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Colher Deus e a nós próprios na passagem:
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«Antes o vôo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.
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A recordação é uma traição à Natureza,
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
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Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!»
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(Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa)
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