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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples. A nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão boa, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projecções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.
Sofremos não porque o nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livresque deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque a nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela as nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque o nosso club perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso: «Se iludindo menos e vivendo mais!!!»
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca quando, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade
Imagem do blog: «Imagens de uma vida»

4 comentários:

José Luís Rodrigues disse...

O sofrimento é realidade incontronável da existência. Mas, se encarado com sentido pode fazer bem a nós e aos outros... Até as coisas melhores da vida requerem dor.

M. disse...

Viver também doi. Retirando o lado poetica...doi mesmo. A morte está cá para nos lembrar...E digo a morte. não minhas...dos outros...

Mas faz parte e é com essa dor que devemos viver...bem:)

José Luís Rodrigues disse...

M., amiga, a inevitabilidade da morte... Sempre esse ponto limite. Mas, que dá sentido à vida e é tão importante como o nascer. No fundo, até é um novo nascimento, só que a luz não está deste lado, mas noutra dimensão, que nos custa tanto aceitar. Dessa dor não nos livramos. Porém, vivamos cada momento da vida... bem e quanto ao resto deixemos acontecer por si mesmo.

M Teresa Góis disse...

O Sofrimento é inerente ao Homem, cola-se-lhe à pele por toda a vida.
è preciso superar mas, há contingências que convergem, e são essas as impossibilidades de uma imediata aceitação. O mestre do tempo, porém, dá-nos a volta e a sapiência necessárias para, mesmo que vagarosamente, superar. Penso que o Homem sem sofrimento não seria Homem.