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domingo, 30 de maio de 2010

Mesmo sendo noite!

São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja Poema «Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé», Obras completas, Edições Carmelo, 2005 p. 68
«Um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza» (Prefácio)
I.
Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!
II.
Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
III.
Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
IV.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
V.
O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
VI.
É claridade nunca escurecide
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
VII.
Tão caudalosas são as suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
VIII.
Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
IX.
Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
X.
Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
XI.
Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e ás escuras,
Porque é de noite!
XII.
É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!

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