Morreu o Padre Mário de
Oliveira, de Macieira da Lixa, Concelho de Felgueiras. O antifascista,
contra a guerra colonial, solidário e crítico, Mário de Oliveira faleceu esta
quinta-feira aos 84 anos.
Mário de Oliveira, conhecido como o
Padre Mário da Lixa, por ter sido pároco de Macieira da Lixa, em Felgueiras,
nasceu a 8 de Março de 1937 em Lourosa, Santa Maria da Feira.
Foi ordenado padre em 1962, tendo
sido depois coadjutor na Paróquia das Antas, no Porto, professor de Religião e
Moral nos Liceus Alexandre Herculano e D. Manuel II. Depois foi enviado para a
Guiné-Bissau como capelão das tropas portuguesas. Foi, dizia, “pregar o
Evangelho da Paz aos que lá faziam a Guerra Colonial”. Ao fim de quatro meses
foi expulso.
Morreu o Padre Mário Pais de
Oliveira, da Lixa (1937-2022). Um homem solto e à solta, que nunca se amarrou a
nenhuma ideia nem a nenhum pensamento único, fosse ele religioso, político ou
social.
Sempre nutri por ele
admiração, por nunca deixar por mãos alheias o que pensava, não tinha medo de
expressar esse pensamento, mesmo que chovessem os piores impropérios contra si.
Os «donos» da Igreja Católica, que vomitam o diferente todos os dias, tinham-no
como louco, por isso, estava excomungado e excluído, como se isso fosse um
castigo… Afinal, devia ser para ele o melhor que lhe podia acontecer, como
corolário da sua liberdade e do seu bom uso do pensamento próprio e fora da
caixa.
Não era apreciado por
muitos, particularmente, pela maioria da hierarquia religiosa católica e pelos
ditos mais devotos de uma mariologia desencarnada, fora da realidade concreta,
mercantilista e dispensadora de milagres avulso. Tinha uma frontalidade
invejável e um sentido crítico que partia tudo sobre as coisas alienantes da religião.
Daí que esta hora seja importante para agradecer o quanto ele foi útil para nos
fazer pensar e a não engolirmos tudo sem mastigar, acefalamente.
Fora das poeiras das
celeumas e disputas polémicas que levantou era um homem bom, que acreditava na
humanidade, no Deus Pai e Mãe e em Jesus de Nazaré como um libertador das misérias
que levam a humanidade à indignidade opressora. Era implacável com todas as
formas de poder absoluto, que imponham a ignorância e vergavam os povos ao
sofrimento e à morte. As suas palavras era como que setas certeiras no olho das
cangas infames dos poderes que ao invés de servindo os povos, produziam gente doente
e escravos alienados.
A sua cativante simplicidade
despertava a nossa atenção e fazia-nos perceber que não podem existir assuntos
tabus na Igreja Católica.
Fátima foi o seu ponto
principal na luta por uma religião ao jeito do Evangelho de Jesus. Fátima era
um tabu que reunia ( e ainda reúne) uma unanimidade perigosa na Igreja inteira
e numa parte relevante da sociedade portuguesa. Ao Padre Mário de Oliveira
devemos expressões fortes «contra» uma Fátima fora do bom senso e contra a
lógica salvadora/libertadora do Evangelho. Foi o Padre Mário de Oliveira que
nos ajudou a desmitificar tudo o que tinha de menos bom na envolvência de
Fátima.
Muito obrigado, Padre Mário
de Oliveira.
Agora que o descanso o
intrépido homem e padre seja iluminado pela luz da verdade eterna, que por ela
lutou afincadamente.
2 comentários:
"Daí que esta hora seja importante para agradecer o quanto ele foi útil para nos fazer pensar e a não engolirmos tudo sem mastigar, acefalamente".
Obrigado pelo seu texto.
Agradeço o seu texto, e junto-me à sua solidariedade ao falecido padre Mário.
Pêsames!
Desejo saúde ao padre Rodrigues, Rodrigues.
Atentamente
Paulo Melich
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