1. Terrorismo doméstico, silencioso, por
um lado, estridente, por outro, quando tomamos conta das suas consequências.
2. As notícias de hoje dão conta que pelo menos nove mulheres
foram assassinadas em Janeiro, só no primeiro mês do ano de 2019. Ontem,
soubemos que um monstro matou à facada a sogra, fugindo com a filha menor, esta
manhã descobriram a menina morta dentro da bagageira de um carro. Em poucas
palavras eis o enrendo de uma longa metragem que há muito tempo deve ter sido rodado
nesta família.
3. A sociedade em geral é machista e
patriarcal, institui e valoriza práticas sociais que desqualificam ou menorizam
as mulheres. Estas práticas contribuem para que todos os dias do ano tenhamos
uma cultura de violência contra as mulheres, particularmente, a violência
doméstica e a violação, porque, por mais que se pinte de cor de rosa um dia do
ano dedicado à mulher sempre haverá homens que são levados a crer que têm o
«direito» de cometer diversos tipos de violência contra a mulher, inclusive a
violência física, emocional, psicológica e sexual. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se
prestarem a isto. Denunciem, não deixem passar o primeiro beliscão ou puxão de cabelos, não calem o que não deve ser calado, lutem pela dignidade, sejam as protagonistas da igualdade de tratamento e de oportunidades. Ninguém é dono de ninguém e ninguém é mais do que ninguém. O mesmo discurso serve para os lugares onde a violência é exercida da mulher contra o homem, mesmo que em menor escala.
4. A crueza dos números é preocupante.
Mas salta-me à vista e provoca-me um arrepio haver gente que considera existir
atitudes violentas que podem ser consideradas de normais. Tem que haver causas,
que necessariamente, conduzem a isto. Tem que existir instâncias e pessoas
culpadas desta vergonha. O ambiente de casa também deve estar a ajudar imenso
neste descalabro. A escola faz o que pode, mas os alunos são o espelho do que
receberam em casa, do que vão vendo na televisão e na internet. Obviamente, que
não quero ser injusto e ofender ninguém, mas os pais devem ser colocados à
cabeça dos responsáveis por esta tragédia social. Porém, e essencialmente, tudo
isto é bem revelador do desastre da falta de valores em que vivemos em toda a
linha. E nesta crise, destaco o vazio de autoridade a que o ambiente geral
condenou todas instâncias da educação.
5. A humanidade está em marcha atrás e vai
para aquele ponto de onde, felizmente, tínhamos saído da violência famosa que
várias vezes ouvimos, «quanto mais me bates, mais gosto de ti», ou da pancada
com o ramo de flores, ou ainda da fatalidade do «tirano no seio do lar» que
tanta instabilidade emocional provocava nos membros da família.
6. Não se mata em nome
de nada nem em nome de ninguém. É isto que penso, é isto que procuro viver e
ensinar. Nada deste mundo e do outro vale mais do que uma vida humana. Por
isso, não se resolvem os problemas a tiro ou com outros instrumentos que se
sabe à partida que vão tirar a vida a uma pessoa. Ninguém merece que assim
seja. Nenhuma necessidade por mais urgente que seja merece que se viva com a
violência na ponta dos dedos e com o coração carregado de ódio. Há meios
próprios, mesmo que tantas vezes morosos e injustos, mas é nesses lugares que
se deve procurar remediar as injustiças e o cumprimento da lei. O dia hoje
começou negro e triste.
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