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segunda-feira, 25 de julho de 2022

Sem futilidades nos descobrimos e entendemos


O domingo 24 de julho trouxe para a celebração da missa um texto do Evangelho de São Lucas sobre a oração. Jesus respondendo ao repto de um dos seus discípulos ensinou a oração do Pai Nosso. Mas, não foi só isso que fez simplesmente. Também aproveitou para fazer uma catequese sobre a ideia de Deus e de como Deus se posiciona face à oração de cada um.

Andei por aí a observar algumas homilias proferidas ontem e na maioria reparei que a oração se centrava na tónica da insistência. Para quem insiste na reza, quanto mais, melhor, está safo, porque há um deus a encher um depósito do muito palavreado que lá chega e quando atinge a medida, concede o que lhe pedem. Não embarco nesta ideia.

Não considero Deus um vendedor tipo de um basar chinês. Um comerciante ou negociante de milagres, curas e soluções para os problemas que nos compete encontrar.

Por isso, salientei a ideia de que a mensagem de Jesus era um valente puxão de orelhas a todos nós, que facilmente, fazemos de Deus um negociador. Uma entidade despenseira de milagres e de soluções para os problemas da existência, que nos compete resolver com simplicidade, humildade, justiça e verdade.

A mensagem é clara e pretende passar a ideia de que Deus é a Verdade Plena, a Suma Bondade, a Beleza incomparável e a Misericórdia Infinita. Por isso, não precisa de que a oração seja um desenrolar de coisas em cima de coisas, palavras e mais palavras. Bastam bons propósitos e sérios sentimentos, porque disse Jesus, «quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á».

Depois da oração do Pai Nosso vieram duas parábolas bem elucidativas, que pretendem dar uma ideia acerca de Deus como Pai, que não precisa de insistência nenhuma. A primeira, conta que um amigo recebe em casa outro amigo que vinha de viagem, estava cansado e com fome. O anfitrião não tinha nenhuma comida em cada para lhe dar. Pensou bater à porta do vizinho, que também era seu amigo, para lhe desenrascar um pão. Mas, visto serem altas horas da noite, não se levantou logo para satisfazer o pedido, barafustou e só depois de muita insistência veio furibundo à porta dar-lhe o pão, despachando o amigo com indisposição desmedida. O próprio Jesus interpreta o texto de forma magistral dizendo que ele não se levantou por ser amigo, mas por causa da insistência. Só faltou Jesus dizer, com Deus Pai que vos falo e apresento não é nada assim.

Mais adiante, temos então o puxão de orelhas propriamente dito. A segunda parábola são duas perguntas: «Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião»? E logo de seguida adianta: «Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!» - Melhor é impossível!

Tudo tão claro e tão óbvio, que faz pena ouvir e lerem-se autênticas barbaridades de bispos e padres que sem escrúpulos nenhuns distorcem o sentido das palavras.

É pena que não se aproveite para esclarecer e fazer crescer as assembleias litúrgicas, mas se contribua ainda mais para amedrontar as pessoas diante de uma imagem de um deus irascível, desmedidamente exigente e depositante de futilidades que se considera oração. Pois, só uma riqueza em nós bastará: «o Espírito Santo», que pode estar em forma de dons em cada pessoa: a sabedoria, o entendimento, o conselho, a fortaleza, a ciência, a espiritualidade e o amor de Deus. Mais palavras para quê…

1 comentário:

Severino Olim disse...

Que extraordinária reflexão. No fundo só importa os dons do espírito Santo. Um abraço Pe. José Luís.