Escreveu o seguinte a 9 de Junho de 1991, o antigo bispo de Sétubal, D. Manuel Martins: «É mais fácil ficar na sacristia; é mais doce entregar-se só a práticas de culto ou devoção. Mas se estes actos não nos impelem para a vida, não valem de nada» (in «A Seara»).
Estas palavras servem como resposta a tantos que nos últimos tempos se pronunciaram a propósito das palavras do padre Manuel Martins sobre a pobreza e da denúncia bastante pertinente, sobre os organismos governamentais, tão badalados pelos políticos na comunicação social, mas que na prática não funcionam e ninguém sabe onde estão. Por isso, os meus parabéns ao padre Manuel Martins que se serviu da tribuna da Sé, para proclamar alto e bom som, que os pobres existem e estão aí à mão de semear e são a maior vergonha para todos nós.
Só desejo que o padre Manuel Martins seja forte e que se mantenha de pé perante as patetices que alguns intentaram dizer pela comunicação social e outros de certeza que lhe disseram pessoalmente, sem anonimatos, mas outros sob a capa covarde do anonimato, como frequentemente tem acontecido comigo.
Para os que acham que a Igreja não se deve pronunciar sobre as misérias sociais, fica apenas a lembrança. Quem, apesar das limitações, falhas ou pecados, mais faz senão a igreja pelos necessitados da nossa sociedade? Quem tem tantos organismos de carácter social como a Igreja Catolica? Eles são centros de dia, lares para idosos, jovens e crianças, as Cáritas Paroquiais e as Conferências Vicentinas por todos os lugares onde há comunidades paroquiais? O que seriam tantas pessoas que batem à porta dos padres com receitas médicas na mão e com o rosto lavado em lágrimas porque não têm pão para alimentarem os seus filhos? – Os políticos não gostam que se fale disto e os fazedores de opinião também não gostam, conspurca o rosto lacado da cidade e da região engalanada para turista ver.
Os tais a quem compete resolver as questões prementes da nossa sociedade, que não sentem escrúpulo nenhum com os milhões ofertados aos partidos políticos do erário público, os que não se ofendem com os balúrdios gastos nas festanças para entreter o povo e com isso comprarem votos, preferem uma igreja amordaçada, silenciada e os seus padres votados à sacristia, ocupados em piedosas orações. Que absurdo e que falta de visão das coisas. É preciso pensar na doutrina de Jesus Cristo, olhar a tradição dos profetas antes de Cristo e toda a história da Igreja até aos nossos dias. Lembram-se de Madre Teresa de Calcutá, da Irmã Emmanuelle e de todos os activistas, ligados às igrejas, que por todo o mundo realizam um trabalho extraordinário de amor aos pobres? Lembram-se também do pioneirismo da Igreja Católica na doutrina social e das denúncias contra todo o género de violências sobre os mais fracos do mundo? - Basta ler toda a doutrina social dos últimos Papas a partir de Leão XIII, com a sua Encíclipa «Rerum Novarum».
Face ao terrível e complexo mundo da pobreza resta procurar, não digo soluções, mas nem que seja uma pequena réstia de solidariedade quando solicitada por quem necessita dela. Porque muita da pobreza tem que ver com isto mesmo: «A pobreza mete-nos medo. E, no entanto, alimentamo-nos da pobreza, é o seu sangue que move os nossos carros topo de gama e as nossas fábricas e é à sua sombra que florescem os nossos paraísos de consumo», Manuel Pina, Jornal de Notícias.
2 comentários:
Que lindo texto. Sempre disponível para o serviço aos mais desprotegidos da sociedade. O Cónego Manuel Martins é um dos "nossos" . Volta e meia é um dos profetas que tal como o seu colega José Luis, sem medos ou perseguições ajudam a inaugurar uma Igreja madeirense que esteja na esteira do Vaticano II sobretudo reecooando a voz do arcebispo Maximus V da Igreja Oriental que no coração das sessões conciliares disse :"o maior mal dos nosso tempo não é a pobreza dos desprovidos, mas a inconsciência dos garantidos.
Sobre como vencer pobreza, convinha que lessem a entrevista dada por Tolentino Mendonça à Única. Falta-nos utopia!!!
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