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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pátio dos Gentios

Nota: Óptima reflexão. Muito oportuna face à exclusão. Facto preocupado, porque conduz a Igreja Católica para ser uma seita entre tantas outras seitas...
«Em Dezembro de 2009, o Papa Bento XVI expressara o desejo de que a Igreja abrisse uma espécie de “Pátio dos Gentios”, um lugar “no qual os homens possam, de alguma forma, entrar em contacto com Deus, sem o conhecer e antes de terem encontrado o acesso ao seu mistério”.
No tempo de Jesus e dos apóstolos, o recinto que circundava o Templo de Jerusalém estava dividido em vários pátios que refletiam, em parte, a própria organização social da Palestina. O maior era o dos gentios. Estava separado do Templo e dos outros pátios por uma balaustrada com inscrições, proibindo a passagem para o interior, sob pena de morte. Cinco degraus acima, havia o pátio das mulheres e, ainda mais acima, havia o pátio de Israel ou dos homens. Deste, passava-se para o dos sacerdotes.
A metáfora do Papa inspirou a criação, no âmbito do Conselho Pontifício para a Cultura, presidido pelo Cardeal Gianfranco Ravasi, de uma nova estrutura permanente destinada a incentivar o intercâmbio e o encontro entre crentes e não crentes. O lançamento oficial desta nova estrutura, designada, precisamente, Pátio dos Gentios, está prevista para os dias 24 e 25 de Março, em Paris. Sob o tema genérico "Religião, luz e razão", este evento vai desenvolver-se mediante um conjunto de debates, na sede da UNESCO, na Sorbonne, no Institut de France e no Collège des Bernardins. No segundo dia à noite, será organizada uma festa aberta a todos, sobretudo aos jovens, no átrio da Catedral de Notre Dame.
A expressão “Pátio dos Gentios” é ambígua. Pode dar a ideia de que o mundo está dividido entre os que já encontraram Deus e os que procuram esse encontro. Seria uma visão muito simplista. Alguma razão tinha Fernando Pessoa ao dizer: “Em qualquer espírito, que não seja disforme, existe crença em Deus. Em qualquer espírito, que não seja disforme, não existe crença em um Deus definido”. Vem no Livro do Desassossego. E o desassossego é o próprio estatuto de todos os seres humanos em relação ao sentido e ao fundamento da vida. A experiência do místico é a do Mistério inabarcável, não a posse de um ente circunscrito por uma definição. Quando o mestre Eckhart pede para que Deus o livre de deus, reza para não sossegar em nenhum ídolo, mesmo no ídolo da ideia de Deus, como se Deus coubesse numa ideia, num conceito.
Dir-se-á que a nota dominante do nosso mundo não é o desassossego, é a indiferença: como não podemos conhecer o sentido da vida de forma científica, evitemos a própria questão e tentemos viver em paz sem questões metafísicas ou espirituais, religiosas ou místicas. Vivamos ao rés da terra que nos há-de comer e as preocupações do dia-a-dia, minado pela crise, bastam e sobram.
Parecendo que não, essa conversa é abstracta. Vivemos no pátio de toda a gente, de crentes, de não crentes, de místicos, de ateus e de agnósticos, de religiosos e irreligiosos. É neste mundo concreto que os cristãos devem estar prontos a dar razão da sua esperança, da sua experiência mística e a escutar as experiências religiosas ou ateias dos outros. A vontade de criar “pátios de encontro”, onde as pessoas de diferentes correntes ideológicas, políticas, culturais ou religiosas procuram escutar-se e interpelar-se mutuamente, responde a uma necessidade urgente, à qual importa dar configurações imaginativas. Aliás, mesmo a nível da Igreja, a celebração dos ritos de passagem – baptismos, casamentos e funerais – deixaram de ser espaços e tempos reservados aos crentes. Por razões várias, são “pátios” de crentes e gentios. Em vez de pensarmos só em estruturas ou instituições sofisticadas de encontros solenes, não seria de estudar e praticar as imensas virtualidades destas ocasiões tão frequentes?»
Bento Domingues, Público 20 de Fevereiro de 2011

5 comentários:

Gi disse...

Que seca de blogue...

José Luís Rodrigues disse...

ROSINHA, não tarda nada virá uma valente chuvada...

Cambará Cultura disse...

Não sei se a Rosinha é jovem, (juventude está no espírito, não na idade!...), mas deveria ler nos Actos dos Apóstolos, a passagem do martírio de Estêvâo...Os jovens de hoje deveriam seguir sua coragem intemerata, denunciar, e compartilhar...já que se faz tanto isso nos dias de hoje, vamos compartilhar o que de bom e digno existe...

M Teresa Góis disse...

Pátio dos gentios....Mas não somos todos "gentios" até à Ressurreição? Ser "gentio", é estar atreito ao Pecado, é fazer caminho todos os dias, passando pátios, ruas, praças, passando a vida. E Jesus não veio para todos? Nem grego nem gentio, nem judeu nem palestiniano...
Quanto à "seca" da Rosinha, que não lhe chova muito: afinal é uma Rosinha, ainda!

M Teresa Góis disse...

Tive a curiosidade de ir à procura da Rosinha....Afinal foi uma "provocação" divertida para testar comportamentos e reacções; bem que eu disse que era só uma Rosinha...Teve graça e é um teste interessante!