Publicidade

Convite a quem nos visita

terça-feira, 3 de agosto de 2021

Padre João Gonçalves

Sem filtros censórios, aqui está o discurso na íntegra proferido no Domingo dia 01 de Agosto, no final da Missa Nova do Pe João Gonçalves. Quem tem medo do pensamento livre está deslocado dos princípios evangélicos e destituído de sensibilidade face aos valores democráticos da liberdade (de expressão...), igualdade e fraternidade... 

Foto: Duarte Gomes

O Pe João na entrevista que deu ao Jornal da Madeira, falou do seu avô Lino, que o ensinava a olhar a natureza e a importância da sua harmonia para o nosso bem estar, pode, por isso, dizer aos Amasias deste tempo como disse o corajoso Profeta Amós a Amasias assim: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. ‘Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: vai profetizar ao meu povo de Israel’» (Amós 71,15). O zeloso sacerdote do templo real Amasias, queria um templo limpo, sem interferências laivosas de coragem profética ou outras investidas que viessem a perturbar a ordem estabelecida pela ordem real.

Felizmente, são ainda alguns homens e mulheres que hoje também podem afirmar o mesmo, diante das nomenclaturas da paz podre das sociedades montadas sobre a injustiça e as desigualdades sociais. Jovens conscientes deste mal são necessários cada vez mais, para que proclamem corajosamente a verdade e a justiça que os povos em todos os lugares do mundo buscam. Mas, é preciso estar sempre resolutamente seguro faz convicções porque as vergastadas da calúnia, a ama da difamação e tudo o que seja possível ser feito para abater os defensores do Evangelho vai sempre acontecer.

Para os tempos sombrios que nos assolam o Padre João é um sinal de esperança. E particularmente, para nós padres do funchal, esperamos que seja uma lufada de ar fresco para dentro de um presbitério oprimido pela tristeza, a divisão e o desencanto. E às vezes inverosímeis maldades de uns contra os outros. As chagas do Síndrome de Burnout clerical do nosso presbitério precisam do óleo rejuvenescido da tua esperança, sabedoria e entusiasmo.

Que o Pe João seja um facho de luz que ajuda a esbater as sombras da inquietação, da incerteza e dos «vazios» deste tempo, acentuados pela pandemia, como ele tão bem referiu na entrevista citada. É um rapaz corajoso, espiritualmente e intelectualmente bem preparado para assumir esta nova etapa na sua vida, o presbiterado. Pessoas deste jaez intelectual são bem vindas à construção desta obra misteriosa e inacabada de Deus. E quanta falta faz pessoas assim a uma Igreja da Madeira onde escasseia a reflexão amadurecida e o pensamento diversificado e livre! Já me deste mostras de coragem e determinação. São Fortes princípios basilares da idiossincrasia do ser padre. Bem hajas por essa surpreendente lucidez e coragem.

A vontade da casa paterna articulara-se para nomear de «João» o agora novo presbítero de São Roque do Funchal, o nome mais gracioso na cultura bíblica. João significa «Deus é cheio de graça»; «agraciado por Deus» ou «graça e misericórdia de Deus» e «Deus perdoa».

O nome João tem origem no hebraico Yehokhanan, Iohanan, composto pela união dos elementos Yah, que significa «Javé, Jeová, Deus», e hannah, que quer dizer «graça». Significa «Deus é gracioso, agraciado por Deus, a graça e misericórdia de Deus, Deus perdoa». Vocabulário sobejamente utilizado nas homilias e mensagens do Papa Francisco.

É um dos nomes judeus mais populares em todo mundo desde a Antiguidade, que como o tempo passou a ser comummente adoptado também pelos cristãos.

Vou voltar a pegar nas palavras do Pe João no Jornal da Madeira, onde revelaste uma nova linguagem, um novo discurso, uma profundidade teológica rara, coisa que não se via na Igreja da Madeira há vários anos. Pelas tuas palavras e pela graça do te nome, tens bagagem mais do que suficiente para ajudares a preencher os «vazios», como afirmaste belissimamente: «o papel do sacerdote é ir a esses lugares vazios e trazer uma nova esperança, uma nova alegria, uma nova cor que a mensagem do Evangelho sempre quer transmitir». Interessante diagnóstico dos «lugares vazios» e as «tantas feridas do nosso tempo», que fizeste sob a inspiração da inquietante autora Etty Hillesum que tanto admiras. Continua com essa feliz admiração por esta incontornável autora.

Pelo que deduzo os tais vazios são, o esquecimento dos valores universais, que foram substituídos por outras noções, entendidas como mais úteis ao único propósito da vida actual, nomeadamente, a satisfação do prazer e do ego de cada um. Por isso, estamos sob o domínio da ditadura da obsessão pela conquista do poder, a veneração da tecnologia que deu lugar ao vazio de Deus e da dimensão espiritual da existência, a mania da velocidade a decorrer sob a pressão desenfreada da pressa, a sede de dinheiro, a busca da fama e a fome das importâncias dadas por tachos e títulos anacrónicos, a relativização dos princípios e a subjugação de toda a vivência espiritual ao primado do materialismo que rebentou com todos os lugares antes ocupados pelos valores fundamentais que norteavam a nossa vida ocidental. A desvalorização da fraternidade e o sentido da igualdade ao jeito de Deus que se apresenta diante da nossa esperança e fé numa tríplice dimensão em igualdade de circunstância divina. A nossa Igreja Católica tem um papel crucial a desempenhar neste domínio para ser exemplo e luz para as sociedades.

Enfim, mais se poderia elencar. Vamos ao pequeno símbolo que a comunidade Paroquial de São Roque te quer ofertar, é uma estola bordada por mãos de uma senhora da Madeira. Este é um símbolo de uma história e de uma memória com duas faces, uma feliz e outra negra. Feliz porque salvou muita gente. Mas também negra porque o preço da manufaturação desta arte acarretou muitas dores físicas e psicológicas. Este sinal bordado da Madeira faz parte da nossa querida Madeira, onde a pobreza era a primeira paisagem, mas que poderia ser ainda pior se não existisse uma agulha segurada pelas mãos amorosas de tantas mulheres que nesse trabalho do bordado salvaram da fome a sua prole. Quando a ostentares, lembra-te dessa memória e que na Eucaristia que celebrares, se reavive em ti o desejo transformador do mundo para os desígnios libertadores de Deus.

Por tudo caro Pe João, bem vindo ao regaço do sonho transformador pelo serviço corajoso da partilha da vida feita pão partido do amor, distribuído para todos sem fazer aceção de ninguém. E que te ofereças sempre inteiro à religião emanação do Espírito e da vida. Sinto uma pena enorme por causa de não ter existido vontade e engenho para te valorizar em altos estudos fora do reduto ilhéu da menoridade em que vivemos e temo que o teu valor se reduza outra vez à condição de pião que andará de paróquia em paróquia apenas.

Oxalá o Espírito Santo te tenha traçado para altos voos. Parabéns a ti caro Pe João, aos teus pais e família e que a tua felicidade seja o primeiro motivo da nossa admiração por ti. Que Jesus de Nazaré seja sempre o teu único Mestre e que Nossa Senhora te proteja.

Sem comentários: