Sem filtros censórios, aqui está o discurso na íntegra proferido no Domingo dia 01 de Agosto, no final da Missa Nova do Pe João Gonçalves. Quem tem medo do pensamento livre está deslocado dos princípios evangélicos e destituído de sensibilidade face aos valores democráticos da liberdade (de expressão...), igualdade e fraternidade...
Foto: Duarte Gomes |
Felizmente, são ainda alguns homens e mulheres que
hoje também podem afirmar o mesmo, diante das nomenclaturas da paz podre das
sociedades montadas sobre a injustiça e as desigualdades sociais. Jovens
conscientes deste mal são necessários cada vez mais, para que proclamem
corajosamente a verdade e a justiça que os povos em todos os lugares do mundo
buscam. Mas, é preciso estar sempre resolutamente seguro faz convicções porque
as vergastadas da calúnia, a ama da difamação e tudo o que seja possível ser
feito para abater os defensores do Evangelho vai sempre acontecer.
Para os tempos sombrios que nos assolam o Padre João
é um sinal de esperança. E particularmente, para nós padres do funchal,
esperamos que seja uma lufada de ar fresco para dentro de um presbitério
oprimido pela tristeza, a divisão e o desencanto. E às vezes inverosímeis
maldades de uns contra os outros. As chagas do Síndrome de Burnout clerical do
nosso presbitério precisam do óleo rejuvenescido da tua esperança, sabedoria e
entusiasmo.
Que o Pe João seja um facho de luz que ajuda a
esbater as sombras da inquietação, da incerteza e dos «vazios» deste tempo,
acentuados pela pandemia, como ele tão bem referiu na entrevista citada. É um
rapaz corajoso, espiritualmente e intelectualmente bem preparado para assumir
esta nova etapa na sua vida, o presbiterado. Pessoas deste jaez intelectual são
bem vindas à construção desta obra misteriosa e inacabada de Deus. E quanta
falta faz pessoas assim a uma Igreja da Madeira onde escasseia a reflexão
amadurecida e o pensamento diversificado e livre! Já me deste mostras de coragem
e determinação. São Fortes princípios basilares da idiossincrasia do ser padre.
Bem hajas por essa surpreendente lucidez e coragem.
A vontade da casa paterna articulara-se para nomear
de «João» o agora novo presbítero de São Roque do Funchal, o nome mais gracioso
na cultura bíblica. João significa «Deus é cheio de graça»; «agraciado por
Deus» ou «graça e misericórdia de Deus» e «Deus perdoa».
O nome João tem origem no hebraico Yehokhanan, Iohanan, composto pela união
dos elementos Yah, que significa
«Javé, Jeová, Deus», e hannah, que
quer dizer «graça». Significa «Deus é gracioso, agraciado por Deus, a graça e
misericórdia de Deus, Deus perdoa». Vocabulário sobejamente utilizado nas
homilias e mensagens do Papa Francisco.
É um dos nomes judeus mais populares em todo mundo
desde a Antiguidade, que como o tempo passou a ser comummente adoptado também
pelos cristãos.
Vou voltar a pegar nas palavras do Pe João no Jornal
da Madeira, onde revelaste uma nova linguagem, um novo discurso, uma
profundidade teológica rara, coisa que não se via na Igreja da Madeira há
vários anos. Pelas tuas palavras e pela graça do te nome, tens bagagem mais do
que suficiente para ajudares a preencher os «vazios», como afirmaste belissimamente: «o papel do sacerdote é ir a esses lugares vazios e trazer uma
nova esperança, uma nova alegria, uma nova cor que a mensagem do Evangelho
sempre quer transmitir». Interessante diagnóstico dos «lugares vazios» e as
«tantas feridas do nosso tempo», que fizeste sob a inspiração da inquietante
autora Etty Hillesum que tanto admiras. Continua com essa feliz admiração por
esta incontornável autora.
Pelo que deduzo os tais vazios são, o esquecimento
dos valores universais, que foram substituídos por outras noções, entendidas
como mais úteis ao único propósito da vida actual, nomeadamente, a satisfação
do prazer e do ego de cada um. Por isso, estamos sob o domínio da ditadura da
obsessão pela conquista do poder, a veneração da tecnologia que deu lugar ao
vazio de Deus e da dimensão espiritual da existência, a mania da velocidade a
decorrer sob a pressão desenfreada da pressa, a sede de dinheiro, a busca da
fama e a fome das importâncias dadas por tachos e títulos anacrónicos, a
relativização dos princípios e a subjugação de toda a vivência espiritual ao
primado do materialismo que rebentou com todos os lugares antes ocupados pelos
valores fundamentais que norteavam a nossa vida ocidental. A desvalorização da
fraternidade e o sentido da igualdade ao jeito de Deus que se apresenta diante
da nossa esperança e fé numa tríplice dimensão em igualdade de circunstância
divina. A nossa Igreja Católica tem um papel crucial a desempenhar neste
domínio para ser exemplo e luz para as sociedades.
Enfim, mais se poderia elencar. Vamos ao pequeno
símbolo que a comunidade Paroquial de São Roque te quer ofertar, é uma estola
bordada por mãos de uma senhora da Madeira. Este é um símbolo de uma história e
de uma memória com duas faces, uma feliz e outra negra. Feliz porque salvou
muita gente. Mas também negra porque o preço da manufaturação desta arte
acarretou muitas dores físicas e psicológicas. Este sinal bordado da Madeira
faz parte da nossa querida Madeira, onde a pobreza era a primeira paisagem, mas
que poderia ser ainda pior se não existisse uma agulha segurada pelas mãos
amorosas de tantas mulheres que nesse trabalho do bordado salvaram da fome a
sua prole. Quando a ostentares, lembra-te dessa memória e que na Eucaristia que
celebrares, se reavive em ti o desejo transformador do mundo para os desígnios
libertadores de Deus.
Por tudo caro Pe João, bem vindo ao regaço do sonho
transformador pelo serviço corajoso da partilha da vida feita pão partido do
amor, distribuído para todos sem fazer aceção de ninguém. E que te ofereças
sempre inteiro à religião emanação do Espírito e da vida. Sinto uma pena enorme
por causa de não ter existido vontade e engenho para te valorizar em altos
estudos fora do reduto ilhéu da menoridade em que vivemos e temo que o teu
valor se reduza outra vez à condição de pião que andará de paróquia em paróquia
apenas.
Oxalá o Espírito Santo te tenha traçado para altos
voos. Parabéns a ti caro Pe João, aos teus pais e família e que a tua
felicidade seja o primeiro motivo da nossa admiração por ti. Que Jesus de
Nazaré seja sempre o teu único Mestre e que Nossa Senhora te proteja.
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