Mais umas luzes se levantam no alto da montanha densa do obscurantismo de alguma igreja católica, empedernida sob alicerces de mentes obsessivamente masculinizadas. Os costumes servem enquanto duram, porque servem num determinado contexto histórico. Se já não respondem ao pulsar do tempo que passa, porque não remetê-los ao seu fim ou simplesmente transformá-los. Nada de transcendente, tudo tão normal na vida quotidiana das famílias, das comunidades e até na nossa vida pessoal.
É com redobrado regozijo que este ardente
desejo do «povo de Deus da Alemanha», reunido em rigorosa assembleia aprovou
por larguíssima maioria de votos mudanças significativas. Nada que me
surpreenda, porque desde há muitos anos que falava neste assunto e várias vezes
manifestei oralmente e por escrito o sonho que estas mudanças viessem para que
a igreja católica efetivamente se tornasse numa instituição normal, isto é, uma
realidade onde cabem todos nos seus serviços e onde os serviços são para todos
sem fazer aceção de ninguém.
A ousada frescura da Igreja Alemã é um
passo de gigante e vai ser exemplar para a Igreja Universal. O Sínodo aprovou
abolição do celibato obrigatório e a abertura ao sacerdócio feminino. Os
alemães não brincam e ao contrário daquilo que se está a passar em muitas
outras igrejas nacionais, incluso no centro da cristandade, o Vaticano, o
desejo de mudança não tem passado de conversa fiada, paleio para entreter.
Tanto que se ouve que é
preciso abrir a «‘gaiola’ da linguagem» e «inverter a pirâmide», mas ao mesmo
tempo, a «gaiola» é fechada a sete trancas e volta a linguagem clássica
carregada de conceitos anacrónicos e totalmente descabidos de sentido da linguagem
dos nossos dias. Quanto à «pirâmide invertida», parece induzir que há desejos,
não sei se sinceros, de dar voz e lugar central a todos os batizados, mas ao
mesmo tempo volta o costumeiro discurso de que o sacerdócio é só para machos,
que eles são os «eleitos de Deus», «os escolhidos» e que fazem parte da «sacra hierarquia»
ou «sagrada casta clerical» para fazer a «vez de Cristo».
Só que isto nos mostra
claramente como está equivocada esta maneira de pensar e de ser igreja. Os
exemplos que este mundo tem oferecido de misérias vindas desta pretensa
sacralidade, são bem reveladores do quanto se ganharia em valorizar o «sacerdócio
comum dos fiéis», aquela unção sacerdotal que cada batizados recebe no dia do
seu batismo. Por isso, as misérias da hierarquia são o ponto crucial e a
exigência principal do quanto deve ser mais inclusivamente circular o poder na
igreja católica e quanto precisa de despir-se das ancestrais manias divinas que
se auto atribui, para revestir-se de humanidade e de igualdade perante todos os
membros do povo.
É deste passo histórico que
se trata. Noticiava o Mensageiro que 86% dos membros da
reunião do Sínodo em Frankfurt se manifestaram a favor da abolição do celibato
para os padres e da admissão de mulheres ao sacerdócio. Após dois anos de
debates e pesquisas entre bispos e outros expoentes do catolicismo alemão, foi
votada uma proposta com ampla maioria que se abre aos padres casados,
afrouxando a malha da atual proibição secular. Foi aprovado também o
envolvimento das mulheres e proibida qualquer exclusão.
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