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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Uma lanterna

Lembrar alguém que nos fazia pensar e rezar a vida quotidiana...
Todos sentimos algumas vezes na vida a sensação de solidão: uma solidão de abandono ou de esquecimento, uma sensação de isolamento. Mas há sempre uma luz a iluminar essas horas: um familiar, um amigo ou até alguém desconhecido. Há sempre um anjo de bondade, velho ou novo, que vem trazer um pouco de lenitivo ou de azeite à candeia da esperança. Li há tempos o relato de um acidente de automóvel. Noite escura. Um casal viajava na auto-estrada serenamente foi abalroado por um potente automóvel, que os atirou para a lama da margem, ficando os dois carros desfeitos. O condutor do carro abalroado conseguiu desprender-se e vir para a estrada pedir ajuda com uma lanterna. Os carros passavam velozmente. Outros afrouxavam, mas não paravam, não ofereciam um gesto de solidariedade.
O homem já sentia revolta pela indiferença egoísta dos que passavam. Mas corrigiu a sua ideia quando viu aproximar-se um homem com uma lanterna, a verificar se havia feridos e teria de ir buscar socorro.
Aquela lanterna, naquela hora dramática de confusão, de incerteza e perigo iluminou a alma daquelas três pessoas sinistradas. Na vida, acontece muitas vezes isto. Quantas vezes alguém é abalroado imprevistamente por uma doença, por um desgosto, por um acidente, que deixam a alma em trevas de angústia. Mas uma simples lanterna – um amigo, um familiar, alguém – são como a luz do extremo do túnel escuro. Por essa luz renasce tantas vezes a esperança, a coragem para continuar a lutar. E essa lanterna é a nossa mão estendida levando ajuda, apoio, serenidade, salvação a qualquer coração angustiado.
Mário Salgueirinho  

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