Publicidade

Convite a quem nos visita

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A Quinta Pedagógica dos Prazeres

É óbvio que o remorso já anda no ar, porque ele é como um verme roedor que alanceia o coração e perturba a paz da alma.

Deve ser grande o regozijo interior do autor e fundador da quinta mais falada nos últimos vinte anos na Madeira e ultimamente por causa da saída do seu mentor e criador principal, Pe Rui Sousa. Não lhe faltam elementos anedóticos para se rir, eles são medalhas que lhe querem atribuir, coisa que naquela quinta é uma banalidade quase quotidiana. Dos produtos que a quinta produz, bem poucos é que já não foram medalhados. Há votos de louvor, que agora chovem quando isso não interessa para nada. Podia sim interessar apoios concretos, incentivos e carinho por uma obra já considerado um caso de estudo, porque ao contrário da maioria das obras que nascem por todo o lado e que trazem o condão de serem com jovens e para jovens, esta surge do regaço de uma população maioritariamente envelhecida. Esta obra trouxe as mãos já cansadas e os rostos enrugados de pessoas idosas, que ali descobriram que eram úteis, que produziam e que podiam acrescer um pouco mais à sua pensão de sobrevivência.

Tudo o que seja novo nesta terra é olhado com inveja, gera desconfianças, desprezo e nuvens colinosas que se acastelam no horizonte antevendo maus agoiros como adeja nos ares o francelho de garras aduncas. Ainda mais triste quando são as garras dos seus pares e da instituição que devia estar na linha da frente na defesa incondicional dos seus.

O Pe Rui Sousa «sai de cara levantada» como ele disse no Domingo no final da Missa do Santíssimo Sacramento, que ele vincou como sendo a sua última Missa como Pároco daquela Paróquia. Para minha felicidade estive presente, senti a comoção e a tristeza espelhadas no rosto das pessoas simples, os tais idosos que moveram mundos e fundos ao lado do seu timoneiro, para fazerem navegar o batel contra ventos e vagas alterosas das conjecturas vexatórias dos mercenários e das urtigas dos canteiros da religião.

Nos campos onde eram antes carquejas e silvados, nasceu trigo, aveia para alimento dos animais e pereiros que produzem pêros deliciosos para a cidra e os seus derivados. Na quinta germinaram plantas aromáticas, bagas de variada espécie e árvores de fruta que depois de transformadas deram licores e compotas maravilhosas premiadas internacionalmente.

Um homem, um padre, um povo simples, por sinal, maioritariamente idoso, emprestou a sua vontade, o seu querer, o cérebro e as mãos, para construir aquilo de que alguns diziam ser impossível e se fosse não passaria de anedota para entreter incautos.

Eis um oásis no meio de tantos desertos do vazio que nos rodeia, quanto à falta de criatividade, coragem e falta de vontade para sair das banalidades do status quo uniformizado para consumo sem reflexão, sem autonomia e muito menos sem sombra nenhuma de contestação.

Está aí a obra visionária do Pe Rui Sousa, que concretizou com vinte anos de antecedência a doutrina que o Papa Francisco delineou na sua Encíclica Laudato Si (24 de Maio de 2015). Uma «quinta Laudato Si», um claustro que faz sorrir São Francisco de Assis, um testemunho concretizado de que é possível salvar o Planeta, «a Nossa Casa Comum», tão ameaçado pela loucura da ganância da humanidade. A Quinta Pedagógica dos Prazeres, demonstra que é possível equilibrar a diversidade da natureza. Plantas, animais e pessoais inalando a mesma brisa que passa e todos em saudável convivência expressando a alegria de que é possível uma convivência conjugada na partilha fraterna da felicidade. O movimento que ali se gera nas tardes de Domingo, é bem revelador da importância educacional deste espaço e do quanto isto beneficia toda a a economia local da freguesia dos Prazeres, só não vê quem anda cego ou anda a dormir.

Para todos há o tempo para sair. Ninguém é eterno nas obras e neste mundo. Saber sair é benéfico e poder ser também motivo para rebentar novas ideias e novos rumos. Por isso, quero crer que a obra continua. Pois, é desejo de mais de metade deste mundo. Vamos crer que o bom senso prevalecerá e que esta obra será ainda melhor do que tem sido até agora. Se não for, prova-se mais uma vez que uns nascem para dar vida e outros nunca passam de medíocres cangalheiros sempre prontos para enterrar o trabalho dos outros.

A evangelização dos tempos de hoje não descuram nenhuma vertente humana e esta da diversidade ambiental está profundamente presente no Evangelho e sempre fez parte da doutrina do Cristianismo. Bastará nomear essas duas faces de uma mesma identidade ecológica, Francisco, o de Assis e, Francisco, Papa. 

Boa fortuna em saúde ao Pe Rui Sousa e bons auspícios para novos empreendimentos que estou seguro que surgirão, se lhe for emprestada mais vida e saúde. Um orgulho para mim especialmente que o admiro e de quem sou amigo.        

Sem comentários: