Numa terra indecente como é às vezes a
nossa, faz valer tudo o que não presta, a sabujice, a cunha, a «bilhardice» que
acusa outros perante os chefes, o jeitinho como regra para chegar ao fim os
intentos egoístas e por fim a chulice mesmo que isso implique graves prejuízos
para a maioria dos cidadãos pela carga terrível dos impostos.
Tudo isto ser norma e pão quotidiano é
revelador de uma terra pequena e que se chamada de ter um «povo superior», é
apenas um eufemismo patético. Há um deficit de pensamento, uma grave submissão
ao que vai acontecendo. Os sabujos estão em todos os lugares e fazem pensar que
não temos remédio por muito tempo. Há uma ou duas gerações perdidas. Não há
espírito crítico, tudo está bem como o chefe mandou, mesmo que esteja à vista
de todos que mandou mal. Por onde anda a opinião pessoal, que não é regra, mas
é importante e edifica a diversidade, a pluralidade? - O pensamento próprio não
é valor, valor, isso sim, o que consegue agradar, o que se atinge pela bajulice
e pela acusação que se fez contra os outros, tipo o fariseu do Evangelho quando
reza: «Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são
ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por
semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos» (Lc 18, 11-12). Nada
melhor para ilustrar este estado de coisas que nos é dado viver na nossa terra.
Quando emergiu a crise, que alguns pretendem
pintar com cores alegres que disfarcem a tragédia, pensávamos que as coisas se
transformassem e outra luz viesse do fundo das almas para aclarar este escuro
da vida que nos rodeia, mas não, o indivíduo servil, o sabujo vilão dos quatros
costados não aprende, não toma remédio que o redima e salve da letargia em que a
longa hibernação alienante o votou em um determinado momento da história. Não
quer ver, não quer saber, são expressões que se vão escutando. Mais grave
ainda, é que fazer regra de vida a sevandija mesmo que isso custe vender a alma
e atraiçoar a catequese que recebeu in illo tempore.
O que escandaliza não é
o adulador, mas o calado manhoso que só fala em segredo para dizer tudo o que
lhe apetece e com isso levar adiante as suas pretensões, mas o que recusa, o que
esperneia, o que não alinha com a chulice e com todos os mecanismos que o
sistema ainda alimenta. Tempos virão que o adulador será posto na ordem e
finalmente perceberá que o mundo não gira em torno da sua palerma forma de
estar na vida nem muito menos será a sua manhosice a ditar a lei e a ordem.
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