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sexta-feira, 1 de julho de 2022

A Deus louvamos pelo dia da Região


Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses. Tem um nome cumprido e pomposo, como o ego de tantos os que fazem deste dia uma máscara polida e envernizada de fresco sem sumo e muito menos com a realidade autêntica de onde habitamos.

Ainda hoje haverá «Te Deum» na Sé do Funchal como «enfeite» do extenso programa do dia.

Acho bem que exista um «Te Deum» na Sé e devia até haver em todas as igrejas da Madeira, um louvor bem vincado pela libertação de um povo explorado, massacrado pela colonia e pelas íngremes desigualdades sociais que sempre marcaram (e marcam) população madeirense. A Autonomia ainda não fez valer o sol da justiça e da igualdade de oportunidades.

Já sei, não precisam de me lembrar, a igreja não deve «meter-se» em política. Porém, afirmo sem dúvida nenhuma, a igreja não pode ser um singelo brinquedo para o poder político se pavonear e receber elogios apenas. Na área do poder político muitos pensam que o papel da igreja se reduz a fazer salamaleques diante das suas passeatas. Não querem ser incomodados.

É triste constatar que na realidade têm sido correspondidos com o silêncio cúmplice da nossa igreja em muitos momentos, face a tantas situações que gritavam por um apelo, uma denúncia profética, uma palavra… Nada de nada foi o que veio sempre. Ficaram apenas as festas, os rituais e o verbo das generalidades.

Tudo isto é o pecado do esquecimento da igreja da sua dimensão libertadora do Evangelho e ficando-se no comodismo da «salvação das almas». Os corpos que se contentem com as migalhas que lhes chega.

É claro que à Igreja não compete governar. Ponto final. Mas como instituição com um mandato tão claro para evangelizar os pobres e defendê-los, não pode deixar de estar atenta à governação, e mais ainda do que isso, totalmente comprometida com a libertação dos excluídos, os sem poder reivindicativo, pela falta de bens materiais, educação, cultura e oportunidades para serem cidadãos de pleno direitos e deveres.

Estes momentos de «Te Deum» deviam ser ocasiões, não apenas para festa, pomba laudatória, rituais anacrónicos e generalidades ocas, mas um alerta e um sinal de compromisso na denúncia de uma certa maneira de exercício do poder quando resvala para os abusos, que em vez de resultar na melhoria das condições de vida do povo, ainda mais acentua as desigualdades e as injustiças.

Portanto, é dever da igreja «meter-se» na política, não de todo de qualquer jeito, mas ao modo de Jesus Cristo. Os Evangelhos estão cheios de exemplos.

É óbvio, que este dia deve ser bem vivido e celebrado. Mas, não apenas, como um intervalo nem muito menos como mais um feriado para gozar o descanso, sem pensar um pouco sobre o seu real significado, o que ele implicou no passado e para onde nos está a levar.

Este dia também deve ser associado à revolução do «25 de abril», que nos libertou das amarras de uma ditadura de 48 anos e nos abriu a porta para o futuro em liberdade. Urge, como cristãos, que não esqueçamos o quanto temos que nos alegrar com a liberdade e com a Autonomia da Madeira.

1 comentário:

Severino Olim disse...

Tudo dito sobre o papel da igreja nestes tempos tão conturbados para a bolsa dos madeirenses, sobretudo para aqueles que vivem de migalhas da rede de apoios regionais institucionalizada. Onde pára o grito da igreja de Cristo? Bem haja Pe. Luís Rodrigues por nós permitir refletir.