O João Bernard da Costa terminou o seu livro «Nós, os vencidos do catolicismo» (título «roubado» ao Poema belíssimo do Ruy Cinatti), com um poema de Cristovan Pavia, que se atirou para debaixo de um comboio em 1968, aos 33 anos. Diz assim o poema:
«Voltarei à penumbra fresca da Igreja / Ancestral, silenciosíssima e vazia. / Aonde está pousado o teu altar: / Doce Mãe Maria... / E ajoelhar-me-ei, / E fecharei os olhos sem pensar... / Que a minha oração nada mais seja! / Basta descansar».
- Logo depois o autor do livro remata a palavra final, que serve também para todos os finais de discurso: «Apetece-me pensar que um dia será assim». E termina desta forma um belíssimo livro.
Depois de urdida a introdução a este ponto, vamos agora tentar responder à pergunta formulada para este assunto ou este ponto da nossa reflexão.
O poder político da Igreja Católica nunca esteve tão fraco como hoje, em muitos casos inexistente. O seu poder cultural está profundamente atingido, daí a necessidade de se fazer acordos estratégicos com as forças policiais para «trancar a sete chaves os bens que restam à Igreja». O poder moral da Igreja é de imediato remetido para o segredo das vidas privadas. Os católicos pouco ou nada vivem da doutrina moral que a Igreja apregoa. Os governos das nações (mesmo até governos constituídos por pessoas assumidamente católicas) pouco ou nada ligam à doutrina moral que a Igreja defende para tomarem as suas decisões. As denúncias em catadupa dos abusos sexuais, levados a cabo por padres católicos, vieram piorar e muito a decadência da Igreja Católica. Faz dó ver o Papa e todos os que o rodeiam ocupados a juntar os cacos dos estragos tremendos que tudo isto está a provocar na Igreja. Ai o Ano Sacerdotal? - Lembram-se ainda? - A onda a pedir mudanças cresce a cada dia, ainda bem, estou feliz, por isso.
A Igreja Católica, a bem ou a mal, tomou consciência de que não podia continuar a ligar a sua fé à força, à violência, à conquista. Ela celebra a liberdade de consciência, a liberdade que vem de Deus e que impede a coacção em nome da fé.
Mesmo quando lamenta e declara não cristãs certas atitudes, a Igreja não pode nem quer dispor de meios que forcem os povos a respeitar os seus mandamentos.
Tendo em conta que a Igreja está distanciada da influência directa sobre o governo político do mundo, acarreta para si uma diferença de concepção de fé e do seu lugar na cidade. Não tem aquela força política mundial como têm as confissões islâmicas (xiitas, sunitas), que são forças políticas mundiais, mas o catolicismo já não o é. Não é imaginável ver um dignatário oficial católico a dirigir um país, mas a religião islâmica coloca os seus «padres» (Imãs) na chefia de vários Estados.
Este discernimento ainda não foi compreendido pelo mundo islâmico que continua a considerar o Ocidente dominado pelo poder cultural e político cristão/católico. É por isso que ouvimos, no fim de Outubro de 2001, Bin Laden censurar violentamente o Paquistão, por se ter juntado à «bandeira cristã». Ainda não se deu a volta no Oriente como foi dada no Ocidente. A separação de poderes é hoje uma realidade, fruto das democracias ocidentais.
A influência da Igreja está nas ruas da amargura. Os ataques contra a Igreja e contra os cristãos serão, provavelmente, muito graves, já temos exemplo de como sofrem muito as minorias de cristãos de países ditos de maioria muçulmana. As agressões fundamentalistas de outras religiões, serão muito fortes e mostram a fraqueza da Igreja que não pode reagir violentamente nem possui formas militarizadas que a defendam dos ataques.
Por isso, falta um Papa vindo do mundo pobre, não ocidentalizado, por exemplo, América Latina ou África, para mostrar que a Igreja não é uma força dominadora que representa o Ocidente, mas é universal e que não pode ser reduzida à Europa, está aberta a todo o mundo. No fundo para fazer jus ao sentido da expressão «católica». Sou levado a pensar tudo isto, tendo em conta a influência que teve a eleição de um Papa do Leste para a Queda do Muro de Berlim, para a desagregação da chamada Cortina de Ferro e Queda dos regimes totalitários comunistas de Leste. A ver a assim a história, já seria tempo de abrir a Igreja ao mundo subdesenvolvido e mostrar o quanto é católica (universal) a Igreja Católica.
5 comentários:
Sim tdo que diz creio que seja isto e que acho que a humanidade enquanto estiver na prisão da mente das formas o sofrimento continua e não terá um fim.
Sinto que cada um que fizer o caminho consciente , há de ter diferença, assim sendo o nosso mundo das religiões terá plena liberdade.Abraços
Obrigado Antônia pelo seu comentário. Como diz as prisões sejam de que ordem for é uma cruz terrível para humanidade, é preciso sempre lutarmos contra tudo o que seja opressão sobre a dignidade humana e agora taambém sobre a dignidade da nossa casa comum, a Gaia, a Terra. Tudo de bom para si...
As suas reflexões são muito acutilantes e pertinentes.
Ser sacerdote é isso: fazer reflectir, movimentar consciências, promover o direito à reflexão, falar de Cristo, mostrar Deus na nossa vida.
Bem haja.
Padre José Luís, realmente a Igreja Católica está a perder o seu terreno, mas,lá de vez em quando, aparece a figura vetusta do Papa e volta tudo ao mesmo. o centralismo do Vaticano não cai com acusações de pedofilia nem com este papa, que durante muito tempo para salvaguardar a igreja manteve-se no silêncio perante, talvez, milhares, para não dizer, milhões de vítimas. Dizer que há pais ou outras entidades fora da igreja que fazem o mesmo ou pior, não é justificação, pq a igreja continua, apesar, disso tudo, a ser a pregadora da moral e da boa conduta. As confissões auriculares continuam a fazer-se, sem que o (a) penitente saiba se ele é pedófilo ou homossexual (embora seja diferente) mas não admito que um padre ou freira tenha opção sexual diferente do seu sexo natural. Ser padre ou freira ou leigo(a) com uma personalidade altivamente cristã e liderando igrejas ou grupos pertencentes à igreja têm que ser arquétipo de uma boa harmonização mental, espiritual e física de tal maneira que se justifique que ele ou ela esteja à frente de uma comunidade. Com todo o respeito, não confundo pedofilia com homossexualidade, mas sou incapaz de assistir, por exemplo, a uma missa presidida por homem ou mulher que tenha o direito de escolher um sexo que não é o seu. A Igreja deve ser pioneira na defesa do Direito Natural. Eu se tivesse um filho ou filha homossexual aceitava-o(a) , mas, sinceramente, com desgosto. Esta estória de mudar de sexo são fantasias da sociedade actual materialista e do vazio do espiritual embora aceite piamente que cada um(a) responde sozinho perante Deus e por Ele seja Amado.
Faço minhas as palavras do Ângelo.
E ainda ninguém se lembrou de recordar "as crianças da roda" entregues em instituições religiosas, séculos XIX e XX, pelo menos...
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