Publicidade

Convite a quem nos visita

domingo, 6 de março de 2022

O que não é sagrado é segredo

Já tinha encerrado este dossier. Mas a força de uma manchete arrastou-me mais uma vez para o assunto. 

Um órgão de comunicação social da nossa praça hoje (06 de Março de 2022) foi buscar mais um arrazoado de uma argumentaria à Diocese do Funchal sobre a venda do Seminário da Encarnação, vulgo Seminário Verde. A mesma conversa falaciosa para justificar o que não é muito fácil de justificar e sobre o que está mesmo em causa disse zero. Mais uma vez expõe o que interessa… Porque na mente de alguns religiosos católicos o que não é sagrado é secreto. Mantém-se este o velho princípio para assassinar de morte a rebuçado da sinodalidade.

O órgão de comunicação social do burgo, transcreve uma salgalhada de paleio para proclamar alto e bom som que o Vaticano, essa autoridade supra suma da moral e dos bons costumes, autorizou a venda do património dos madeirenses, este de que falamos e mais o restante que está para vender.

A talho de foice vamos lembrar algumas coisas escritas pelo Papa Emérito Bento XVI, por exemplo disse assim: «Quando se suprime a justiça, o que são os reinos senão grandes bandos de ladrões?» (está escrito na primeira Encíclica de Bento XVI, Deus Caritas est, em 2005). Também se devem lembrar do famoso discurso do Papa Bento XVI, que ao aludir ao ninho das eminências purpuradas, se sentia rodeado de corvos. Já não chamo à colação os discursos e mensagens contundentes do Papa Francisco ao pessoal trabalhador do Vaticano nos últimos anos por ocasião do Natal.

Portanto, o Vaticano que venda o que lhe pertence. O Vladimir Putin também entende que a Ucrânia é dele. Alguma vez participou o Vaticano com alguma coisa para segurar a Igreja da Madeira? – Melhor seria que o Vaticano, quando vendesse alguma coisa deveria, isso sim, pedir autorização aos fiéis da Madeira. A conversa deve ser precisamente ao contrário para sermos honestos.

Assim, dizem falando grosso, a alienação do Seminário teve a anuência do Vaticano e foi «aprovada com uma abstenção» na ilha. Faltou ainda acrescentar que também foi aprovado ignorando-se deliberadamente todos os padres da Madeira, porque não são «queridos» cónegos. Não esquecer que vender bens alheios alguma vez pode dar para o torto.

Faz agora 40 anos que acompanho o desenrolar da história da Igreja da Madeira, já deu para ver e ouvir muita coisa, e perceber que a religiosidade não livra ninguém da manhosice. Por isso, se querem continuar a infantilizar as pessoas atirando areia para os olhos, pois continuem, havemos de nos proteger, com a graça de Deus.

Esta conversa de que o Seminário se vai converter numa escola, é bonita e encanta os incautos. Mas, alguma vez passa pela cabeça de alguém ficar seguro de que quem compra uma propriedade vai fazer dela aquilo que o vendedor quer… Alguma vez se acredita que se for vendido um bem o antigo dono vai determinar o que quer que seja sobre esse bem depois de vendido… Eu não tenho fé para acreditar nisso.

Um outro aspeto fervorosamente piedoso. Num repente a sociedade da Madeira inteira foi contaminada por uma nova estirpe de Coronavírus, chama-se padres velhinhos. Este interesse enternecedor até me faz lagrimar de comoção a alma. Nada disto não me soaria a conversa fiada se eu fosse um marciano acabadinho de aterrar na ilha e não soubesse do historial triste relativamente aos padres idosos da Diocese. Engraçado que o Vaticano nunca se importou com isto, porque será?

Mas, vamos ainda a mais um exemplo vergonhoso que contam os últimos anais. É sobre a famigerada Obra Dona Eugénia Bettencourt, porque parece que as pessoas já esqueceram. Alguém sabe de algo de monta dos bens destinados em testamento para os cancerosos da Madeira, onde se falava que havia a intenção de ser feito um hospital para esse fim? - Nada foi feito e os bens foram revertidos para outros fins. Algum património foi expropriado para betão e outros bens são segredo, porque o que não é sagrado é segredo. Resta que a vontade da benfeitora Dona Eugénia foi cumprida pouco ou nada. O sr. Rufino Teixeira, o testamenteiro, andou numa luta inglória nos tribunais, e resultou que ele é que foi vencido pela lei da morte sem conseguir nada relativamente ao cumprimento daquilo que estava destinado no testamento.

Vamos ser sérios e deixar de andar com joguetes manhosos, porque ninguém me convence com piedosas intenções. Preciso de ver realidade concreta e só por aí se pode avaliar a autenticidade de uma religião.

Quanto ao Vaticano, é melhor deixar esse símbolo triste do «sacro império da cristandade» em paz, porque pelo meio podem lá chegar alguns «negócios» muito miseráveis cujas consequências podem fazer levantar as pedras da calçada.  

1 comentário:

Aderno disse...

#Melhor seria que o Vaticano, quando vende alguma coisa deveria, isso sim, pedir autorização aos fiéis da Madeira."
Muito bem dito.
Ainda ha gente que pensa nesta terra.
O meu reconhecimento.