Todo o crime começa inocentemente ou com atitudes
manifestamente ingénuas.
Os alemães que escreviam sinais nas casas comerciais
dos judeus, começaram a participar num processo que levou à tragédia criminosa
da eliminação dos judeus. O mesmo se pode dizer de outros tantos milhões de
alemães que se deixaram ficar indiferentes ao que se estava a passar.
Também hoje assistimos a algo semelhante, com outros
contornos e em contextos diferentes, mas estamos a passar pela mesma indiferença
e pelo mesmo encolher de ombros.
A violência contra as mulheres que grassa pelo mundo
fora não pode ser resolvida com a ideia de que é um problema delas e de cada
povo onde tal violência está a ser legitimada com regras estapafúrdias impostas
pela loucura patética do machismo.
Os Direitos Humanos e a luta pela sua aplicação
universal, não podem ser um ornamento de retórica para encher a boca com
discursos hipócritas em determinadas ocasiões solenes. O mundo é um só, a
humanidade é uma só, por isso, é exigido aos responsáveis pelos povos que não
façam dos Direitos Humanos Universais tábua rasa e que tenham diante deles a pior
das atitudes, dois pesos e duas medidas.
Também faço parte do meio mundo que se escandaliza
com a leitura de São Paulo tirada da Carta aos efésios, que me custa a crer que
seja mesmo do punho do Apóstolo dos Gentios, este que se bateu com São Pedro
para que o Cristianismo não se reduzisse a meia dúzia de iluminados judeus,
porque a preciosidade que ele representava em termos de liberdade e dignidade
universal, não podia ser apenas uma simples seita para meia dúzia de judeus que
se tinha rebelado contra a religião judaica.
A leitura em causa é um manifesto absurdo de vocabulário. É urgente serem retirados estes termos desta passagem paulina, mesmo que digam que logo a seguir o texto é direto quanto ao amor que os maridos devem nutrir pelas mulheres. Digam o que disserem, expliquem o que quiserem explicar, mas estas palavras ferem os ouvidos: «Sede submissos uns aos outros, no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos maridos» (Ef 5, 21-23).
Quando se ouve
esta linguagem em qualquer circunstância, a consequência imediata é que se
deixe de ouvir mais nada do que vai ser dito. Neste sentido, por um lado,
mantendo-se este texto para uso nas missas, resulta no descrédito de São Paulo
e a sua riquíssima doutrina sai seriamente beliscada. Por outro, é a própria
Igreja Católica, mais uma vez a demonstrar como é adepta do machismo parolo,
mas, pelo que se vê, terrorista e violento que cresce por esse mundo fora.
Este texto deve ser banido das missas ou traduzido em linguagem decente, que não ofenda ninguém, mas que promova a responsabilidade de todos para com todos, sem quaisquer resquícios de maldade contra ninguém. Pois, Deus não é macho nem fêmea. É Deus, que não embarca em poderes loucos deste mundo que não olham a meios para se sentarem em tronos edificados com a carne e o sangue das vítimas.
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