O
encantamento da relação amorosa é das coisas mais belas que Deus criou, mas
depois disso descobrir-se que a relação vai assentar na base da vingança, vemos
emergir um terrível desânimo. Mais adiante, depois do corte de relação,
entramos logo no domínio do ódio e do rancor. Mais dois aspetos tenebrosos que
a natureza inventou para colocar em prova o ser homem e o ser mulher nesta
terra de relação. Estes dois filhos da vingança pintam o quadro negro da
humanidade. Esta humanidade cansada de coisas feias que não levam ao prazer, à festa
e à alegria da existência. A vida não pode ser com vingança e não pode ninguém
ser pessoa permanentemente com um coração preenchido com este espírito do mal.
Quando
a vingança toma conta do coração humano, encontramos pessoas amargas e feridas
até ao mais fundo do ser, porque lhes falta o essencial do sentido da vida. A
vingança mata toda a possibilidade do sonho comum da fraternidade. Depois da
vingança nascer o desejo do sonho do amor como elemento crucial para criar a
relação plena que leva à felicidade, está votado à morte. A fraternidade deixou
de ter lugar na existência deste mundo depois do nascimento da vingança.
A
vingança cerceia a realização do eu e do tu e não permite a realização da
reconciliação e muito menos permitirá a festa do perdão, pois, são estes os
elementos verdadeiros do sentido da comum união – a comunidade, que é para
todos os efeitos um valor essencial para a sobrevivência e para a realização
pessoal. A vingança está aí no dia a dia da existência a matar toda a
possibilidade da paz e do entendimento humano.
Para
terminar esta singela reflexão escuto as palavras de António Damásio, o
neurologista, no seu livro o Erro de Descartes, que considera que todas as nossas manifestações e reacções estão
centradas nas emoções. Este estudioso ensina-nos que toda a maldade (a vingança
e inveja) é inevitável, existe em cada canto da vida e do mundo. A vingança, a
inveja, a raiva, o rancor, o ódio e o orgulho são aspetos «perfeitamente
automáticos» - exactamente o que vos referi no início do texto com outras
palavras, é claro. Nenhuma pessoa é toda maldade. O mal é o aspeto ou o momento
circunstancial. O melhor para a vida está no saber «viver com a tragédia e o
privilégio de ter uma regulação automática, compreender essa regulação,
descobrir que há aspetos dessa regulação que são magníficos – que nos levam ao
prazer, à alegria – mas também nos podem levar a atos completamente desvairados
e à violência», diz o mestre das emoções.
Por
fim, a vingança não tem nome na festa da alegria e da felicidade. Por isso,
apesar de vermos este espírito comandar muitos homens e mulheres, acreditamos
para sempre com Fernando Pessoa: «Tudo vale a pena se a alma não é pequena».
1 comentário:
A semente do amor só floresce quando temos a humildade de pedir perdão e de saber perdoar, porque ninguém é melhor do que ninguém, todos nós temos defeitos. Mas há uma coisa indispensável para haver paz, amor e harmonia num casal. fazer exame de consciência e rezar em conjunto ainda que seja uma oração espontânea antes de adormecer. Sem Deus na vida de qualquer casal, o amor transforma-se em ódio.
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