A nossa época é uma época triste e contraditória. Dizem-me que é o tempo dos amores líquidos, onde os sentimentos podem ser facilmente descartáveis.
O que noto antes disso é que há pessoas mergulhadas na fragilidade,
inseguras, desconfiadas, ciumentas até das sombras, a beberam medos contra a
proximidade dos laços, estão marcadas pelo passado que não integraram ainda nem
cicatrizaram as suas chagas. As palavras que deviam expressar sentimentos, não
passam de palavras iguais a palavras obscenas que se soltam em cada frase que
se pronuncia. Estamos no tempo do amor e do desamar à velocidade da luz, como
alguém denominou.
Neste contexto temos um leque bem variado de opções que ajudam a colmatar
as solidões e as carências, Facebook, Whatsapp, Instagram, Tinder, Twitter… É triste
que alguns alimentem a ingénua ilusão de descobrirem amor nestes meios, quando
se sabe à partida que
aqui não existe amor nem pode pingar amor.
Mas, há uma coisa que dali se retira, que não sei se é bom ou se é mau,
nada nos apega a nada, quando não está bom apaga-se, descarta-se, bloqueia-se,
deleta-se... E porque é tão fácil assim, transporta-se isso para as coisas da
vida, mesmo que algumas delas requeiram mais atenção, cuidado, delicadeza, porque
se trata de pessoas e dos seus corações.
Porém, esquece-se que fora dos teclados e dos ecrãs, há pessoas, corações,
mãos e pés, um corpo inteiro, que guarda sentimentos, sonhos, desejos e que
almeja ser feliz. Pensar mil vezes nisso deveria ser ainda muito pouco, porque
mantém-se a máxima do sábio rabino Hillel que ensinava, «não faças aos outros
aquilo que não queres que te façam a ti», esta é toda a Lei e os Profetas.
Para tanta gente o amor é líquido. No entanto, quero crer que nem que seja
em meia dúzia de pessoas deste mundo, ele ainda é sólido, totalmente real
porque se alimenta fora dos parâmetros das vias frívolas e voltáveis dos tempos
da comunicação virtual.
Fica o desafio, antes de magoar um coração, pense antes dez mil vezes, que
pode ser um morador dessa casa.
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