Texto sobre o Padre Martins Júnior, publicado no livro que aqui se apresenta na imagem. Tenho a honra de participar neste interessante livro com um leque muito variado e grande de testemunhos sobre esta figura incontornável da nossa terra. Fica hoje este registo de parabéns ao padre Martins Júnior e que o seu testemunho mesmo que esteja ostracizado ou na margem faz jus ao Evangelho de Jesus de Nazaré que toma a peito todos os que não têm lugar nem vez na sociedade e no mundo. Os poderosos desta vida lá vão singrando por algum momento no alto do seu poder, mas também é neste dia que rezamos com Maria, Nossa Senhora:
«Manifestou o poder do seu braço *
E dispersou os soberbos.Derrubou os poderosos de seus tronos *
E exaltou os humildes.»
Os meus parabéns pelo 50º aniversário de vida sacerdotal do padre Martins Júnior... E à comunidade da Ribeira Seca, estendo o meu abraço e que Jesus de Nazaré vos anime na fé e na coragem de serem sempre Igreja à luz de Jesus o único Mestre. É essa vibração que nos anima na esperança de que um dia veremos o desejo de Deus (e o nosso), «todos somos Igreja», concretizado historicamente. Parabéns à comunidade também, por estar a assinalar este dia de forma tão intensa e amiga em relação ao vosso padre.
A primeira vez que
falei com o padre Martins Júnior, já lá vão alguns anos, impressionou-me a
avantajada barba, coisa rara de se ver entre nós. Foi junto da «sua» igreja na
Ribeira Seca, por ocasião de um interessante passeio organizado pelo Padre Mário
Tavares Figueira, que na altura era o meu pároco no Jardim da Serra. Ali estava
o homem de quem tanto se falava.
Hoje cabe-me esboçar
algumas palavras sobre a nossa amizade e admiração pelo trabalho a favor do
povo da Madeira, a propósito da celebração dos seus 50 anos de vida sacerdotal.
Eis o homem, José Martins Júnior, mais conhecido por Padre Martins, uma personagem incontornável nos últimos 50 anos, quer
a nível político e quer a nível religioso da Ilha da Madeira.
Figura controversa no panorama político e religioso regional, amado por uns e
visceralmente detestado por outros. É assim a vida.
Entre as muitas coisas
que aprendi com este homem destaco aquela que mais me tocou e que considero de
elevada sabedoria: «o sangue do padre é o povo». Será por isso que podemos
dizer que lhe corre nas veias um sangue que se chama povo. Será esse afinal o
sentido, o único sentido para a vida, o sentido para tanta entrega ao povo.
Seguindo este pensar os
dissabores são infindáveis. As perseguições um pão nosso quotidiano, porque o
sacerdócio-serviço ao modo do Evangelho do «nosso» Jesus de Nazaré irrita
solenemente os que fazem do povo o objecto da «vã glória de mandar». Este modo
de ser ao jeito do «nosso» Cristo que não tinha assento no Sinédrio nem entre
os Sumos-sacerdotes do Templo de Jerusalém, não trás benesses nem muito menos
títulos honoríficos. Pelo contrário, quem toma o exemplo Daquele que acompanhava
publicamente com os excluídos, tratados por pecadores, tem um destino traçado,
a censura dos senhores do mundo, os do tempo e do templo, que se aliançam
sempre contra aqueles que tomam o partido dos mais fracos desta vida.
O Padre Martins
revela-nos uma história de vida onde fica claro que a mensagem cristã não é
serviço a nenhum poder mas bem o contrário, é indignação com uma sociedade que
tem os pobres como legitimação do poder e da vontade de dominar, ele é revolta
de todo género de subjugação e exploração do homem pelo homem, ele é luta pela
justiça, ele é inconformismo perante o pensamento único, ele sempre foi acção e
compromisso, ele é convicção de ideais e valores que sabe serem os únicos que
produzem a paz e a felicidade para todos.
Uma voz lúcida perante
as imensas vozes caixas-de-ressonância, que só sabem ser voz do pensamento
único, do chefe, das hierarquias e dos ditames partidários e da nomenclatura
religiosa. Muitas vezes uma voz isolada, solitária a «pregar» no deserto do
vazio de ideias, de pensamento e de verdade. Mas necessária e importante como
sinal de que vale muito a luta contra séculos de alianças e manipulação dos poderes
face aos mais fracos e indefesos da sociedade. Esse conluio encontrou um
«guerreiro» vigoroso na pessoa do Padre Martins.
No auge da sua entrega
ao povo que amava, quiçá a precisar de apoios de quem o devia dar por dever de
função, intenta antes retirar-lhe a legitimidade por decreto (só papeis) para
fazer sangrar-lhe das veias o «sangue». Não chegou, porque a fidelidade ao povo
(o seu «sangue») ditou a força e a coragem para continuar ao seu lado com maior
determinação. É nisto que se faz hoje o sentido da Páscoa de Jesus Cristo.
José Luís Rodrigues
1 comentário:
Bom dia
Graças a Deus que existem homens sem medo, corajosos e sem medos do poder político. D. Januário Torgal Ferreira foi uma das vozes e foi bastante incomodado pela sua coragem.
O Padre Martins é outro que se deu a uma causa nobre e que fala sem peias nem meias palavras. Representa a esperança do povo oprimido pela classe política e faz renascer em cada cristão essa luz de se inconformarem com tudo o que os poderosos nos impõem.
Parece-me que é tempo de toda a Igreja acordar e fazerem os políticos tremem no poder. É preciso fazer-lhes sentir que tudo tem limites e o compadrio e a pouca vergonha têm de acabar.
É tempo de correr com todos quantos se apoderam do poder para se banquetearem com a miséria e a exploração humana.
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