Domingo III Páscoa
08 de Maio de 2011
Emaús aqui tão perto
A localização de Emaús tem diversas tradições, todas a Oeste de Jerusalém. Deste Evangelho, próprio de Lucas, discute-se a origem. Talvez seja um convite a percorrer o próprio itinerário de fé, caminhando com Jesus? – Esta visão basta para o que se pretende reflectir.
Toda a Páscoa é um convite a seguir o caminho da vida a bom passo. Nessa caminhada escuta-se a voz de Jesus Vivo e Ressuscitado, que garante que estará connosco mesmo que não o vejamos. O caminho faz-se andando, se quisermos fazer uma alusão aos poetas quando afirmam que «o amor faz-se amando» e a São João da Cruz que dirá: «o caminho faz-se caminhando».
Ora bem no texto do Evangelho descobrimos a imagem da humanidade em dois discípulos a fazer a caminhada até Emaús, mas, caminham consternados, derrotados e desiludidos com os factos recentes passados em Jerusalém. Qual humanidade hoje a fazer o caminho com o desalento e o desanimo, porque afundada pelas crises monetárias, pelas guerras inacabáveis, pelas violências constantes... Nesse caminho, Jesus lança-nos a pergunta: «que fizestes do dom da Minha Morte Pascal?» E nós fazemos outras: foi em vão a Sua morte? Não serviu para percebermos que só pelo amor a humanidade será feliz? Não percebemos ainda que a dignidade humana e os Direitos Humanos devem ser respeitados para que a humanidade inteira se realize na harmonia do bem? Não serviu para perceber ainda que Deus nos criou para a vida e não para a morte? Para onde caminhas humanidade, que te auto flagelas e matas frequentemente? (…)
Todas estas questões fazem sentido porque a humanidade continua atada às suas razões e por isso não vê as potencialidades de vida em abundância que Jesus nos oferece com a Sua Páscoa. Jesus, ao falar da Bíblia aos discípulos, revela-lhes o caminho e a mensagem que se levada à prática pode libertar do lamaçal em que a humanidade tantas vezes se deixa atolar.
Então Jesus faz-nos esta pergunta, «porque vos evadis das noites escuras?» E responde na intimidade de cada um, «quando anoitece Eu fico convosco partilhando as vossas trevas». Esta proximidade faz com que cada pessoa encontre força e ausência de medo para seguir adiante fazendo o caminho que conduz ao Emaús da felicidade que a Ressurreição de Jesus nos oferece.
A refeição, é o lugar do encontro, o Sacramento dessa presença misteriosa, porque só «reunidos à mesa Me reconhecereis Ressuscitado». A importância da Eucaristia vê-se claramente neste encontro de Emaús. No partir do pão Jesus é reconhecido e convida à saída de si mesmo para se lançar ao encontro dos outros, especialmente, os mais necessitados, para viver a densidade eucarística da partilha fraterna. Cada momento desse encontro é uma meta que dá entusiasmo à vida, porque retempera na coragem e lava ao desprendimento de si para se abrir aos outros.
Nesta abertura à partilha no itinerário da fé, sentir-nos-emos comunidade que peregrina para a Páscoa definitiva. Por isso, pedimos «Senhor, Tu que fazes connosco este caminho aberto ao Transcendente, faz que não nos detenhamos até chegar ao encontro definitivo». Afinal, o Emaús de cada um de nós pode estar longe materialmente falando, mas com Jesus Ressuscitado ao nosso lado, podemos afirmar, «Emaús aqui tão perto».
JLR
3 comentários:
Que delícia para a alma ler seu post. A caminho de Emaús é uma passagem rica em significados e o senhor os abordou muito bem! Parabéns! Um abraço!
Muito obrigado amiga Maria Luiza. Tudo de bom para si... Abraço!
Padre José Luís que lindo texto. A sua abordagem toca-nos na totalidade do nosso ser: indivitual e comunitário. Jesus não nos ensinou a ser individualistas ou a criar modelos ou estereótipos de comunidades , até mesmo religiosas demasiados rígidas e ríspidas.Se falo neste momento ou em outros tempos anteriores da igreja católica é pq acho-a muito disciplinadora, admoestadora.Está-nos sp em ensinamentos moralistas sobretudo os que se prendem com a sexualidade . Jesus não se preocupou muito com essa parte do humano. Queria-o livre e independente perante as suas escolhas de, tal maneira, que elas incidissem sp no outro, na irmã e no irmão.isto é , no amor ao próximo sobretudo aos mais pequenos. Não no salve-se-quem-puder. Mas salvar todos e todas. A Ressurreição é um acto de recriatividade do Deus que nos criou e que nos queria feitos à sua imagem e semelhança. Esta sociedade e mundo, tal como estão, é a negação de Deus e anti-evangélica. Todos estamos a precisar de um novo Emaús.Precisamos de novos caminhos. Vem, Senhor Jesus!
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