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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Comentário à Missa do próximo Domingo

Domingo XXIX Tempo Comum
16 de Outubro de 2011
César e Deus
A tensão entre religioso e político, entre Deus e César, é uma constante de ontem como de hoje. O então primeiro-ministro da França Eduard Balladur, viu-se em apuros, para responder à interpelação sobre as implicações da encíclica Evangelium Vitae. Pior ainda para Balladur, foi conciliar a sua admiração por João Paulo II sem deixar de insistir no respeito pelo princípio de que “as leis da República se aplicam a todos e por todos devem ser respeitadas”. “A cada um a sua função” - respondeu o primeiro-ministro. “O papa tem razão em recordar os grandes princípios morais e o meu governo tem razão em elaborar as leis mais equitativas. Votámos uma boa lei sobre a bioética e temos o dever de proteger as pessoas da SIDA, promovendo o uso de preservativos. ‘Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
São estas reacções excessivas que sempre manifestaram o teor da tensão e a incompreensão geral sobre esta temática. A maior parte das vezes os pronunciamentos do Magistério da Igreja colidem com as perspectivas políticas manifestamente interessadas noutros domínios e caminhos puramente mundanos. Quanto à Igreja cabe-lhe manter-se fiel ao seu Mestre e ao seu ensinamento. De outra forma, o dinamismo redentor de Jesus Cristo perder-se-á irremediavelmente na poeira dos séculos.
Desafiado, um dia, a pronunciar-se sobre a legitimidade de pagar o tributo a César, Jesus pediu que lhe mostrassem um denário. Sabia claramente que tanto a moeda, cunhada com a efígie de (Tibério) César, como a inscrição, Tiberius Caesar divi Augusti filius Augustus, ofendiam a sensibilidade judaica de quem o interpelava. À humilhação de ter em circulação uma moeda duma potência estrangeira e de com ela ter de pagar imposto a um imperador gentio, havia a acrescentar a indignação religiosa provocada pelo epíteto de “divino” atribuído a outro que não ao Deus de Israel. Jesus parece jogar todos estes elementos à cara de quem lhe colocou a questão. Jesus pronuncia a frase que ficará célebre em todos os tempos com um rigor teológico exemplar: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
O desejo de poder e de domínio nada são perante a sublimidade de Deus. A escolha não tem meio-termo na frase de Jesus: ou César ou Deus. Por isso, os «casamentos» entre poderes produzem amigalhaças e subjugam a verdade a favores mútuos que cerceiam a liberdade e a dignidade. Estão fora de Deus o poder temporal que manda rezar face ao poder religioso que manda votar tendenciosamente. A afirmação de Jesus é clara e não deixa margem para dúvidas. Dar a César o que é de César, é devolver-lhe uma moeda com a sua efígie, para que o poder imperial possa manter a administração e os laços de comércio que a moeda representa. Mas, dar a Deus o que é de Deus, é recusar a César o poder absoluto que de si mesmo se atribui.
A moeda representa tudo o que de bom se pode construir, mas também representa tudo o que de mau se implementa nas relações sociais. Com a moeda constrói-se o bem, edifica-se tudo o que o homem precisa para se promover como tal, mas também com ela nasce o que não presta: os negócios comerciais com drogas e com toda a espécie de crime. Quanta morte indiscriminada e injusta por causa do dinheiro?; Quanta desordem nas famílias e nas comunidades por causa da moeda?; Quanta luta feroz nas empresas, na política e em todas as instituições sociais por causa do vil metal?; Etc. - (Continuem com a lista!).
A religião, é desafiada a centrar o seu pensar e actuar na fidelidade a Deus e a tudo o que representa a palavra: “Deus”. A Igreja, aprende a situar-se no seu lugar e é desafiada a assumir a sua única e ulterior razão de ser: Mãe e Mestra. Sem nunca se subjugar a nada e a ninguém. Deve procurar viver no desprendimento dos bens, como se isso fosse, o sustento único do seu amor pela humanidade toda.
JLR
Imagem Google

1 comentário:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Obrigado Amigo e Irmão pela sua interpretação do Evangelho do próximo domingo. Quiseram desafiar Jesus sobre o que significar "dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Jesus foi claro na separação que fez nesses dois poderes. O Estado para mim deve ser laico .Protector dos direitos universais dos cidadãos, não obstante, a igreja como companheira dos homens e mulheres tb deve ser ouvida e escutada na defesa desses direitos que nem sp são respeitados por estados déspotas e autoritários. Felizmente, que houve homens da igreja que souberam fazer esse discernimento e, por isso mesmo,pagaram o preço da cadeia, dos crematórios e do sangue . Mártires sp houve na Igreja verdadeira de Jesus.Mesmo aqueles teólogos que dizem verdades sobre uma interpretação mais exacta do Evangelho. Foram proscritos , muitos que eram bons professores afastados das suas cátedras. Então aqui nesta nossa terrinha nem se fala....Mas deixemos este "cesar " converter esta igreja à submissão e a caminhar sp escondida a fingimentos de que nada tem a ver com o poder.Quando ela própria está tb no outro lado da efígie do "monarca" regente. Vivemos uma igreja diocesana envergonhada e tímida em relação ao poder. Nem uma palavra se houve por parte do bispo e de sacerdotes com excepção da sua carta-artigo no DN. Porque aqui a moeda é a mesma . Vem, Senhor Jesus, queremos caminhar Contigo nestas incertezas do mundo actual.