
2. O cristão é aquele que vem, porque se
reconhece perdido, precisa de alimento, de esclarecimento e de perdão para as
suas limitações, as suas infidelidades e pecados. Por isso, reconhece Cristo,
como aquele que perdoa porque é o Filho de Deus, é o Senhor da vida que faz
retomar a esperança e a coragem militante na luta pela justiça na vida
concreta.
3. Pode não custar nada não ser cristão,
mas custa muito sê-lo com verdade e sinceridade. Quando se é cristão com
autenticidade nada faz perder essa condição. Mesmo sabendo que eles existem. Nenhum
escândalo, nenhuma desilusão, nenhum desapontamento, nenhuma expetativa
correspondida, permitem que se perca a condição do ser cristão. Não há nada
mais terrível quando se justifica os nossos desapontamentos com o comportamento
dos outros.
4. A desilusão do ser cristão não se dá tanto
por razões interiores de dúvidas, mas por razões totalmente exteriores e
frequentemente por causa da conduta dos outros, aqueles em quem foram dadas altíssimas
responsabilidades e neles depositamos as maiores expetativas. Quando se percebe
que afinal, desses tais, também pode vir o mal, para que serve ser cristão,
quando até custa menos não sê-lo.
5. Se não custa nada ser cristão, coisa
que não me parece ser assim tão linear. Ao contrário, custa ser cristão. Custa
o sacrifício da paz, porque a paz é a principal preocupação do ser cristão;
custa o sacrifício da segurança, porque a vida não se faz sem o abraço com os
outros, com a natureza; custa o sacrifício da alegria, porque a alegria é o
fermento da existência, a alegria indizível, inefável, mas também a alegria
concreta; custa o sacrifício da esperança, porque se crê na «vida eterna», com
os pés bem assentes no presente; custa reconhecer e testemunhar que Deus existe,
ponto essencial para se reconhecer cristão; custa reconhecer que Cristo, sendo
o maior derrotado da história, provocou a maior de todas as «revoluções», a
revolução do amor até pelos inimigos; custa anunciar a vida eterna e plena,
face a tanta miséria que a humanidade apresenta e que frequentemente nos faz
reconhecer que não devia haver compreensão, mas implacável justiça que levasse
à condenação todos os maus que este mundo apresenta; custa também saber que pode
existir a condenação eterna, porque não se reconheceu o mal e toda a desgraça
que se provocou…
6. Há uma infinidade de coisas que
custam muito ao cristão ter que dizer e procurar fazer, que se não pensasse nelas,
podia ser argumento que justificasse que afinal até ver, custa menos ou nada não
ser cristão.
1 comentário:
Caro Senhor,
Gosto sempre de passar pelo seu blogue. O motivo é simples! Gosto de ler assuntos que nos façam crescer, que nos questionem e nos façam pensar. E aprendo sempre com os seus textos e/ou dos convidados a dar opiniões diferentes. Gosto de me questionar o porquê das coisas, tal como as crianças fazer perguntas aos adultos, eu tento questionar as mesmas, e pode crer que as interrogações são muitas. Quanto à sua última questão, é tão vasta e complexa. Não sei o que a Igreja deseja dos seus cristãos ou o inverso. Penso que ser cristão poderá ser respeitar os outros ou ajudar os que mais necessitam. Isso por si só, é um acto de dar sem limites, um sorriso poderá ser um acto de solidariedade com um poder imenso e contudo, tão simples. E na sua simplicidade, ser um acto cristão.
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