1. Os mais preocupados com as igrejas
vazias são os que nunca lá colocam os pés ou muito raramente o fazem. Porque
este argumento está como bordão para ser utilizado sempre que tal se justifique,
normalmente, quando se quer justificar uma desilusão, uma desconfiança, um
preconceito, uma acusação, um desprezo ou outra coisa qualquer que não encaixou
naquela verdade que tomamos como nossa, só nossa. O fundamentalismo não está só
dentro das igrejas, dentro das religiões.
2. O cristão é aquele que vem, porque se
reconhece perdido, precisa de alimento, de esclarecimento e de perdão para as
suas limitações, as suas infidelidades e pecados. Por isso, reconhece Cristo,
como aquele que perdoa porque é o Filho de Deus, é o Senhor da vida que faz
retomar a esperança e a coragem militante na luta pela justiça na vida
concreta.
3. Pode não custar nada não ser cristão,
mas custa muito sê-lo com verdade e sinceridade. Quando se é cristão com
autenticidade nada faz perder essa condição. Mesmo sabendo que eles existem. Nenhum
escândalo, nenhuma desilusão, nenhum desapontamento, nenhuma expetativa
correspondida, permitem que se perca a condição do ser cristão. Não há nada
mais terrível quando se justifica os nossos desapontamentos com o comportamento
dos outros.
4. A desilusão do ser cristão não se dá tanto
por razões interiores de dúvidas, mas por razões totalmente exteriores e
frequentemente por causa da conduta dos outros, aqueles em quem foram dadas altíssimas
responsabilidades e neles depositamos as maiores expetativas. Quando se percebe
que afinal, desses tais, também pode vir o mal, para que serve ser cristão,
quando até custa menos não sê-lo.
5. Se não custa nada ser cristão, coisa
que não me parece ser assim tão linear. Ao contrário, custa ser cristão. Custa
o sacrifício da paz, porque a paz é a principal preocupação do ser cristão;
custa o sacrifício da segurança, porque a vida não se faz sem o abraço com os
outros, com a natureza; custa o sacrifício da alegria, porque a alegria é o
fermento da existência, a alegria indizível, inefável, mas também a alegria
concreta; custa o sacrifício da esperança, porque se crê na «vida eterna», com
os pés bem assentes no presente; custa reconhecer e testemunhar que Deus existe,
ponto essencial para se reconhecer cristão; custa reconhecer que Cristo, sendo
o maior derrotado da história, provocou a maior de todas as «revoluções», a
revolução do amor até pelos inimigos; custa anunciar a vida eterna e plena,
face a tanta miséria que a humanidade apresenta e que frequentemente nos faz
reconhecer que não devia haver compreensão, mas implacável justiça que levasse
à condenação todos os maus que este mundo apresenta; custa também saber que pode
existir a condenação eterna, porque não se reconheceu o mal e toda a desgraça
que se provocou…
6. Há uma infinidade de coisas que
custam muito ao cristão ter que dizer e procurar fazer, que se não pensasse nelas,
podia ser argumento que justificasse que afinal até ver, custa menos ou nada não
ser cristão.
1 comentário:
Caro Senhor,
Gosto sempre de passar pelo seu blogue. O motivo é simples! Gosto de ler assuntos que nos façam crescer, que nos questionem e nos façam pensar. E aprendo sempre com os seus textos e/ou dos convidados a dar opiniões diferentes. Gosto de me questionar o porquê das coisas, tal como as crianças fazer perguntas aos adultos, eu tento questionar as mesmas, e pode crer que as interrogações são muitas. Quanto à sua última questão, é tão vasta e complexa. Não sei o que a Igreja deseja dos seus cristãos ou o inverso. Penso que ser cristão poderá ser respeitar os outros ou ajudar os que mais necessitam. Isso por si só, é um acto de dar sem limites, um sorriso poderá ser um acto de solidariedade com um poder imenso e contudo, tão simples. E na sua simplicidade, ser um acto cristão.
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