Nota: Um texto que nos lembra das injustiças do mundo que nos rodeia. Uns, que açambarcam tudo sem nunca se fartarem, outros, que padecem de mão estendida a pedir compaixão para a sua miséria. Ambos pobres da vida que foi criada como maravilha, mas que tomada de assalto pela ganância e pela insensibilidade, votou a humanidade à irremediável desgraça da infelicidade. Escutemos Sophia de Mello Breyner Andresen, na sua inquietude e que tal pensar um pouco que é importante nos desinstalarmos do comodismo e da indiferença absurda perante tudo o que alguns (poucos, mas poderosos) teimam em impor como fardos pesados aos outros a preço muito alto... Eis a voz de uma grande mulher:
..
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
..
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
..
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
..
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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