
Domingo XIV Tempo Comum
03 de Julho de 2011
A revelação aos pequenos e o jugo suave
Santo Agostinho faz uma belíssima interpretação sobre o sentido dos «pequeninos» que o Evangelho deste domingo nos fala. Transcrevo a sua análise, diz assim: «Entendei o sentido desta oposição: “Escondeste estas coisas aos sábios e prudentes”. Mas não diz “e as revelaste aos néscios e imprudentes, mas sim: “escondeste-as aos sábios e prudentes e as revelaste aos pequenos”. Aos sábios e prudentes risíveis, aos arrogantes, aos grandes na aparência mas, na verdade, inchados, opôs não os ignorantes ou os imprudentes, mas os pequenos.
Quem são estes “pequenos”? Os humildes. Por isso, “o escondestes aos sábios e prudentes”. Ao acrescentar “revelaste-o aos pequenos”, Ele mesmo explicou que sob o nome de sábios e prudentes deveríamos entender os soberbos. Portanto, escondeste-o aos não pequenos. Que quer dizer “não pequenos”? Não humildes. E “não humildes” é o mesmo que “soberbos”. Oh, caminho do Senhor! Ou não existia ou estava escondido para nos ser revelado a nós. E porque exultava o Senhor? Porque o caminho foi revelado aos pequenos. Devemos ser pequenos; porque se pretendermos ser grandes, como sábios e prudentes, não nos será revelado esse caminho». (S.to Agostinho, Sermão 67, 8). Muito interessante este pensamento e revelador de qual é a principal intenção de Jesus, libertar os oprimidos e dar dignidades aos sem lugar e vez na vida social deste mundo...
Na passagem da 1ª leitura, por sinal muito famosa, revela-nos a obra do chamado «Segundo Zacarias», um profeta anónimo do séc. IV-III a.C.. Toda a lógica da guerra e da corrida aos armamentos, porventura alimentada pelos sonhos de um messianismo político e triunfalista, são agora abandonados. O Rei que vai chegar, é um «pacifista», contra toda a violência e injustiça que ainda grassam no mundo. Esta mensagem destrona toda a lógica que assenta sobre a violência. O anúncio profético mostra que o desejo de Deus está em profundo antagonismo com o pensar dos homens. Deus reinará pacificamente, no maior respeito pela vontade de cada homem e mulher. Todos farão parte da justiça e do amor salvador que Deus fará acontecer nos carreiros deste mundo. É possível este ideal se nos nosso corações permitirmos tudo o que faz a vida a contecer na felicidade e na paz…
O capítulo 8.º da carta aos Romanos é uma das páginas mais densas da teologia paulina. O Espírito que nos fala o Apóstolo, é não só um novo princípio de vida, mas também um princípio de vida nova e, portanto, penhor da vida futura da Ressurreição.
No Evangelho, Jesus e os primeiros cristãos experimentaram a recusa dos chefes e dos ditos «partidos de sábios» (escribas, fariseus, saduceus...) em acolher o projecto salvador de Deus que em Jesus, com Jesus e por Jesus se realizava (nisso consiste o «mistério do Reino»). Estes recusaram fortemente a mensagem nova em favor da vida sempre nova para todos. Tal mensagem de Jesus não era pura e simplesmente um código de regras morais, mas transformação da vida toda a favor do bem comum. Porém, alguns, especialmente os «grandes» recusaram tal ideal. Mas, ao mesmo tempo, viveram a alegria de ver os pobres, os simples e os humildes a acolher essa Boa Nova. Daí, que aos sábios e prudentes risíveis, aos arrogantes, aos grandes na aparência mas, na verdade, inchados, opôs não os ignorantes ou os imprudentes, mas os pequenos. Jesus ensina-nos que devemos ser pequenos para conhecermos a grandeza do amor que Ele nos revela. A humildade salva-nos. O jugo suave de Jesus consiste nisso mesmo, acolher na humildade a vida e fazer dela um serviço, uma dádiva para todos. Esta descoberta dará sentido a esta vida e mais apontará para o verdadeiro destino de todos nós, alcançar a vida divina que Jesus Cristo a todos quer verdadeiramente oferecer, sejamos merecedores dela. E quem diz que a religião é para ignorantes e simplórios, engana-se redondamente perante este discurso de Jesus.
JLR