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quarta-feira, 7 de março de 2012

Mulheres da desconstrução

As mulheres que ousaram desconstruírem os esquemas impostos pelo machismo vigente em todos os momentos da História, são muitas e a Bíblia está cheia delas. Delas emerge uma ousada «descrença» que impõe uma ruptura de um certo paradigma do mundo em muitos lugares e de muitos modos. Nada disto revela uma destruição do que quer seja, mas uma interessante interpretação, uma visão do mundo e quiçá de Deus e de todas coisas que a Ele diz respeito.
Neste sentido, que dizem as mulheres de si mesmas? Que pensam e dizem de Deus? Como dizem Deus? Que importância têm os «lugares» que ocupam na sociedade, na família e na Igreja? – O mais importante é que digam de si e com isso acrescentem mais humanidade à Humanidade. Ora bem, vejamos algumas mulheres bíblicas que ousaram desconstruírem: Eva, Sara, Rebeca, Raquel, Rute, Ester Judite, Maria Madalena, Maria (Mãe de Deus).
Eva. A mulher que ousa «violar» a proibição de tomar para si e para o seu companheiro o fruto proibido. Então, dizem-nos as crónicas que Adão e Eva perderam tudo de uma vez – a inocência, o domínio, a imortalidade, o paraíso e a segurança. Em troca, receberam a culpa, a competição com os animais, a expulsão, o medo, a luta pela sobrevivência, a morte... Porém, daqui se apreende que um casal em relação de perfeito amor pode suportar todos os tipos de sofrimento.
Sara. Esposa de Abraão. Estéril. Uma desgraça na cultura bíblica. Porém, a sua fé em Deus será compensada com a bênção de um filho, mesmo após a tropelia em ter permitido que a sua escrava Agar coabitasse com Abraão. Desta relação nasceu o filho da discórdia, Ismael. No entanto, não será esta malfeitoria que fará Deus abdicar da sua promessa. Já com idade avançada Deus anuncia a Sara que ela conceberá e dará à luz um filho. Nasceu Isaac. Sara «riu-se». Esta descrença desconstrói e, afinal, desmorona todas as interpretações que se fazem em relação a Sara como mulher, temente, fiel e submissa a Deus e ao marido.
Rebeca. A mulher trabalhadora, generosa e amorosa perante os outros. Uma fé inabalável diante de Deus. Três momentos de desconstrução na vida de Rebeca. Primeiro, teve que se separar das pessoas que amava quando partiu para Canaã. Ela partiu para esta terra distante sabendo que nunca mais veria os seus pais, os seus irmãos mas, pela determinação, ela conseguiu superar este momento. Segundo, Rebeca sabia que o que existia de pior no casamento era o período de adaptação. Adaptou-se à vida de casada e dá um testemunho de muita felicidade. Terceiro, Ela teve que passar vinte longos anos sem ter filhos. Era estéril e isto a deixava preocupada e angustiada. Mas as suas preocupações chegaram ao altar de Deus e Ele ouviu a sua oração e foi abençoada por Deus com dois filhos gémeos: Esaú e Jacob.
Raquel. A «Rosa amorosa». Pastora. A trabalhadora. Esposa de Jacob. Após um longo período de esterilidade e após a «permissão» para que Jacob coabitasse com as duas escravas, gerou dois filhos para grande felicidade de Jacob que amava imenso a sua esposa legítima. Raquel morreu no parto do segundo Filho.
Rute. Nome que significa «amizade». Na Bíblia Grega e Latina, este nome aparece associado ao «livro de Rute», é um dos livros históricos do Antigo Testamento da Bíblia vem depois do Livro do Juízes e antes de I Samuel. Aqui merece destaque para a desconstrução o facto da protagonista do livro ser uma estrangeira, e isso mostra que a salvação não tem fronteiras, e que o amor de Deus não é nacionalista, nem exclusivista.
Ester. A exilada. Órfã de pai e mãe. Ester era Judia, uma mulher do povo e muito bela. A sua beleza física destacava-se. Mas, por ser judia, era marginalizada. Será esta mulher que intercede pelo povo judeu, muda a sua história e evita a desgraça. Uma lutadora do bem comum e que não se valeu da sua condição e da sua beleza para fazer imperar só e unicamente interesses pessoais, mas o bem para todos.
Judite. Outro nome associado a um livro do Antigo Testamento. O livro relata a história de uma piedosa viúva que sai da cidade cercada e dirige-se ao acampamento do exército inimigo. Com a sua beleza envolve o comandante, que se embriaga durante um banquete e será assassinado pela heroína desta história. Apesar da crueldade, o Livro de Judite indica que a fé autêntica é aquela que encarna a fidelidade a Deus e ao Seu projecto dentro da situação histórica concreta do povo. Deus estará sempre aliado àqueles que lutam para conquistar a liberdade e a vida, procurando destruir toda e qualquer forma de escravidão e morte. Tal luta, porém, não deve realizar-se de forma temerária. É preciso agir com discernimento, para realizar a acção verdadeiramente eficaz, coerente com a fé que se leva para a vida.
Maria Madalena. Segundo o nosso imaginário, e segundo nos fizeram crer... Foi uma prostituta arrependida que seguiu Jesus. Estudiosos afirmam que Maria Madalena pertencia a uma linhagem real da dinastia de Benjamim e que tinha um caso, ou melhor, era casada com Jesus… Neste sentido, basta referir para que cada um de nós possa fazer a sua síntese sobre esta figura bíblica com os elementos seguintes: Maria Madalena é uma figura multifacetada e fugidia, resulta de múltiplas interpretações a partir da história real e de construções, sonhos, expectativas, repressões, mas, não deixa de ser sempre fascinante e provocatória, prostituta, amante e esposa, pecadora e penitente, pagã e cristã, ideal da mulher apaixonada que segue Jesus Cristo.
Maria, Mãe de Jesus. A mais importante mulher da história do Ocidente. É ela a que mais ajudará na desconstrução. Maria de Nazaré foi sempre considerada ao longo dos séculos como a Mãe Imaculada, a mulher submissa à virgindade e endeusada no papel de Mãe, coisa que os textos bíblicos facilmente desmentem e falam-nos de uma mulher interventora, discípula, determinada que antes de ser Mãe, ouve a Palavra de Deus e a coloca em prática. Eis o papel do discípulo/a, aquele ou aquela que se coloca aos pés de Jesus para escutar a Sua Palavra. Maria, trata-se de uma mulher activa, que vai ao encontro dos outros e resiste de pé firme ao pé da cruz. Antes de ser a Mãe, é a discípula que escuta, mas avança na entrega total à causa de Jesus.
Finalmente, que em cada momento e circunstância histórica, cada mulher diga de si mesma o que o seu interior perscruta de Deus e que a sua condição em nenhum lugar se apague ou se masculinize, mas antes seja sempre valorizado por todos para que esta vertente essencial da Humanidade, humanize sempre o mundo com o dom da paridade, o feminino e o masculino.
Quanto à Igreja Católica, que continua agarrada ao machismo anacrónico, não toma o exemplo das mulheres bíblicas e toda a plêiade de mulheres que dentro e fora da Igreja ousaram desconstruir o status quo imposto pela nomenclatura eclesiástica e da sociedade. Que Deus nos ajude a todos na «luta» constante pela desconstrução de tudo o que põe em causa a construção de mulheres e homens livres á luz do Evangelho de Jesus de Nazaré.
José Luís Rodrigues

2 comentários:

maria disse...

gostei muito.

linkei.

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Gostei muito deste interessantissimo texto no qual faltam encaixar outras mulheres que tb deram um sorriso a algumas estruturas, sobretudo,ao nivel eclesial e politco. Conheci estas: Maria Lamas, Lourdes Pintassilgo e Ana Vicente e Catalina Pestana.