Todos sentimos algumas vezes na vida a
sensação de solidão: uma solidão de abandono ou de esquecimento, uma sensação
de isolamento. Mas há sempre uma luz a iluminar essas horas: um familiar, um amigo
ou até alguém desconhecido. Há sempre um anjo de bondade, velho ou novo, que
vem trazer um pouco de lenitivo ou de azeite à candeia da esperança. Li há
tempos o relato de um acidente de automóvel. Noite escura. Um casal viajava na
auto-estrada serenamente foi abalroado por um potente automóvel, que os atirou para
a lama da margem, ficando os dois carros desfeitos. O condutor do carro
abalroado conseguiu desprender-se e vir para a estrada pedir ajuda com uma
lanterna. Os carros passavam velozmente. Outros afrouxavam, mas não paravam,
não ofereciam um gesto de solidariedade.
O
homem já sentia revolta pela indiferença egoísta dos que passavam. Mas corrigiu
a sua ideia quando viu aproximar-se um homem com uma lanterna, a verificar se
havia feridos e teria de ir buscar socorro.
Aquela lanterna, naquela hora dramática de
confusão, de incerteza e perigo iluminou a alma daquelas três pessoas sinistradas.
Na vida, acontece muitas vezes isto. Quantas vezes alguém é abalroado
imprevistamente por uma doença, por um desgosto, por um acidente, que deixam a
alma em trevas de angústia. Mas uma simples lanterna – um amigo, um familiar,
alguém – são como a luz do extremo do túnel escuro. Por essa luz renasce tantas
vezes a esperança, a coragem para continuar a lutar. E essa lanterna é a nossa
mão estendida levando ajuda, apoio, serenidade, salvação a qualquer coração
angustiado.
Mário Salgueirinho
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