultura? Ou que aconteceu à nossa comunicação social escrita da Madeira?

Assim sendo, relevo que não estava à espera que merecesse parangonas qualquer uma das obras, porque sei qual do meu lugar e da minha posição ou valor literário e, muito menos, me alimento de mediatismos como alguns se comprazem em considerar. Porém, reparei nestas diferenças, que para uns não deve dizer muito ou mesmo nada, mas para nós que nos interessamos pela cultura e pela sua divulgação devemos estar a pensar com preocupação e lamentar que não estamos a ir por bons caminhos.

Por isso, em face disto tudo alinhavei duas vias de pensamento. A primeira via é de que já há algum tempo venho a acompanhar várias publicações de livros na Madeira (e muito boas obras têm vindo a lume), peças fabulosas de teatro, cinema e tantas outras atividades culturais de relevante qualidade, mas que na comunicação social escrita têm merecido um medíocre destaque.

A segunda via de pensamento prende-se com esta constatação, a meu ver mais grave, a comunicação social escrita na Madeira empobreceu, porque afunilou a sua atenção apenas e só nos eventos políticos, nos escândalos, no desporto e nas suas derivadas futilidades, na vida frívola dos famosos, e nas notícias corriqueiras do quotidiano, que devem ser as melhores quando mete acidentes, violência, animais atropelados ou abandonados e tantas outras situações que não interessam senão para a volatilidade emocional do momento.

Deixo aqui esta dica para nos fazer pensar e nos despertar para um rumo diferente que venha a considerar tudo o que seja manifestação cultural em pé de absoluta igualdade, para que a diversidade neste domínio seja o mais díspar possível, dando azo assim a multifacetadas possibilidades de escolha aos cidadãos interessados.       

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