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segunda-feira, 9 de maio de 2011

apocalipse

virei
reiteradamente
como as estações das flores
virei como o animal ou o corsário
semear o vento que vos lembre a morte
(e vós que vos fechais em vossa vã imagem e vossos trapos,
vós que adorais Deus olhando-vos ao espelho,
tremei de vosso assento de carne fustigada
há muito que Ele deixou às vossas portas as sandálias)
virei na eclosão das vagas
envolto em tudo quanto a vida trabalha
virei no desregramento do vento
e em vosso pasmo assim eu cante o vinho
que sobe o rio às costas dos vindimadores
virei no circuito da palavra
que se quebra como um ramo de água
e deixareis as armas para falar sem ritos
morre-se quando de nós ficam ficaram restos
que ninguém recolhe virei no som de Stockhausen
e quantos desconstruíram a harmonia
e o mundo antigo para que habiteis o tempo
como quem habita as fontes
cheios de barulhos por dentro como o vinho
à cabeça das vindimadeiras
José Augusto Mourão
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Nota: O religioso dominicano José Augusto Mourão, professor na Universidade Nova de Lisboa e diretor do Instituto São Tomás de Aquino, morreu na manhã do dia 5 de Maio de 2011, anunciou o responsável da congregação, frei José Nunes.
“Era muito interessado no estudo, com uma capacidade invulgar de investigação”, referiu o superior à Agência ECCLESIA, acrescentando que José Mourão foi uma pessoa “extremamente intelectual e ao mesmo tempo muito sensível, vivendo a fé à flor da pele”.
Além de “grande poeta” – o volume ‘O nome e a forma’ reúne a sua poesia – o religioso nascido a 12 de junho de 1947 em Lordelo, Vila Real, tinha “grande sensibilidade litúrgica”, que expressou em “milhares de letras para cânticos religiosos”, assinalou José Nunes.
A obra de José Augusto Mourão cruza o saber científico, com estudos nos domínios da Semiótica e Linguística, com a pastoral e a espiritualidade – o último dos seus livros de homilias, ‘Quem Olha o Vento não Semeia’, vai ser lançado brevemente pela editora Pedra Angular.
Foi uma “pessoa muito próxima e simples, a quem devemos muito, e deixou um legado impar”, afirmou José Nunes, que destacou também a capacidade revelada por José Augusto Mourão na aproximação aos não católicos.
O superior da província portuguesa da Ordem dos Pregadores revelou que José Augusto Mourão “ofereceu o corpo à medicina”, pelo que a missa de corpo presente já foi celebrada no hospital onde faleceu, com a presença de um número reduzido de pessoas.
Hoje, às 21h00, celebra-se eucaristia no Convento de São Domingos, e para 14 de maio está marcada missa no Convento do Lumiar, ambos em Lisboa.
José Augusto Mourão deixou por escrito a vontade de que o seu corpo seja cremado, o que ocorrerá em data a anunciar.
In Ecclesia
Morreu um dos mais marcantes poetas da actualidade... Foi dele a citação que coloquei no cartão da minha Missa Nova em 1996. Paz à sua alma.

1 comentário:

Marilu disse...

Querido amigo, meu blog Devaneios está completando um aninho de vida, e gostaria de convidá-lo para comemorar. Tem um selinho lá para você. Tenha uma linda semana. Beijocas