.
Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,
Que andaram contemplando a Lua branca e fria…
Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!
Já canta pelo azul sereno a cotovia
E já rasga o arado as terras fumegantes…
..
Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d’arsenais;
E bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais.
…
Acendei a fornalha enorme – a Inspiração.
Dai-lhe lenha – A verdade, a Justiça, o Direito –
E harmonia e pureza, e febre, e indignação;
E p’ra que a labareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!
….
Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!
O poeta é como o sol: o fogo que ele encerra
É quem espalha a luz nessa amplidão sonora…
Queimemo-nos a nós, iluminando a Terra!
Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!
Abílio de Guerra Junqueiro (1850-1923) Escrito/Poeta/Jornalista/Político Guerra Junqueiro, in Poesias “Dispersas”
Nota da redacção: Fica este belíssimo poema de Guerra Junqueiro, para homenagerar o espírito da República na celebração dos seus 100 anos. Nela permanece o bom e o mau da convivência humana. Este poema tem uma actualidade impressionante e melhor serve como grito para reclamar tudo o que a República podia fazer e que ainda não fez. Não tenho paciência para entrar pelos enredilados históricos das investidas da República contra as confissões reilgiosas, particularmente, a Católica. Acho que o mais importante não está aí...
Sem comentários:
Enviar um comentário