Comentário à Missa do próximo domingo
Domingo XXXI Tempo Comum
30 de Outubro de 2011
Os textos da missa do domingo 31º do Tempo Comum, fazem uma interpelação séria a todas as autoridades sobre a coerência dos valores e princípios do Reino. Na primeira leitura um “mensageiro de Jahwéh” desafia os sacerdotes de Israel. Eles deixaram de seguir a Lei de Deus e não conduzem o povo para Deus. Os interesses pessoais estão sempre em primeiro lugar, os seus deveres foram esquecidos, a Lei nada tem a ver com o querer de Deus, foi adaptada ao seu egoísmo e à perversão que intentam realizar contra o povo. Eles são os principais responsáveis do afastamento do povo em relação a Deus. Neste contexto, o anúncio de Deus é bem claro, não pode tolerar tal comportamento e vai tirar-lhes a máscara e o poder, que virou instrumento maquinal contra o povo.
O testemunho do Apóstolo Paulo é deveras desconcertante e está num contraste claro em relação ao primeiro texto. O esforço missionário, gerou uma comunidade cristã em Tessalónica viva na esperança e fervorosa na fé em Jesus Cristo. O anúncio do Evangelho feito com amor, humildade, simplicidade, gratuidade… Gerou uma comunidade exemplar na prática quotidiana do Reino de Deus.
O Evangelho fala-nos do grupo dos fariseus. Faz-lhes uma crítica severa quanto à pretensão de quererem ser donos da verdade, as suas incoerências, o seu aparecer espampanante, a sua frieza ao amor e à misericórdia. Tudo isto serve para que as comunidades cristãs e humanas não se tornem insensíveis à prática da fraternidade, não se deixarem levar por atitudes semelhantes às dos fariseus.
A dureza do Evangelho contra este grupo reveste-se de uma importância muito grande para os nossos dias. Estamos em tempo de crise, o seu combate torna-se cada vez mais premente, a necessidade de sacrifícios parece inevitável. Mas, o que é que se vê? – Medidas que cortam a torto e a direito, totalmente, insensíveis em relação às circunstâncias de cada pessoa e família. A realidade dura do quotidiano parece nada dizer a quem aplica as medidas, quais fardos pesados para os mais fracos carregarem, mas «eles» tudo fazem para fugir ao rigor dos sacrifícios e salvaguardam antes os seus interesses pessoais.
A actual classe dominante, quer religiosa quer política, pouco se importa com os mais fracos e os pequenos da sociedade. As Igrejas nada fazem para criarem comunidades de irmãos. É pena que nela às vezes sejam tão determinantes os títulos, os lugares de honra, os privilégios, a importância hierárquica… Na comunidade cristã, a única coisa que devia ser determinante é o serviço simples e humilde que se presta aos outros. É isto que temos visto? – Não, não é isto que vemos. Têm sempre muito valor, na Igreja, os títulos, as posições hierárquicas, a visibilidade, os cargos, os privilégios, os lugares de honra. Facto que contribuir imenso para criar divisões que mancham a fraternidade e que negam os princípios sobre os quais se constrói o Reino. Este modo de vida das nossas comunidades cristãs fica assim marcada por lutas pelo poder, conflitos, ciúmes… A fraternidade e o amor, são enviados às calendas e apenas preenchem os belos discurso que se vai fazendo dentro de portas das igrejas sem que fora das suas portas se permita transparecer uma réstia de prática que dê autoridade a tais discursos.
Mateus faz esta incursão contra os fariseus para que toda a autoridade, política ou religiosa, esteja centrada no serviço ao bem comum. Mais ainda diz que, quando alguém se arroga ao direito divino de se instalar na cadeira do poder e se assume como único e decisivo dono da verdade, pode cair na tentação de se substituir ao Evangelho pelas normas pessoais, pelas leis, esquemas, visão de Deus e do mundo. Perigoso este caminho, que se converte em ninho de fundamentalismo terríveis contra o bem dos outros.
O problema da imagem nas comunidades é sempre um drama muito grande e facilmente se inventam esquemas para vender uma imagem construída no interesse pessoal, para que os aplausos e a admiração dos outros se faça sentir. As aparências são muitas vezes o pão-nosso de cada dia de muitas pessoas ligadas aos poderes nas comunidades. Este farisaísmo atravessa toda a vida humana. Jesus pretende ensinar que a mentira como regra de vida e a cultura da imagem sem consistência real, rouba a paz do coração, a alegria e a serenidade, põe em causa o testemunho do Reino, mina as pessoas em geral e põe em causa a fidelidade ao Evangelho.
As exigências e obrigações que muitas vezes andamos para aí a impor aos outros, são meios que criam escravidão, oprimem as consciências das pessoas até ao dia em que descobrem a pouca seriedade e incoerências que daí advêm. Por isso, chega de medidas absurdas, anacrónicas em todos os domínios, especialmente nas igrejas, que metem medo, que impedem os filhos de Deus de serem livres e felizes. Face a esta investida de Mateus, urge uma Igreja que viva a radicalidade do Evangelho e que deixe de viver das aparências, que suje as mãos com o trabalho do Reino em favor de todas as pessoas, particularmente, os mais fracos, os sem vez e sem voz na sociedade.
JLR
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