Não sou economista. Sou padre diocesano.
Não devia estar a meter-me nestes assuntos mundanos. Devia falar de assuntos do
céu, do além. Alguns rematam logo por aqui para fazerem recuar de dizer alguma
coisa aqueles que não estejam formados nos assuntos térreos como são estes da
economia.
Muita razão assiste a quem pensa desse
modo, porque se repararmos bem não estudei o suficiente sobre uma matéria tão
complexa e tão precisa como se revela muitas vezes os assuntos económicos.
Porém, a escola da vida vai ensinando que sempre gerimos algumas coisas que
implicam receita e despesa. Por aí aprende-se alguma coisa neste âmbito.
Mas não esqueço que Fernando Pessoa
considerou: «Mais do que isto / é Jesus Cristo / que não sabia nada de finanças
/ nem consta que tivesse biblioteca». Não gosto de pegar nas palavras, venham
de onde vierem, de forma absoluta. Vejamos, pela frase do poeta da «Mensagem», se
alguém me considerar inábil para falar de economia, o que até pode ser verdade,
outros, poderiam também considerar que não devia sequer aproximar-me de um livro
ou até de uma biblioteca.
Mesmo assim tendo em conta as muitas razões
para estar quieto no que diz respeito ao Orçamento de Estado 2016, escrutinar
os números e outros considerando de ordem técnica, coisa que não me compete nem
muito menos o sei fazer. Porém, posso engendrar alguns considerandos sobre o
que está envolto quanto à forma como o orçamento do meu país tem que ser elaborado.
Não é aceitável que tenha que ser de uma fora tão submissa, tão humilhante para
o governo e para o país inteiro.
Não pode ser aceitável, que tenhamos que
ir ao encontro dos mercenários (os famosos eurocratas) da Europa, que duvido
que saibam de finanças, como cordeirinhos pedinchar o aval sobre o orçamento
que orienta a vida do nosso país. Estes funcionários do capitalismo selvagem sabem
muito de economês e de dinheiro a rodos fruto da escarnação dos povos, isto é, não
parece, pensarem que existe povos que precisam de viver com dignidade.
A coisa funciona assim, logo no início
vai o esboço. Espera e desespera por um sim ou por um não. Eles é que sabem. A
seguir negoceia-se ao abrigo de condições que eles impõem com pouca ou nenhuma
margem de cedência. Até que por fim resulta não naquilo que podemos fazer, mas
naquilo que eles entendem que devemos fazer. Esta «porra» do «Portugal bom
aluno» foi a expressão mais irritante que se inventou para nos qualificarem na
Europa.
Mas as coisas não são iguais para todos.
Quem pode, porque é considerado grande, bate o pé e diz que não aceita. Os
eurocratas tremem. Portugal não pode fazer isso. É pequeno. Não tem voz. É «bom
aluno».
Ora façam-me um favor, batam o pé e
aceitemos o que for razoável e imponhamos o que podemos fazer, face às
condições criadas pela irresponsabilidade destes mercenários que comandam a
Europa neste momento. Não podemos vender a nossa dignidade. Somos um povo
digno. A nação mais antiga da Europa. Por isso, temos uma memória histórica
para defender. Temos um povo que não se vergou às forças exteriores no passado,
porque tem que fazê-lo agora...
O Papa alertou e bem para o seguinte:
«Assim como o mandamento “não matarás” define um limite a fim de salvaguardar o
valor da vida humana, hoje temos que dizer “tu não” para uma economia de
exclusão e desigualdade». A economia que comanda a Europa neste momento, porque
tem que saciar a ganância desenfreada de agiotas inumanos, caminha para o
descalabro social, porque tem como princípio basilar a desigualdade e a
exclusão. Tudo isto reflete-se nas políticas económicas desiguais que são impostas
aos vários estados que compõem a União Europeia. As políticas de luta contra a
pobreza são mínimas ou zero. O tratamento que é dado aos refugiados que chegam
à Europa em que resulta senão que alimenta a xenofobia e a prostituição. Assim
não…
Tenho uma enorme
simpatia e respeito pelo ideal europeu. Mas não me revejo neste momento numa
Europa que perde os valores humanistas, iluministas e cristãos que inspiraram
os pais da União Europeia.
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