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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Os Desastres Económicos em que se Caiu

Os sonhos do “25 de Abril”: liberdade, democracia e progresso, empurraram Portugal para a União Europeia, a moeda única e o consumismo. E todos fomo-nos instalando numa vivência social cor-de-rosa, com hipers e supermercados por todo o lado, construções habitacionais que dão quase duas casas para cada família, um parque automóvel com mais de um carro para cada adulto, roupas a preço de feira, mobilidade de circulação e de conversação constantes, tudo num facilitismo impressionante de função. E o dinheiro circulava por todas as mãos.
O grupo humano mais cliente e dinâmico foi a juventude, gente nascida na década dos cinquenta e depois, fora da dureza da ditadura e sem experiência da rudeza do atraso e das carências do Estado Novo. Instalaram-se nas asas do facilitismo, convictos de que a vida era isso mesmo.
Agora aconteceu o desastre. O facilitismo aterrou paralítico. E todos estamos estatelados num tempo de desgraça, cinzento e sombrio.
Por que razão isto aconteceu? Simplesmente por falta de respeito pelos alicerces das comunidades humanas. Fomos e estamos sendo conduzidos por políticos fracos e oportunistas e por grupos financeiros, ciosos de lucros gordos e múltiplos. Estes arrasaram o trabalho e as empresas, obrigando-as a saltitar de uma nação para outra, numa habilidade para a sucção do seu âmago. O resultado foi: muitas e muitas empresas nas prateleiras da falência, os trabalhadores no desemprego e na miséria, mas eles muito mais gordinhos.
Estamos perante um ataque à vida. Vivemos numa sociedade esfaqueada.
O dinheiro é o sangue social das comunidades. O trabalho gera riqueza e a riqueza dá-lhes vida e mobilidade. Mas o dinheiro foi aprisionado, caiu nas mãos de usurários e agora quase só funciona como objecto de aluguer. Por assalto o dinheiro deixou de ser um bem social e passou a senhorio opressor. A que título? Descubram a justiça e a dignidade deste processo.
Concretizando a crise que nos sufoca: O dinheiro, o suor de tantas gerações sequentes desde há milénios, património vivo de todos, tornou-se propriedade privada. Ainda não todo. Os governantes reconhecem os roubos e desvios feitos como protegidos por um estatuto invisível e intocável e reconhecem também este grupo possuidor como parceiro no poder. O parque laboral das comunidades, desmantelado e falido, precisa de retoma. A funcionar dará mais uma nova remessa de lucros. Há que conseguir capital para cobrir as dívidas existentes e para recuperá-lo. Como proceder? Indo às vítimas e impor-lhes impostos pesadíssimos e redução dos seus direitos sociais.
As pessoas do povo sempre foram quem suportou as guerras, pagou as dívidas e cobriu as crises. Pelos vistos, segundo os governantes e seus apoiantes, terão que continuar como património de recurso.
E o povo aceita? De facto tem-se manifestado muito contra. Os movimentos de indignação multiplicam-se e as greves são anunciadas. Mas o povo tem algo contra si próprio. Anda vestido com o uniforme da democracia dos grandes. Por outras palavras: as pessoas têm sido educadas para dadores de votos. As eleições têm funcionado como as palmas nas celebrações e festas, em que só algumas são conscientes e verdadeiras.
Os que são eleitos, seguros pelos votos que receberam, podem funcionar como lhes convém. O povo não lhes pede contas, arca simplesmente com as consequências. Já muitas pessoas não votam, mais de 40%. Contudo o não votar não é protesto, nem iliba a pessoa dos desastres na cidadania.
Algo está a faltar.
Votar não é dar licença para ser explorado. As pessoas, todas as pessoas têm o direito de ver projetada a sua dignidade de cidadania nos resultados da governação.
Os pobres não podem viver restritos à sua vida pessoal e familiar e, nas horas muito duras, saírem à rua de mão estendida. Os pobres não são destituídos nem das faculdades mentais nem das capacidades de trabalho. O exercício das suas faculdades e capacidades fazem parte da vivência e do desenvolvimento comunitário. A desvalorização do valor trabalho e o desemprego significam pura e simplesmente exclusão social.
O povo terá que saber sair de vítima da desgraça política. A democracia participativa terá que funcionar, para que se vão destruindo os bezerrinhos de ouro, os privilégios e a exclusão social.
Mas exige de cada um muita participação activa e responsabilidade. Nada disto é frango assado que caia do céu.
Mário Tavares
Nota do autor do blogue: Publico com a devida vénia este texto do Padre Mário Tavares, porque merece ser lido. É um contributo importante para a reflexão e tudo o que se possa fazer pelo debate de ideias nestas circunstâncias em que estamos a viver será um grande bem que fazemos a todos nós. Pena que este texto tenha sido enviado para as Cartas do Leitor, mas não mereceu qualquer importância. Ou passou simplesmente despercebido ou não se encaixou nos critérios seguidos por quem tem a responsabilidade de selecionar as cartas do leitor a serem publicadas. Mas este texto ao pé das babuseiradas que muitas vezes ali aparecem não sei o que diga... É assim o mundo e a vida, digo-o com muita pena!

3 comentários:

José Leite disse...

Mário Tavares merecia outra tribuna. Se tecesse um panegírico ao PR ou a algum ministro teria outro destino.Há mais de trinta anos que venho denunciando o regabofe nas camaras, nos governos. Chamaram-me maledicente, invejoso, cobarde, por fazer denuncias públicas de vários atropelos graves à legalidade.Neste momento vou publicar um livro em que a personagem central é um padre que denuncia esses abusos como corolário da sua pastoral, do seu conceito de intervenção cívica. É caluniado, perseguido, difamado... a tudo resiste e consegue alterar o status quo local. Talvez seja publicado em Janeiro. O país precisa de transparencia e coragem para denunciar os abusos, os roubos, as hipocrisias.

José Luís Rodrigues disse...

Obrigado amigo pelo seu contributo. Muita força e coragem para si... Faça nos chegar o seu livro, se for possível.

Cisfranco disse...

Texto fabuloso que merece ser pensado.
Obrigado