As
palavras do Papa Francisco ontem perante os trabalhadores precários e da
economia informal, migrantes, indígenas, sem-terra e pessoas que perderam a sua
habitação, foram bastante duras e vieram clarificar as coisas em muitos aspectos.
Eis
algo que se sente muito aqui na pequenez madeirense: «Terra, teto e trabalho. É
estranho, mas se falar disto, para alguns parece que o Papa é comunista»,
começou por referir, antes de recordar que «o amor pelos pobres está no centro
do Evangelho».
Recorda
o Papa que afinal esta realidade «Terra, teto e trabalho, aquilo por que lutam,
são direitos sagrados. Reclamar isso não é nada de estranho, é a Doutrina
Social da Igreja», assinalou. Bem lembrado, para que a Doutrina Social da
Igreja Católica deixe de ser um somatório de palavras bonitas que só são lembradas em determinados momentos para depois ficar tudo na mesma.
O
Papa pediu que se
mantenha viva a vontade de construir um mundo melhor, «porque o mundo se
esqueceu de Deus, que é Pai, ficou órfão porque deixou Deus de lado». Aliás
muito interessante este aspecto, porque são muitos os que arrogantemente
defendem que Deus não serve para nada. Daí que não se tenham feito esperar por
leis que retiravam tudo o que fizesse lembrar Deus no coração das pessoas. Aí
temos o resultado, um desrespeito enorme pela dignidade da pessoa humana, o
desencanto das pessoas perante a vida e uma falta enorme do sentido do viver em perspectiva de futuro. Alguns admiram-se
com a taxa elevadíssima de suicídios. Não devia admirar assim tanto, a
perda da dimensão do transcendente conduz ao vazio e ao consequente desecanto
perante a vida, daí que viver ou morrer é a mesma coisa.
No
discurso de cerca de meia hora, o Papa Francisco referiu que a presença dos
Movimentos Populares é um «grande sinal», porque estão no Vaticano para «pôr na
presença de Deus, da Igreja, uma realidade muitas vezes silenciada». E se
falada é apenas por oportunidade e com medo, para que não se levantem as vozes
que acusam quem se interessa por este assunto de comunista. Os bandalhos que andaram a fazer falcatruas em bancos e nos governos deviam ler estas palavras e verem que a sua ganância e o seu egoísmo conduziu o mundo esta tragédia da injustiça que faz vítimas inocentes aos milhões. E deviam ser chamados a restituir tudo o que extorquiram contra as regras e que levou à miséria uma porção enorme de gente por todo o lado, para que viesse uma austeridade tão profundamente desigual como a que estamos viver.
Reparemos
então: «Os pobres não só sofrem a injustiça mas também lutam contra ela»,
precisou. Segundo o Papa, Jesus, chamaria «hipócritas» aos que abordam o «escândalo
da pobreza promovendo estratégias de contenção» para procurar fazer dos pobres
«seres domesticados e inofensivos». Quantas vezes, os pobres se convertem em
números para alimentar os joguetes partidários? Quantas vezes, os pobres são
utilizados para alguns se pavonearem na comunicação social debitando
petulantemente soluções para a vida das pessoas caídas no escândalo da pobreza?
Quantos se servem dos pobres para serem protagonistas de campanhas alimentares,
de ações de caridadezinha barata que não resolve nada, apenas mantém os pobres
na passividade subjugada ao querer de quem se apresenta com o poder de dar ou
não dar? Quantos fazem os pobres são pura e simplesmente o «alimento» para saciar a fome de
poder?
O
Papa também falou ainda sobre os temas da paz e da ecologia, para além das
questões centrais do emprego e da habitação. Disse: «São respostas a um anseio
muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para os seus filhos.
Um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos com
tristeza que está cada vez mais longe da maioria», denunciou o Papa Francisco.
O Papa convidou os
participantes a prosseguirem com a sua luta, «que faz bem a todos». E porque
faz bem a todos também nós em cada lugar da vida devemos demonstrar que estamos
atentos à violência que é não ter condições para levar para casa o pão para
alimentar a sua família. Não há maior pecado do que este. Não há maior escândalo do
que este. Aliás, devia a humanidade inteira andar envergonhada, porque enquanto
existir uma pessoa no mundo que passa fome, não devíamos nos permitir sair
desse estado de vergonha.
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