Este texto de opinião, publicado pela
IMISSIO, é muito bom. Faz uma análise certeira sobre os valores que nortearam a
humanidade nos últimos séculos, centrando o pensamento na questão basilar
da Revolução Francesa: «A igualdade, a liberdade e a fraternidade». A igualdade
e a liberdade foram assumidas como categorias políticas e reclamadas como
valores essenciais para a convivência humana nos últimos dois séculos. Porém, a fraternidade foi
remetida ao esquecimento. Segundo esta análise, a fraternidade urge como valor
essencial para o século XXI, que não pode continuar votado ao esquecimento. Aliás, considero que não vejo alternativa para os
graves problemas do mundo de hoje senão que se tenha que passar também pela via da fraternidade. Obviamente, que não será como um milagre que solucione todos os problemas, mas nenhuma solução será possível se não estiver recheada com o valor da fraternidade. O texto que
se segue aponta elementos reflexivos que nos autorizam perfeitamente esta
convicção. A não perder.
Texto de IMISSIO (06/02/2016
A fraternidade: um antídoto
para a alienação, para a crise e para o terror
Em muitos
aspectos, as primeiras décadas do século XXI foram uma repetição de políticas
autoritárias, do desejo de conquista e de vingança, de ideologias políticas
alienadas (nazismo, socialismo, marxismo, etc) que marcaram o final do século
XIX e a primeira metade do século XX. Parece que o ser humano não aprendeu com
todo o horror vivido no século XX e, por isso, no século XXI ele está
repetindo, em níveis e escalas diferentes, os mesmos erros e as mesmas
políticas autoritárias desse século.
Não se deseja
apresentar uma solução mágica, fácil e rápida para esse complexo sistema de
crises, erros e de problemas. No entanto, apresenta-se a fraternidade como uma
real possibilidade de ser um antídoto para o amplo conjunto formado pela
alienação, pela crise e pelo terror. Um conjunto que, como uma sombra negra e
maligna, assombra o século XXI.
A fraternidade é
um nobre princípio que afirma que todo ser humano, imagem do Criador, deve ser
solidário, procurar compreender e ajudar o seu semelhante. Essa ajuda vai desde
as tarefas do cotidiano, passando por problemas (doença, prisão, loucura,
viuvez, criação dos filhos, aconselhamento matrimonial, etc) até chegar aos
níveis mais distantes do cotidiano, como, por exemplo, os refugiados das
guerras do Oriente Médio, a fome na África, a juventude drogada e alienada na
Europa e nos EUA e outros. Trata-se de um princípio, o ser fraterno, que está
estabelecido desde os gregos antigos, com a noção de ajuda mútua dentro da
Pólis, passando pela pregação de Jesus Cristo e pelo cristianismo, até chegar à
modernidade com a revolução francesa (1789-1799), a qual tinha como lema a
celebre frase: “Liberdade, igualdade, fraternidade”.
Como demonstra o
jurista Lafayette Pozzoli “Liberdade, igualdade, fraternidade” foram princípios
interpretados pela revolução francesa politicamente, marcando a história do
Ocidente moderno. Enquanto a liberdade e a igualdade foram assumidas como
categorias políticas, a fraternidade teve outro destino. Enquanto a liberdade
foi o tema político do século XIX, a igualdade foi o tema central das
preocupações das políticas e das ideologias do século XX, a fraternidade foi
reduzida a um segundo ou terceiro plano, não sendo central nos debates
políticos, filosóficos e jurídicos do mundo moderno. É por isso que o pensador
Antonio Maria Baggio afirma que a fraternidade é o princípio esquecido dentro
do mundo moderno.
Por si só a
fraternidade não poderá resolver os graves problemas e crises vividos pelo
homem e pela sociedade moderna. No entanto, é necessário que a fraternidade
deixe de ser o princípio esquecido. O mundo moderno só irá superar a alienação,
a crise e o terror se tiver a coragem de voltar a pensar, a refletir e, acima
de tudo, experimentar novamente a fraternidade. O clamor do Apóstolo Paulo,
quando afirma que o ser humano deve ter e estar cheio de “misericórdia, de
bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos
outros” (Colossenses 3, 12), deve novamente ecoar dentro do coração do ser
humano. Sem a experiência da fraternidade será difícil construir um mundo
melhor, melhor do que foi as duas grandes guerras mundiais e todo horror vivido
ao longo do século XX.
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