Nota: Texto de um famoso católico francês Charles Péguy. Serve para vivermos com muita esperança estes dias. Não nos rebaixemos diante do Mistério. Contemplemo-lo e coloquemos a nossa existência ao nível de Deus, porque é disso que se trata quando celebramos uma Páscoa que dizemos de Deus, mas é mais «a nossa» Páscoa, este tempo que sempre nos renova para a vida cheia de amor e de esperança...
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É de nós que Deus aguarda
A coroação ou a descoroação de uma esperança sua.
Terrível amor, terrível caridade,
Terrível esperança, responsabilidade verdadeiramente terrível,
O Criador tem necessidade da sua criatura, pôs-se a ter necessidade da sua
criatura.
Nada pode fazer sem ela.
É um rei que tivesse abdicado nas mãos de cada um dos seus súbditos.
Simplesmente o poder supremo.
Deus tem necessidade de nós, Deus tem necessidade
da sua criatura.
Por assim dizer condenou-se assim, condenou-se a isso.
Fazemos-lhe falta, a sua criatura faz-lhe falta.
Aquele que tudo é tem necessidade de aquilo que nada é.
Aquele que tudo pode tem necessidade de aquilo que nada pode.
Ele entregou os seus plenos poderes.
Aquele que é tudo nada é sem aquele que nada é.
Aquele que pode tudo nada pode sem aquele que nada pode.
Assim a jovem esperança
Retoma, reverte, refaz.
Restaura todos os mistérios
Como restaura todas as virtudes.
Nós podemos fazer-lhe falta.
Não responder ao seu apelo.
Não responder à sua esperança. Ser-lhe um defeito. Faltar-lhe.
Não aparecer.
Terrível poder.
Os cálculos de Deus mediante nós podem não dar certo.
As previsões, as previdências, as providências de Deus
Mediante nós podem não dar certo,
Pela falta do homem pecador.
Os conselhos de Deus mediante nós podem faltar.
A sabedoria de Deus mediante nós pode falhar.
Terrível liberdade do homem.
Nós podemos fazer que tudo falte.
Podemos estar ausentes.
Não acudir no dia em que nos chamem.
Podemos não responder ao apelo
(Exceto no vale do Juízo)
Terrível favor.
Podemos fazer falta a Deus.
Eis a situação em que ele se pôs,
A má situação.
Pôs-se no caso de ter necessidade de nós.
Que imprudência! Que confiança!
Se bem se mal colocada, de nós depende.
Que esperança, que teimosia, que preconceito, que força incurável de esperança.
Em nós.
Que despojamento, de si, do seu poder.
Que imprudência.
Que imprevisão, que imprevidência,
Que improvidência de Deus.
Nós podemos faltar.
Nós podemos fazer falta.
Nós podemos falhar.
Terrível favor, terrível graça.
Aquele que tudo faz dirige-se àquele que nada pode fazer.
Aquele que tudo faz tem necessidade de aquele que nada faz.
E como nós dobramos os sinos com toda a força pela Páscoa,
A bom dobrar,
Nas nossas pobres, nas nossas triunfantes igrejas,
No sol e bom tempo do dia da Páscoa,
Assim Deus por cada alma que se salva
Dobra e redobra os sinos da Páscoa eterna.
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Charles Péguy
In O pórtico do mistério da segunda virtude
(Imagem Google)
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