Comentário à Missa deste domingo IV Advento, 22 de Dezembro 2013
Apetece-me começar assim, Deus
não clama por caridade, mas por justiça.
Nunca
se viveu um tempo como o nosso onde se fale tanto em solidariedade, caridade,
partilha, dádiva… Entre tantas outras palavras que apelam a uma prática que
leva cada um a pensar nos outros, especialmente, os mais necessitados.
É
urgente dar lugar à esperança nesta hora de sofrimentos vários, de dores
desmedidas e de desesperos angustiantes. Não há tempo a perder-se, cada um trás
em si o lugar de Deus. O lugar do Seu nascimento.
Mas
que lugar tão pobre, dirão os mais exigentes! Sim, pobres todos os corações
humanos, mas lugares eleitos para o nascimento de Deus, o Senhor da esperança e
da salvação para todos. O Deus da vida partilhada não se deixa intimidar com a
pobreza de cada um. É dos pobres que Deus gosta. É dos lugares pobres que se
faz a eleição para Ele nascer, não como caridade, mas por elementar desejo que
se faça justiça.
Este
tempo, é especial. Este tempo do espectro da crise que a todos inquieta face ao
futuro. Este tempo dos cortes salariais e do desemprego que condena várias
famílias à fome e especialmente crianças a não saborearem algo especial no
Natal e quem sabe pior do que isso, ter que irem para a escola sem se alimentarem
convenientemente ou a estarem sujeitas à marginalização perante os coleguinhas,
porque não têm vestidas as roupas que os mais novos estandardizaram para o
momento. Não receberam brinquedos, coisa que os coloca fora do convívio normal
com os amigos e colegas. O tempo onde nos surpreendemos ou não com mais pobreza
e caímos na real de quanto é vulnerável a condição humana e tudo o que essa
condição humana criou como definitivo e acabado. Tudo surpreendente para nós
que nos habituamos à Internet, às viagens frequentes de avião, ao bem-estar
social e económico... Tudo parecia assegurado e garantido, mas, afinal,
facilmente desmoronaram sobre as nossas cabeças as torres de Babel, que, teimosamente
erguemos até ao mais alto dos céus.
«...Ele
nascer de novo...» - pensaremos - dê por onde der, Ele vai nascer de novo!
Basta de solidão, basta de ódios, basta de sofrimentos em tantas almas que
nunca souberam o que é a paz, a felicidade da existência e o gosto de viver com
o necessário para ser verdadeira humanidade.
Este
Deus que quer nascer de novo e que nos desafia a nascermos também em nome do
amor infinito pelos homens e pelas mulheres, faz-se criança, símbolo da
esperança e da confiança de que da miséria é sempre possível comunicar o
sentido e a feliz notícia da Boa Nova do Reino. Bom Natal para todos.
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