Um bispo mais solto, longe, muito longe da imagem que tínhamos quando era bispo titular da Diocese do Funchal. As amarras do poder são terríveis. Aqui temos uma prova bem evidente de quanto esta constatação é bem verdadeira.
Muitos acharão que poderei não estar a ser sério quanto a estes destaques e a louvar esta entrevista. Foram muitas as minhas posições críticas quanto a pronunciamentos e atitudes pastorais de D. Teodoro de Faria. Hoje, muitas delas estão mais que reconhecidas que foram relevantes e até em diálogo com D. Teodoro de Faria após a sua saída, deu para constatar que em muitas existia razão de serem no sentido que foram. Bom, passado é passado. Vamos ao que importa hoje…
Destaco cinco momentos da entrevista que para mim são de elementar importância.
Primeiro momento. Faz referência à vinda do Banco Alimentar para a Madeira e como será uma mais-valia para ajudar a minorar as dificuldades que as famílias madeirenses vão atravessar. Muito importante esta posição face às investidas horríveis que alguns têm intentado levar a cabo contra esta iniciativa.
Segundo momento. A necessidade de revitalizar-se ou criar de novo a «Comissão Diocesana Justiça e Paz». Ideia que já vinculei ao D. António Carrilho, actual bispo diocesano. Até agora nada e prevejo que não se fará nada, zero neste sentido. Bem-haja o D. Teodoro de Faria por ter feito referência a esta necessidade. Precisamos como pão para a boca de espaços que reflectiram sem medos e sem qualquer amarra todas as questões que nos inquietam sobremaneira. Esta comissão seria muito importante para fazer pensar a nossa terra e prestar um serviço importante à Igreja da Madeira. Mas enquanto falar mais alto o preconceito, as amarras do poder, a intriga palaciana e outras sombras que abafam a nossa Igreja Diocesana pouco ou nada se consiguirá neste sentido. Porém, resta a esperança de que o Espírito Santo nos guie a todos para o caminho do bem...
Terceiro momento é sobre o Jubileu dos 500 anos da Diocese do Funchal em 2014. Cito a passagem sobre o programa que está a ser cumprido: «às vezes como diz o povo ‘quem muito agarra pouco apanha’…». Ora, ora, ora… O perigo do activismo para encher o olho faz muito mal e pouco ou nada deixa para o futuro.
Quarto momento é sobre o fim dos dois primeiros anos de Teologia para os Seminaristas do Funchal (este momento é deveras importante, porque imperou muita ignorância e um economicismo preocupante que prejudica em muito a reflexão na Diocese): «Havia um equilíbrio. Acharam por bem que fosse tudo para Lisboa. O Seminário do Funchal ficou infantilizado. Ter alguém que está um pouco mais elevado ajuda a subir. Uma Diocese nunca deve nivelar por baixo». Digo, posição de luxo.
Quinto momento. Face aos rumores que dizem que andam alguns padres muito empenhados na venda do Seminário da Encarnação, vulgo Seminário verde, D. Teodoro coloca o dedo na ferida e desmonta por completo tais propósitos absurdos. Repare-se: «Não sei como está. Só falo até há cinco anos atrás. Quando me perguntaram da Secretaria da Educação se era para vender, olhei para a porta e há uma placa de mármore que diz Seminário da Encarnação. Aquela colina foi um lugar de combate, que começou em 1640. Aquele Seminário formou gente que tornou a Madeira ilustre e conhecida. Aqueles que são responsáveis pela solução que peçam ao Espírito Santo para os iluminar que lhe dêem uma solução segundo a vocação originária». - Aqui está o que deve ser dito e tomado em linha de conta. Ninguém na Diocese é dono de nada. Os padres não são donos dos bens da Diocese. O seu património é de todos os madeirenses e isso deve ser muito bem ponderado.
Uma última palavra sobre o Jornal da Madeira. Diz D. Teodoro: «Agradeço a Deus por não ter esse problema». Porém, foi o sr. D. Teodoro juntamente com ilustre Cónego Tomé Velosa (já falecido) os «pais» deste bicudo problema. Só para lembrar. No entanto, havendo vontade e coragem penso que será um problema que se resolve numa frase e que pode ser a seguinte: «Meus senhores do Partido político que sustenta o Governo Regional da Madeira, fiquem com o Jornal da Madeira por completo, não queremos pactuar com esta política, vamos fazer um órgão de informação à nossa medida e de acordo com as nossas possibilidades financeiras. O nosso órgão servirá para anunciar o Evangelho de Nazaré, será para ajudar na Evangelização da nossa terra e não será a voz de ninguém deste mundo» (esta frase é minha, porém, se quiserem podem utilizá-la para resolver o «problema monstruoso» que dizem ser o Jornal da Madeira).
José Luís Rodrigues
(Imagem Dnotícias...)
3 comentários:
Li este seu comentário com um sorriso amplo. E a pensar que a coragem e persistência (e um saboroso sentido de humor) em utilizar pensamento próprio, o defenderão de todas as "alergias" que a sua atitude provocarão, inevitavelmente, entre os seus pares e não só.
Muito obrigado Maria... Tudo de bom para si.
Na verdade a teia do poder prevalece na Igreja; não só na Igreja particular como no próprio Vaticano.Basta ler as notícias sobre fábricas de armamento, lavagem de dinheiros e outras, ainda piores. Uma vez empossados perdem o desprendimento, a lucidez, esquecem as promessas e a alegria da ordenação. Não gostei de D. Teodoro como bispo, acho até que algum mal fez à Igreja Madeirense, inclusivé, na pessoa de alguns Sacerdotes. Reconheço-lhe, contudo, o conhecimento litúrgico. E alegra-me, agora que passo a "ex" que recupere o discernimento.E que Deus o ajude ...
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