Há dias assim. Por
momentos perdemos o chão. Parece que tudo se esvai ou porque o céu caiu-nos em
cima ou porque nada se encaixa no que nos parece inverosímil acontecer. A
fé, deixa de existir porque nem sempre nos damos conta do que se vai passando e
damos relativa importância a muitas coisas que nos rodeiam. Mas neste mês de
Agosto tive um dia em que o vivi sem fé nenhuma em nada nem em ninguém. Que me
perdoe Deus por este dia e por este vazio que se instalou dentro da alma.
Alguns poderão aferir e
perguntar, se acontece isto a um padre quanto mais ao comum dos fiéis… Acontece
a todos independentemente da sua condição, da sua vocação e profissão. Mas que
raio de dia foi esse? Aqui vai. Dia 10 de Agosto de 2012, uma notícia.
A
Notícia em altas parangonas anuncia que 16 festeiros gastam 310 mil euros num
arraial ao Santíssimo Sacramento na Paróquia da Boaventura. Está a decorrer por estes dias. Onde se afere que o
mais importante que apraz salientar é o seguinte: «É uma festa que ficará nas
bocas do Mundo». Pelas piores razões e se ficar será negativamente. Sem dúvida
que ficará nas bocas do mundo, mas entalado na garganta do Santíssimo
Sacramento, que se engasga com tudo o que seja injustiça e caridade barata. Ou
quiçá profanação de alto grau. Seria possível a sobriedade e ninguém se indignaria
com tamanhas barbaridades.
Porém, grave, em tudo
isto são duas coisas. Primeira existir um povo «superior» que se amarfanha,
corre atrás da pimbalhada e profanação que tudo isto representa. Segundo,
alguns indignaram-se com isto, outros apontam que resulta de uma promessa e que
o dinheiro pertence aos 16 cavalheiros, que podem fazer com aquilo que é seu o
que muito bem entendem e que quem se indigna está invejoso.
Sim, pode até ser uma promessa,
mas por favor, sejamos coerentes e não se indignem com as pernas a escorrer
sangue quando vemos pessoas a se arrastarem no Santuário de Fátima. Também cumprem
uma promessa e fazem-no porque acreditam, em nome da fé, dizem.
Uma ressalva. Sou
literalmente contra esta forma de pagamento de promessas, mas também o sou com
as outras que implicam gastos exorbitantes, em qualquer tempo e contexto,
especialmente nestes, onde se sabe de gente a passar fome. Um arraial com este
gasto astronómico é um ultraje a quem se alimenta com a caridade dos outros,
porque está no desemprego e não tem o suficiente para matar a fome dos seus
filhos. Mais ainda, escute-se o que diz o Catecismo da Igreja Católica: «Os bem
da criação são destinados a todo o género humano. O direito à propriedade privada
não abole a destinação universal dos bens» (nº 2452). Nem mais.
Alguns poderão ainda crucificar o padre ou os padres das paróquias onde se realizam estes exageros. Não é tarefa fácil educar ou travar estas megalomanias. Porque a maioria do povo aceita e aproveita à brava estes momentos. E quando se trata de comezainas e festanças bastam alguns para incendiar o povo contra os padres e contra a igreja. Aos padres nestas situações, reza a experiência, que o melhor é «deixar andar», são apenas dois ou três dias, no caso 5 dias de glória para as vaidades e os abusos. É uma atitude para alguns que revela medo, covardia, mas considero estar cheia de sabedoria, porque se não se ganha amigos com tal atitude, também não se ganha inimigos. Por isso, deixa andar. Nós lá teremos o ano inteiro para cumprir o nosso dever e tentar «educar» o povo para o essencial. Porém, não devemos ser coniventes com os abusos e na medida do possível não participar ou selecionar muito bem em quais as ramboiadas é que devemos participar. O exemplo vindo de cima nestas coisas ajuda e muito.
José Luís Rodrigues
1 comentário:
Totalmente de acordo com o que diz. Eu também fico indignada ao ver usar as festas religiosas como pretexto para gastos exagerados, em espectáculos musicais, banquetes, fogo de artifício, etc.
Precisamos é de gente com coragem para dizer o que pensa, sem medos nem receios. Bem haja por isso!
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