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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O ateísmo dos crentes

o cura de Valverde de Lucerna, que conhecemos de uma famosa novela de Unamuno, o qual, sem acreditar em Deus nem na outra vida se esforçava por manter a fé dos seus paroquianos. Dizia: “a minha religião é consolar-me em consolar os outros, mas que o consolo que lhes dou não seja o meu”. Quantos fazem desse “consolo” puro negócio para os agonizantes e para as almas inocentes? A personagem de Unamuno era de ficção, mas existem casos reais. O cura de Meslier (1660-1733), pároco de Etrépigny, em Champagne, que na opinião de muitos, foi sempre um sacerdote cumpridor das suas obrigações, mas deixou ao morrer um manuscrito radicalmente ateu e anticristão, que passados já muitos anos ainda causa arrepios ao ser lido. Não quero com isto generalizar, mas só pretendo dizer que os homens e mulheres de fé, não tenham dúvidas ou não enveredem também pela suspeita e pela inquietação nas complexas fases da existência. A vida não é fácil para ninguém, nem para os mais crentes nem para os descrentes. Notemos no que dizia Santa Teresa do Menino Jesus: «a morte te dará, não o que tu esperas, mas uma noite profunda todavia, a noite do nada» (Teresa de Lisieux, «História de uma alma»). Nem as almas mais santas perante o olhar de Deus e da Igreja escaparam a essa tentação da dúvida. Não fôssemos nós todos feitos da mesma massa humana… E melhor do que nós sabe Deus dessa realidade.

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